POLICREDOS - Religiões e Sociedade
Seminário | GRUPO DE TRABALHO POLICREDOS
Autos sem fé: Mulheres condenadas pela Inquisição em Portugal
Elizama Almeida
Mafalda Lalanda
10 de outubro de 2023, 17h00 (GMT+1)
Evento em formato digital
Moderação: Clara Keating (FLUC/CES)
Apresentação
No primeiro dia de agosto de 1568 – era domingo – Maria Antónia, Teodora Henriques, Antónia Nunes e Filipa Lourenço foram julgadas pelo Tribunal do Santo Ofício de Coimbra. Ouviriam juntas a leitura do auto de fé que as condenava.
Maria, judia, apenas foi liberada para poder cuidar do seu marido doente por dois meses em Buarcos, devendo voltar de imediato à prisão em Coimbra. Teodora, de Condeixa, seria instruída na fé católica. Antónia, acusada genericamente por blasfémias, teve de ouvir a sua punição com uma vela acesa a derreter na mão. Filipa, condenada a nunca mais sair de Coimbra, era moradora em Lamego, no norte do país; não mais veria seus amigos, vizinhos ou família. No seu processo, encontra-se a seguinte nota: “Tinha dentro um livro de poesia”. Assim como não há história muda, não há arquivo mudo: Maria, Teodora, Antónia e Filipa não são uma ficção. Elas representam um recorte factual das mulheres nos processos da Inquisição de Coimbra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT).
Cobrindo o período de 1541 a 1821, os mais de 10 mil processos da Inquisição de Coimbra, sob a guarda do ANTT, estão descritos e disponibilizados online. A partir da análise de cerca de 500 documentos, foram selecionados perfis representativos das mulheres sentenciadas, procurando nesse levantamento mais do que o mero papel. A noção de rede é o nosso meio de transporte.
Iniciado em 2020, Autos sem fé é um projeto de investigação baseado na experimentação artística que se estrutura em três pontos: (1) teórico, pela perspetiva histórica-crítico-feminista seguida de uma discussão sobre a materialidade da cultura e a digitalização das humanidades; (2) metodológico, pela pesquisa em arquivo, extração de informação e manipulação de dados; (3) e artístico, pela vocalização do arquivo através de um ciclo de leituras encenadas, simultaneamente participativas e interventivas, no espaço público – sendo que até ao momento o projeto conta com três sessões realizadas, duas delas com co-produção TAGV e 23 Milhas. Este projeto integra o MatLitLab, o laboratório de Humanidades do programa de doutoramento em Materialidades da Literatura, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Notas biográficas
Elizama Almeida é doutoranda no programa Materialidades da Literatura da Universidade de Coimbra. É membra do Conselho Internacional de Museus (ICOM) e do conselho científico da Biblioteca Geral da UC Coimbra. Pesquisadora do Instituto Moreira Salles, faz parte do grupo de estudos lacuna no arquivo.
Mafalda Lalanda é motivada por projetos de investigação baseados na experimentação artística e interdisciplinar. É doutoranda em Materialidades da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Enquanto bolseira FCT, tem procurado escutar a literatura e pensar com os ouvidos. Do seu percurso interartes fazem parte a dança, o conservatório de música, a rádio e a edição de livros.
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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis > https://zoom.us/j/81766402248 | ID: 817 6640 2248 | Senha: 125921
Agradecemos que todas/os as/os participantes mantenham o microfone silenciado até ao momento do debate. A/O anfitriã/ão da sessão reserva-se o direito de expulsão da/o participante que não respeite as normas da sala.
As atividades abertas dinamizadas em formato digital, como esta, não conferem declaração de participação uma vez que tal documento apenas será facultado em eventos que prevejam registo prévio e acesso controlado.