Conferência

A floresta é cheia de vida...Primeiros passos da luta armada de libertação nacional. Conflitos UPA/MPLA. Em Moçambique, a oposição branca procura o seu caminho...

Eduardo Medeiros

Manuel dos Santos Lima

16 de abril de 2011, 15h00

Picoas Plaza, Rua de Viriato 13, Lj 117/118, CES-Lisboa

Enquadramento

 Ciclo 1961: o ano de todos os perigos


O ano de 1961 foi, para o regime salazarista, o ano de todos os perigos, vindo a revelar-se como o annus horribilis do ditador. Em distintos contextos, múltiplos acontecimentos marcariam esse ano, prenúncio do final do regime colonial-fascista português. Porque uma das linhas de orientação temática do CES aposta no aprofundar do conhecimento sobre o espaço de expressão portuguesa – e sobre as suas ligações históricas – este conjunto de sessões procura reflectir sobre um espaço unido por várias histórias e lutas.

Em 2011 passam 50 anos sobre esse ano de todos os perigos. Boa ocasião para recordar factos muitas vezes esquecidos, ouvindo os seus protagonistas, enquadrando-os na história comum que une Portugal e os países em que se transformaram – ou se integraram – as suas possessões coloniais.

Logo no início de Janeiro de 1961 tem lugar em Angola um levantamento de trabalhadores da Cotonang, protestando contra as condições de trabalho impostas pela companhia algodoeira. Os protestos são rapidamente reprimidos pelo exército português, mas anunciam o início da luta armada de libertação de Angola, marcada pelo ataque à cadeia de S. Paulo, em Luanda, a 4 de Fevereiro e pelo levantamento armado – que Mário Pinto de Andrade classificava como “jacquerie” – conduzido pela UPA em 15 de Março.

Entretanto, a 22 de Janeiro, elementos do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação – congregando militantes da União de Combatentes Espanhóis e do Movimento Nacional Independente, português – apoderam-se do paquete Santa Maria, da Companhia Colonial de Navegação, que rebaptizam de Santa Liberdade, conseguindo uma cobertura noticiosa internacional e abalando profundamente o regime de Salazar.


Em Abril, a crise vem, não da oposição, mas do interior do regime, através da tentativa de golpe liderada pelo Ministro da Defesa, Júlio Botelho Moniz.

Em Junho, cerca de cem estudantes oriundos das colónias portuguesas em África que se encontram em Portugal abandonam clandestinamente o país, muitos deles para se juntarem aos movimentos de libertação.


A abolição do Estatuto do Indigenato, associado a outras reformas, em Setembro, chega demasiado tarde para travar a acção dos movimentos de libertação das colónias, entretanto reunidos na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, CONCP.
A 10 de Novembro, Hermínio da Palma Inácio comanda o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque, a fim de lançar sobre Lisboa milhares de panfletos apelando à revolta contra a ditadura.

 

A 18 de Dezembro, tropas da União Indiana ocupam os territórios de Goa, Damão e Diu. Salazar ordena que as tropas portuguesas lutem até à última gota de sangue, mas o governador, general Vassalo e Silva, recusa-se a obedecer à ordem do Presidente do Conselho e opta pela rendição.


E, na noite de fim de ano, uma tentativa frustrada de assalto ao quartel de Infantaria 3, em Beja, leva à morte do então sub-secretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca.

 

Programa

Conferencistas:

Manuel dos Santos Lima (Angola)

Eduardo Medeiros (Moçambique)

Projecção do filme: Lumumba, Raoul Peck (2000)

 

Notas biográficas

Manuel dos Santos Lima: Natural do Bié,  nascido a 28/6/1935, Manuel dos Santos Lima foi o primeiro aluno negro admitido na Escola Pública de Vila Teixeira de Sousa( Luau). Em Lisboa, para onde veio fazer o liceu, além de frequentar a Faculdade de Direito, foi membro activo da Casa dos Estudantes do Império e colaborador literário do seu orgão "Mensagem". Mais tarde, na Suíça, na Faculdade de Letras da Universidade de Lausanne, torna-se Doutor em Literatura Comparada, de que é professor.

Em 1956, participou em Paris, com Castro Soromenho, Mário e Joaquim Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos e Aquino de Bragança, no "1º Congresso Internacional de Escritores e Artistas Negros", organizado pela revista "Présence Africaine", que reuniu intelectuais e homens de cultura afro-negro-americana, como Alioune Diop, Aimé Césaire, Franz Fanon, Cheik Anta Diop, Richard Wright.

Em 1958,  foi o primeiro negro angolano a tornar-se oficial do Exército Português, mas, em 1961, alferes-comando, desertou para se juntar ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Nesse mesmo ano fundou o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), de que foi instrutor e primeiro Comandante. Foi também membro do Comité Director do MPLA, como chefe do Departamento da Guerra.

Essa experiência será relatada, anos mais tarde, no romance "As Lágrimas e o Vento”.
 

Eduardo Medeiros: Licenciatura em Antropologia na Universidade de Bruxelas. Doutoramento na Universidade de Coimbra. Professor na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique (1976-1998) e Professor na Universidade de Évora (1999-2008). Membro e colaborador de vários Centros de Estudos Africanos, Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, fundador do Núcleo de Estudos sobre África, em Évora. Orientador de teses de Mestrado e de Doutoramento. Com estudos específicos sobre as sociedades matrilineares e sobre o Islão negro no norte de Moçambique, e também sobre as comunidades chinesas em Moçambique na época colonial. Com várias publicações. 

 

Sinopse do filme

O filme retrata a ascensão e queda de Patrice Lumumba, líder lendário da luta pela independência do antigo Congo Belga, actual República Democrática do Congo. Lumumba, então com 36 anos de idade, foi o primeiro chefe de governo do recém-independente Zaire(1960), acabando brutalmente assassinado meses depois.  A partir de revelações documentais recentes Raoul Peck propõe uma re-leitura da história de Patrice Lumumba, expondo-o como o heróico cordeiro sacrificado, duvidosamente retratado pelos media internacionais e assassinado com a conivência de interesses estrangeiros e da sua própria administração. 


Organização: Maria Paula Meneses e Diana Andringa.

 

Nota: Evento associado ao Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito

 

Ciclo no âmbito de "2011 – Ano Internacional dos Afro-Descendentes".

 

Para mais informações contactar ceslx@ces.uc.pt .