Conferência

Fugir para lutar. Os estudantes das colónias fogem de Portugal para participar na luta de libertação

21 de junho de 2011, 15h00

Picoas Plaza, Rua de Viriato 13, Lj 117/118, CES-Lisboa

Enquadramento

Ciclo 1961: o ano de todos os perigos

O ano de 1961 foi, para o regime salazarista, o ano de todos os perigos, vindo a revelar-se como o annus horribilis do ditador. Em distintos contextos, múltiplos acontecimentos marcariam esse ano, prenúncio do final do regime colonial-fascista português. Porque uma das linhas de orientação temática do CES aposta no aprofundar do conhecimento sobre o espaço de expressão portuguesa – e sobre as suas ligações históricas – este conjunto de sessões procura reflectir sobre um espaço unido por várias histórias e lutas.

Em 2011 passam 50 anos sobre esse ano de todos os perigos. Boa ocasião para recordar factos muitas vezes esquecidos, ouvindo os seus protagonistas, enquadrando-os na história comum que une Portugal e os países em que se transformaram – ou se integraram – as suas possessões coloniais.

Logo no início de Janeiro de 1961 tem lugar em Angola um levantamento de trabalhadores da Cotonang, protestando contra as condições de trabalho impostas pela companhia algodoeira. Os protestos são rapidamente reprimidos pelo exército português, mas anunciam o início da luta armada de libertação de Angola, marcada pelo ataque à cadeia de S. Paulo, em Luanda, a 4 de Fevereiro e pelo levantamento armado – que Mário Pinto de Andrade classificava como “jacquerie” – conduzido pela UPA em 15 de Março.

Entretanto, a 22 de Janeiro, elementos do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação – congregando militantes da União de Combatentes Espanhóis e do Movimento Nacional Independente, português – apoderam-se do paquete Santa Maria, da Companhia Colonial de Navegação, que rebaptizam de Santa Liberdade, conseguindo uma cobertura noticiosa internacional e abalando profundamente o regime de Salazar.


Em Abril, a crise vem, não da oposição, mas do interior do regime, através da tentativa de golpe liderada pelo Ministro da Defesa, Júlio Botelho Moniz.

Em Junho, cerca de cem estudantes oriundos das colónias portuguesas em África que se encontram em Portugal abandonam clandestinamente o país, muitos deles para se juntarem aos movimentos de libertação.


A abolição do Estatuto do Indigenato, associado a outras reformas, em Setembro, chega demasiado tarde para travar a acção dos movimentos de libertação das colónias, entretanto reunidos na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, CONCP.
A 10 de Novembro, Hermínio da Palma Inácio comanda o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque, a fim de lançar sobre Lisboa milhares de panfletos apelando à revolta contra a ditadura.

A 18 de Dezembro, tropas da União Indiana ocupam os territórios de Goa, Damão e Diu. Salazar ordena que as tropas portuguesas lutem até à última gota de sangue, mas o governador, general Vassalo e Silva, recusa-se a obedecer à ordem do Presidente do Conselho e opta pela rendição.

E, na noite de fim de ano, uma tentativa frustrada de assalto ao quartel de Infantaria 3, em Beja, leva à morte do então sub-secretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca.


Programa

Oradores: Edmundo Rocha, Tomás Medeiros,  Virgínia Liahuca

Filme: “Cuba – Uma Odisseia Africana” de Jihan El Tahri  [França, 2007, 190 minutos]

Sinopse do filme
Entre 1961 e 1991, a África serviu de campo de batalha para quatro adversários com interesses bem definidos. Os Soviéticos queriam estender a sua influência por um novo continente, os Estados-Unidos apropriar-se das riquezas naturais existentes em África, os antigos impérios sentiam vacilar a sua potência colonial e as jovens nações defendiam a sua independência acabada de conquistar. Contra o capitalismo, o socialismo ou o colonialismo, estes povos que pela primeira vez eram senhores dos seus países, tornaram-se uma espécie de terceiro bloco e combateram em nome de um novo ideal: o internacionalismo como arma para assegurar a independência nacional. Todos os jovens revolucionários africanos, como Patrice Lumumba, Amílcar Cabral ou Agostinho Neto, apelaram aos guerrilheiros cubanos para os ajudar na sua luta. E a Cuba de Fidel Castro teve um papel crucial, embora pouco conhecido, na nova estratégia ofensiva das nações do Terceiro Mundo. Por detrás dessa guerra que se disse “fria” e dos seus confrontos “por procuração”, Cuba, uma odisseia africana vai da epopeia trágico-cómica de Che Guevara no Congo até ao triunfo na batalha de Cuito Cuanavale em Angola para contar a história desses internacionalistas, cuja saga ajuda a compreender o mundo de hoje: ganharam todas as batalhas, acabaram por perder a guerra.

Organização: Maria Paula Meneses e Diana Andringa.

Nota: Evento associado ao Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito

Ciclo no âmbito de "2011 – Ano Internacional dos Afro-Descendentes".

Para mais informações contactar ceslx@ces.uc.pt .