Investigação

Projeto europeu estuda os usos contemporâneos dos patrimónios de origem colonial

Setembro 2017

No âmbito do programa Horizonte 2020, o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra integra um consórcio para desenvolver o novo projeto de investigação European Colonial Heritage Modalities in Entangled Cities (ECHOES). Conta com um financiamento global de 2,5 milhões de euros, cabendo ao CES cerca de 400 mil euros para participar nesta pesquisa que se desenvolverá ao longo de três anos, a partir de 1 de fevereiro de 2018.

ECHOES parte de um dilema crucial da Europa contemporânea, que reside no facto de a história dos impérios coloniais se constituir com base num passado comum que permanece até hoje silenciado nas narrativas oficiais do património. O projeto argumenta que a UE precisa urgentemente de reconhecer esse dilema para progressiva e reflexivamente evoluir para a construção de identidades, memórias e práticas patrimoniais partilhadas. Europeizar uma herança colonial plural e diversa é um compromisso ético e político necessário, no sentido de aceitar o colonialismo como parte da história europeia e não somente como uma questão isolada de diferentes países. Visando confrontar diferentes visões de passados comuns e trazer “o outro” para o centro do debate, ECHOES adota uma perspetiva pós-colonial, conectando cidades europeias e não europeias, analisando práticas patrimoniais e culturais, iniciativas museológicas, explorando desafios e compromissos atuais desse legado.

Sob coordenação de Lorena Sancho Querol e Paulo Peixoto, a participação do CES envolve uma colaboração mais estreita com a UNIRIO, cuja equipa é coordenada por Márcia Chuva, e com as universidades de Copenhaga e de Nuuk (Gronelândia), sendo esta equipa coordenada por Astrid Nonbo Andersen. Unidos pela história, estes dois pares de cidades, Lisboa-Rio e Copenhaga-Nuuk, constituem casos exemplares de práticas patrimoniais formais e informais (cultura popular, festivais, produção artística) que dão lugar a etno-paisagens conectadas por um passado partilhado. Os legados da presença africana nas zonas portuárias de Lisboa e Rio e as novas expressões artísticas de origem gronelandesa e os seus impactes nas representações patrimoniais dinamarquesas são pontos de partida para que os velhos laços coloniais abram caminho as novas paisagens urbanas capazes de refletir a multiplicidade cultural e um conceito de património polifónico, evolutivo e aberto que fomente abordagens identitárias integradas.
 
O projeto procura lançar, assim, um olhar abrangente sobre a diversidade de realidades coloniais, envolvendo, para esse efeito, as universidades de Amsterdão (Holanda), Hull (Reino Unido), Aarhus (Dinamarca), Varsóvia (Polónia), Rennes II (França), Fudan (China), Cape Town (África do Sul) e Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO, Brasil).