Teses Defendidas

Pedagogia da Articulação: A Universidade Popular dos Movimentos Sociais e a ecologia de saberes na prática

Fabio André Diniz Merladet

Data de Defesa
20 de Julho de 2020
Programa de Doutoramento
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Orientação
Boaventura de Sousa Santos e Sara Araújo
Resumo
O presente trabalho, inspirado pelas epistemologias do Sul, pela educação popular e pelas perspectivas pós-coloniais, versa sobre a Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), uma experiência contra-hegemônica de universidade proposta em janeiro de 2003, durante a 3ª edição do Fórum Social Mundial. A UPMS define a si mesma como um bem comum dos movimentos sociais na luta por outro mundo possível e constitui um espaço para o aprofundamento da reflexão, do debate democrático de ideias, da formulação de propostas, da troca livre de experiências e do diálogo e articulação para ações eficazes de ativistas, intelectuais, artistas, entidades, organizações e movimentos sociais locais, nacionais e globais que se opõem ao neoliberalismo, ao colonialismo, ao patriarcado e a todas as formas de opressão. Uma experiência pedagógica, epistemológica e política de inteligibilidade recíproca entre as lutas sociais, de produção coletiva de conhecimentos contra-hegemônicos e de articulação da diversidade de saberes e práticas que se erguem a favor da dignidade.

A partir do questionamento sobre a capacidade da UPMS de contribuir para a construção de uma ecologia de saberes na prática, este trabalho procura compreender se a UPMS possibilita a participação plural, horizontal e democrática das experiências contra-hegemônicas do mundo, bem como a aprendizagem e articulação entre elas. Através da sociologia das ausências são analisados os métodos, processos, práticas, dinâmicas e interações da UPMS que tiveram até agora menos visibilidade; e através da sociologia das emergências é avaliado na UPMS o que existe de forma ainda latente enquanto possibilidade para o futuro. Recorro, assim, ao termo pedagogia da articulação para indicar a forma específica que assume a prática educativa nas oficinas da UPMS.

A tese está estruturada em duas partes: na primeira são analisados os alicerces políticos (Fórum Social Mundial), teóricos (esforços críticos anti-imperiais), epistemológicos (epistemologias do Sul) e pedagógicos (educação popular) que fundamentam a UPMS, bem como as singularidades, inovações e possíveis contribuições da UPMS em relação a eles e aos debates e desafios que suscitam. Uma discussão metodológica faz a transição entre as duas partes, descrevendo os percursos, objetivos, hipóteses e opções metodológicas da investigação realizada. Na segunda parte são abordadas as práticas da UPMS através do resgate de sua história, das aprendizagens recíprocas de suas oficinas, das produções coletivas que dela surgem e das formas de articulação por ela possibilitadas. Por fim, a título de conclusão, são apontados os desafios e utopias da UPMS, visando contribuir para o debate sobre o futuro da experiência.

Palavras-chave: pedagogia da articulação; epistemologias do Sul; ecologia de saberes; educação popular; movimentos sociais