Teses Defendidas

Tarrafal: discursos cruzados na genealogia do Campo de concentração. A resistência ao esquecimento.

Sandra Inês Cruz

Data de Defesa
1 de Julho de 2025
Programa de Doutoramento
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Orientação
Margarida Calafate Ribeiro , Roberto Vecchi e Nazir Ahmed Can
Resumo
Este trabalho integra-se no processo de recuperação da memória do Tarrafal enquanto espaço de encarceramento. Chegado ao presente como o mais violento chão de degredo instituído pelo Estado Novo para castigo dos seus opositores, o Tarrafal sobrevive na memória coletiva como prisão política designada nos discursos oficiais como Campo de concentração. A presente investigação assenta no rastreio de esquecimentos que lhe indefinem os contornos, problematizam o nome, questionam a excecionalidade e deixam aberto um vasto espaço de reflexão em torno do uso da memória do Tarrafal em homenagens, comemorações e musealização. Partindo dos silêncios nos testemunhos de antigos prisioneiros e dos indícios de ausências várias disseminadas pelo arquivo, a pesquisa desenvolveu-se pelo cruzamento desses sinais, buscando concretizar esquecimentos. Múltiplas fontes de informação foram cartografadas, associando à produção memorialística existente novos depoimentos de prisioneiros e complementando os registos oficiais (regionais, nacionais e internacionais) com informação proveniente de iniciativas civis de preservação da memória, notícias de jornais, artigos de opinião e manifestações em redes sociais, sítios na web, catálogos e guias de exposições, museus e acervos pessoais. Tudo foi apreciado à luz da legislação em vigor à época dos acontecimentos. A redisposição interpretativa destas narrativas articula uma genealogia do Tarrafal que permite entrever um Campo menos resistente, mais diverso, mais ambíguo, mais excecional, mais amplo. A lista de prisioneiros foi aumentada. Às duas fases conhecidas de funcionamento da prisão (Colónia Penal de Cabo Verde/Campo de Trabalho de Chão Bom), juntaram-se outras duas; considerado o Presídio do Tarrafal que recebeu, no mesmo espaço, presos de delito comum naturais do arquipélago, e o encarceramento de dezenas de homens, por motivos políticos, já depois do 25 de abril (1974-1975), o Tarrafal funcionou ininterruptamente durante 39 anos como lugar de privação da liberdade. Documentados múltiplos esquecimentos que se perderam entre a ação do tempo e leituras direcionadas para a resistência política, é possível, partindo do Campo de Concentração, empreender uma reflexão sobre o particularíssimo modo de exercício de poder do Estado Novo.

PALAVRAS-CHAVE: Tarrafal, Degredo, Memória, Esquecimento, Estado Novo.