I COLÓQUIO AFRO-PORTUGAL 2024
«Pensar para melhor agir e agir para melhor pensar» | O papel das ideias, imaginários e ações africano-diaspóricas nas transformações globais
8 de novembro de 2024, 10h00-18h00
Faculdade de Letras da UC e CES | Alta
África é pioneira em processos civilizacionais e científicos determinantes para a história da humanidade, destacando-se como um dos maiores centros de conhecimento do mundo. Desde a medicina, a astronomia e a arquitetura até às ciências sociais, artes e espiritualidade, África e a sua diáspora têm desempenhado papéis essenciais no desenvolvimento de ideias e práticas transformadoras que moldam a sociedade global. No entanto, durante muito tempo, assistiu-se a uma produção sistemática de mistificações e falsificações políticas e científicas que, ao reduzi-la à condição de “berço”, petrificaram todo o continente num estado de eterna infância, confinando os seus povos na “zona” dos 'fora da história'.
Neste ano, celebramos o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, líder da luta pela independência panafricana e pela autodeterminação dos povos, que via na recuperação da nossa própria história um dos principais objetivos da sua luta. Também celebramos os 50 anos das independências dos países africanos colonizados por Portugal e os 50 anos do 25 de Abril, a revolução que começou em África. Esta luta, travada tanto no mato quanto no campo das ideias, foi essencial para abrir o caminho de regresso a uma história interrompida.
2024 marca também o fim da Década Internacional dos Afrodescendentes, proclamada pela ONU, que colocou no centro das discussões internacionais as questões do reconhecimento, da reparação e da justiça. Em Portugal, graças à persistência do movimento negro, o tema das reparações tem ganhado cada vez mais relevância, apesar da indiferença do Estado em relação ao programa e às recomendações da Década. Ao mesmo tempo, verifica-se o crescimento da extrema-direita, que tem como alvo de ataques os imigrantes do sul global.
A Agenda 2063 da União Africana, plano estratégico que ambiciona a transformação do continente numa região próspera e integrada, reforça a visão de “A África que Queremos”. O documento sublinha a importância das contribuições da diáspora africana para o desenvolvimento endógeno do continente. A diáspora desempenha um papel fundamental nesse processo, promovendo mudanças significativas, trazendo experiências, conhecimentos e recursos que complementam os esforços locais.
No continente africano, especialmente na região do Sahel, assistimos a mudanças políticas anticoloniais significativas, lideradas por jovens que questionam e agem contra a hegemonia das antigas potências coloniais, como a França. Essa nova geração está engajada em lutas que visam redefinir a soberania e a autodeterminação africanas. A juventude africana, em todo o continente, tem-se mobilizado contra a brutalidade estatal e promovido ideias de transformação com consequências concretas. Essas lutas ecoam nas diásporas espalhadas pelo mundo. Um exemplo recente é a Marcha Cabral em Portugal, organizada por movimentos negros e panafricanos sob o mote “Unidade e Luta contra o Fascismo, a Xenofobia e o Neocolonialismo”, que reflete o compromisso desta diáspora com as causas da África global.
Tem-se dito que, o futuro do mundo está em África, e no âmbito global, as ideias africanas têm ganhado destaque em diversas áreas, da academia às artes, reafirmando a centralidade do continente para o futuro da humanidade. Compreendendo que todos os povos participam na construção desse futuro comum, este colóquio visa destacar as contribuições frequentemente silenciadas da África, afastando-se de discursos utilitaristas e neoliberais em relação ao seu papel.
Objetivo: Promover conversas plurais e engajadas entre académicos, ativistas, artistas e líderes comunitários/as, visando a construção de novas formas de colaboração e ação transformadora.
Com direito a certificado.
Inscrições gratuitas para o email: coloquioafroportugal@gmail.com
Organização: Apolo de Carvalho (Doutorando em Pós-Colonialismo e Cidadania Global, CES/FEUC), Paula Machava (Doutoranda em Estudos Feministas, CES/FLUC), Salvador Tito (Doutorando em Literatura de Língua Portuguesa / FLUC), Sumaila Jaló (Doutorando em Discursos: História, Cultura, Sociedade, CES / FLUC)
Com o apoio da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
No âmbito do Festival Afro-Portugal 2024 (Uma organização TAGV, A Escola da Noite, Casa da Esquina).