Projeto de Tese de Doutoramento
Violência urbana em Cabo Verde: o papel dos deportados
Orientação: António Sousa Ribeiro e José Manuel Pureza
Programa de Doutoramento: Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Financiamento: FCT
A emigração constitui, desde meados do século XIX, uma das vias de superação das vulnerabilidades estruturais de Cabo Verde. O arquipélago afirma-se cada vez mais como uma nação diasporizada, com "ilhas exteriores" espalhadas por vários continentes, sendo a comunidade mais expressiva a dos Estados Unidos da América (EUA). As remessas dos emigrantes (a par dos fundos da cooperação internacional) representam, neste contexto, uma das principais fontes de riqueza do país, constituindo-se como uma valiosa "almofada" social no apoio aos familiares que ficam e à dinamização da própria economia.
Apesar das histórias de sucesso dos emigrantes cabo-verdianos, logo a seguir à independência surgem os primeiros casos de deportados (na perspectiva do país de origem são denominados mais frequentemente como repatriados ou retornados). O fenómeno ganhou alguma expressão a partir da década de 80, existindo actualmente um número significativo de deportados/repatriados (cerca de 844, em 2007, segundo dados do Instituto das Comunidades de Cabo Verde). Porque na origem da deportação muitas vezes se encontra a prática de crimes, e porque os deportados enfrentam situações de exclusão no processo de (re)integração no país, eles têm sido frequentemente associados à recente emergência de violência grupal urbana (principalmente, na capital, Praia). Serão os deportados actores directos ou "inspiradores" (modelos) da violência em Cabo Verde? Trata-se de um fenómeno de reprodução de formas de organização criminosa "aprendidas" nos países de acolhimento (sobretudo nos EUA)? Estaremos perante uma nova forma de "violência pós-colonial", na qual os deportados desempenham um papel central? Perante estas questões de partida, que nortearão a investigação, proponho como hipótese de trabalho a seguinte formulação: o regresso forçado dos emigrantes cabo-verdianos, derivado essencialmente da práticas de crimes, tem contribuído para o emergir de uma violência colectiva juvenil, onde se conjugam, entre outros, factores internos relacionados com o desenvolvimento do país, geradores de fenómenos de integração/exclusão social, e factores externos resultantes da adopção de comportamentos "típicos" dos países de acolhimento?