POLICREDOS - Religiões e Sociedade

SEminário | GRUPO DE TRABALHO POLICREDOS

Espíritos, espectros e visagens: diálogos interdisciplinares

Gabriela Lages Gonçalves

Inês Nascimento Rodrigues

7 de dezembro de 2022, 15h00 (GMT)

Evento em formato digital

Moderação: Lior Zisman Zalis (CES)


Apresentação

É certo que desde os Espectros de Marx  (1993) de Jacques Derrida, as ciências sociais passaram a ocupar-se cada vez mais da figura dos espectros e dos fantasmas. Tamanha foi a atenção que certa literatura passou a denominar este campo como “hauntology”, na sua versão anglófona ou "espectrologia" em contextos lusófonos. Ora utilizadas como recurso metafórico, ora referindo-se a sujeitos políticos, sociais e históricos não humanos, entidades que aqui podemos identificar genericamente de espectros ou visagens têm multiplicado heurísticamente as dinâmicas sócio-políticas e temporais nos mais variados âmbitos dos estudos culturais e sociais. Especialmente no campo da literatura, porém não exclusivamente, o arco fenomenológico destas figuras e seres têm perturbado certos racionalismos intrínsecos aos fundamentos das teorias sociais. Por outro lado, a perturbação nas bases acompanha a edificação de outras, uma vez que “levar a sério” a presença espectral tem permitido dinamizar novas potências do papel da memória, da transmissão do passado e construção de futuros. Não é casual, portanto, que os estudos da memória, com seu amplo leque disciplinar, tenham incorporado cada vez mais a figura destas entidades como cifra cognitiva das possibilidades analíticas do diálogo entre os habitantes de múltiplos tempos. Tampouco é casual que, na antropologia e na sociologia, os espectros, entidades e divindades variadas têm orientado a novos horizontes onto-epistémicos e a visibilização de comunidades pluriontológicas.

Contudo, naquilo que tem sido chamado de “virada espectral” nas ciências sociais vemos, como em muitos destes concentrados platôs de teoria, uma predominância de análises que partem de certas cartografias nas quais predominam vocabulários e conceitos em língua inglesa. Uma das consequências da economia política do conhecimento dinamizada por certas línguas é, dentre outras, a invisibilização de certos contextos que poderiam contribuir para a construção desse campo. Identificar e preencher essa lacuna não apenas permitiria uma oxigenação, mas também a expansão da figura dos espectros como sujeitos sócio-culturais e histórico-políticos.
Com o intuito de abrir caminho para um debate que traz contextos espectrais do Sul Global, um debate feito em português, buscamos também dinamizar vocabulários próprios, conceitos que orientam tramas e encarnações singulares a estas experiências. A partir da pesquisa de Inês Nascimento Rodrigues sobre o contexto de São Tomé e Príncipe, e de Gabriela Lages Gonçalves, a partir de pesquisa etnográfica desenvolvida em São Luís, Maranhão (BR), analisaremos preocupações recentes no campo das ciências sociais que buscam descentralizar o humano das perspectivas analíticas, encontrando outros refluxos existenciais que emergem quando vemos além da neurose do antropocentrismo. Questionamentos sobre a ontologia desses seres intangíveis, suas manifestações, contribuições para a construção e reconstrução do passado, presente e futuro, bem como seu papel ativo como sujeitos políticos desenvolve um campo próprio que merece maior atenção nas humanidades.

 

Notas biográficas

Inês Nascimento Rodrigues (Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra) é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Integra a equipa de coordenação do Observatório do Trauma do CES e, entre 2020 e 2022, co-coordenou o grupo de investigação NHUMEP - Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz. Integra o projecto "CROME - Memórias Cruzadas, Políticas do Silêncio: as guerras coloniais e de libertação em tempos pós-coloniais", coordenado por Miguel Cardina e financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. É doutorada em Pós-colonialismos e Cidadania Global pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia). A sua dissertação, publicada em livro pela Afrontamento (Espectros de Batepá. Memórias e narrativas do Massacre de 1953 em S. Tomé e Príncipe, 2018) venceu a 11.ª edição do Prémio CES para Jovens Cientistas Sociais de Língua Portuguesa. É editora de recensões e membro do Conselho Editorial da revista Práticas da História. Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past e integra o Conselho de Redação da e-cadernos CES.

Gabriela Lages Gonçalves (Universidade de São Paulo) é doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós- graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP). É mestra e graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente é colaboradora do LEAP - Laboratório de Estudos de Antropologia da Política (UFMA) e do ASA - Artes, Saberes e Antropologia (USP). Tem se dedicado à análise de narrativas, manifestações artísticas e formas expressivas, patrimônios, (i)materialidades, agências humanas e não humanas.

Lior Zisman Zalis (Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra) é doutorando em Pós-Colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra com o projeto "Espiritualidades Insurgentes e Políticas Encantadas", financiado pela Fundação para a Ciência e para a Tecnologia. Neste âmbito, é investigador colaborador do Grupo de Trabalho POLICREDOS (CES) e do LEAP. Possui Mestrado em Estudos Comparados de Literatura, Arte e Pensamento pela Universidad Pompeu Fabra (2019), formação em Teoria Crítica e Estudos Museológicos pelo Programa de Estudos Independentes do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona - MACBA (2018) e licenciatura em Direito com especialidade em “Estado e Sociedade” pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) (2016). Trabalhou como investigador no Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio em projetos no campo dos estudos da memória, justiça transicional e monitoramento de violações aos direitos humanos na ditadura militar brasileira, e colaborou com espaços como o MACBA, Hangar, La Escocesa, entre outros.

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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis > https://us02web.zoom.us/j/89456131636 | ID: 894 5613 1636 | Senha: 856208

Agradecemos que todas/os as/os participantes mantenham o microfone silenciado até ao momento do debate. A/O anfitriã/ão da sessão reserva-se o direito de expulsão da/o participante que não respeite as normas da sala.

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