Seminário | IX Ciclo Anual Jovens Cientistas Sociais

Cravos e Camélias: uma sinfonia dissonante. Práticas musicais e dinâmicas de género em Portugal na transição para a democracia

Helena Lopes Braga (Centro de Estudos em Sociologia e Estética da Música - FCSH/UNL)

19 de novembro de 2014, 17h00

Sala 2, CES-Coimbra

Comentadoras: Ana Cristina Santos e Luciana Silva


Resumo

A música é um produto social, feito por pessoas, para pessoas, sendo ao mesmo tempo estruturante e estruturada pelas várias camadas de dinâmicas de poder que perpassam qualquer tecido social. As particularidades vividas em Portugal durante o Estado Novo refletiram-se por isso na vida musical nacional, seus intervenientes, e respetivos discursos e práticas. Os feminismos, que pulverizavam algumas elites, imiscuíram-se na vida musical, através das redes de sociabilidade de algumas das suas intervenientes. Não obstante, nunca houve em Portugal, ao contrário do que aconteceu noutros países europeus, qualquer tipo de associação mais ou menos formal de mulheres músicas.

Na transição para a democracia, o que mudou? Terá havido alguma alteração significativa na forma como o género, enquanto instrumento de gestão social, se tem vindo a articular desde então nos discursos e nas práticas musicais? E hoje, que tipo de dinâmicas de género encontramos disseminados por estes discursos e práticas?

Ao analisarmos dinâmicas de género subjacentes às práticas musicais, não podemos subvalorizar todo o contexto social português: as contingências que continuamente obscureceram as mulheres, relegando-as individual e coletivamente ao esquecimento, mediante reiterações binárias de género, também se refletem nas narrativas historiográficas posteriores e na forma como a própria academia continua a encarar os estudos sobre as mulheres, os estudos de género, a teoria queer.

Nesta comunicação percorreremos alguns momentos do século XX português, recorrendo a estudos de caso e análise de imprensa. Incluirei ainda um breve comentário ao tecido musicológico nacional, no que respeita a estudos de género e música.


Nota biográfica

Helena Lopes Braga estudou piano e canto no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, cidade onde nasceu, em 1983. Esteve ligada ao teatro, quer na representação, quer na direção e produção nalguns grupos dramatúrgicos bracarenses. Licenciada em Ciências Musicais (Muito Bom) e Mestre em musicologia histórica (foi bolseira Luiz Kruz) pela FCSH, UNL, tem desenvolvido investigação em género, sexualidades e sociabilidades no século XX português. É vice-presidente da SPIM, Sociedade Portuguesa de Investigação em Música (2013-2016), co-fundadora do NEGEM, Núcleo de Estudos em Género e Música, e do LSM, Laboratório de Sociologia da Música, ambos pertencentes ao CESEM, Centro de Estudos em Sociologia e Estética da Música, FCSH, UNL. Apresenta-se com alguma regularidade a solo e em vários coros, dá aulas de piano e canto e toca no único grupo português de gamelão, Yogistrag0ng.