EuroREGEN
Redes transnacionais para o desenvolvimento regenerativo na Europa. Uma perspectiva comparada sobre mobilizacao de base e influencia em processos politicos.
A massificação e globalização das cadeias produtivas trazem desafios económicos, ambientais, políticos e de saúde pública que colocam riscos crescentes à segurança em todo o mundo. A escassez de recursos e migrações associadas às alterações climáticas, a volatilidade dos mercados financeiros, a crescente polarização econômica e política e as ameaças a vidas humanas e meios de subsistência colocadas por este contexto exigem soluções de cariz sistémico que promovam resiliência a todos os níveis da sociedade. Tais soluções precisam de transcender a causa raiz destas ameaças: Um paradigma de desenvolvimento que baseia o bem-estar em critérios quantitativos, subestimando a qualidade das relações que constituem os sistemas sociais e naturais.
A abordagem regenerativa do desenvolvimento vai além do paradigma da sustentabilidade, ao encarar os processos naturais e interações humanas como estando sinergicamente ligados e ter como objetivo aumentar a resiliência dos sistemas sociais e naturais. A resiliência é entendida como a capacidade de um sistema se adaptar, transformar e permanecer coeso diante de pressões externas. Esse objetivo é promovido através de uma combinação de estratégias de ecologia regenerativa e de capacitação para interações não violentas e colaborativas entre seres humanos, bem como com a natureza.
EuroREGEN é um projeto financiado pela FCT liderado pelo ISCTE-IUL (Ana Margarida Esteves como PI; Maria Fernandes-Jesus como co-PI), tendo o CES como instituição parceira (Luciane Lucas dos Santos como PI no CES). Este projeto analisa como as redes transnacionais que promovem a transição regenerativa na Europa mobilizam, para além das fronteiras nacionais, Iniciativas de Base Comunitária (CLIs) e estabelecem relações entre estas e as instituições públicas, com o propósito de promover um ambiente institucional adequado para o desenvolvimento regenerativo. Este projeto tem dois objetivos. O primeiro é comparar como os núcleos Europeus das três maiores redes que promovem a abordagem regenerativa do desenvolvimento – Rede Global de Ecoaldeias (GEN), Rede de Transição (TN) e Rede Intercontinental para a Promoção da Economia Social e Solidária (RIPESS) – fazem o framing das demandas dos seus membros, estabelecem alianças e exercem influência sobre processos políticos. O segundo é analisar como os resultados de tais processos são transpostos para as CLIs participantes.
Os estudos de caso foram escolhidos tendo em conta o foco da sua estratégia. GEN e TN promovem uma abordagem bioregional da transição regenerativa, com foco na adaptação das atividades humanas aos limites dos ecossistemas, nomeadamente através da relocalização da produção e consumo e a promoção de economias circulares. Isso inclui tecnologia e redes de transporte e distribuição baseadas em energias renováveis, assim como a reintegração de resíduos nas cadeias de produção. Ambas as redes têm um histórico de promover a difusão horizontal de conhecimento, tecnologia e melhores práticas entre seus membros, além de envolver o Estado na formulação de políticas públicas. Os membros do GEN são sobretudo comunidades intencionais e assentamentos tradicionais, enquanto a TN é principalmente composta por bairros urbanos e periurbanos que se organizam para envolver municípios em planos de transição para a sustentabilidade. A RIPESS, por sua vez, preocupa-se em disseminar e estimular nas CLIs a ela associadas a democracia económica, a regeneração ecológica e a resiliência territorial, promovendo o reconhecimento e apoio institucional de práticas de solidariedade, cooperação e autogestão promovidas pelas comunidades. Suas metodologias baseiam-se na difusão horizontal de conhecimentos e boas práticas por meio de grupos de trabalho virtuais e reuniões presenciais, com o objetivo de promover a emergência de dinâmicas de ação comum. A GEN e a TN são membros fundadores da Rede Europeia de Iniciativas Comunitárias sobre Mudança Climática e Sustentabilidade (ECOLISE), uma estrutura de nível Europeu que envolve redes a nível local, nacional e Europeu, institutos de pesquisa e CLIs na produção coletiva de conhecimento e mediação institucional junto das instituições europeias, com vista ao seu engajamento no desenvolvimento e implementação de políticas públicas. A RIPESS colabora com esta rede desde 2018.
A metodologia deste projeto consiste em: Um questionário a ser aplicado a coordenadores regionais, nacionais e europeus de cada rede; Entrevistas aprofundadas com os coordenadores de um núcleo regional selecionado por cada rede, assim como com os seus coordenadores nacionais, coordenadores Europeus e os coordenadores da ECOLISE; Observação participante das reuniões anuais e/ou semestrais dos núcleos regionais selecionados, assim como das reuniões anuais dos núcleos nacionais e Europeus de cada rede e também da ECOLISE. Estes métodos serão complementados pela análise de documentos produzidos pelas quatro redes e seus interlocutores políticos. O objetivo é teorizar sobre processos políticos na área do desenvolvimento regenerativo, assim como diminuir a distância entre a academia, a prática e as políticas públicas através de outputs dirigidos a estes públicos.
Os resultados serão divulgados na academia - bem como junto a redes, instituições e sociedade civil organizada - através de livros, artigos científicos, relatórios e conferências.
ISCTE-IUL (Instituição proponente)