Teses Defendidas

O Corpo como Texto: Poesia, Performance e Experimentalismo nos Anos 80 em Portugal

Sandra Guerreiro Dias

Data de Defesa
5 de Fevereiro de 2016
Programa de Doutoramento
Linguagens e Heterodoxias: História, Poética e Práticas Sociais
Orientação
Rui Bebiano , Manuel Portela e Luís Mourão
Resumo
Esta tese de doutoramento cruza três áreas disciplinares - estudos literários, estudos da performance e história da cultura - com vista ao mapeamento da relação entre a arte da performance portuguesa (APP) e a poesia desde o princípio do século XX, incidindo a investigação em particular na sua fase de expansão, a década de 1980.
No enquadramento deste caso de estudo, analisa-se os anos 80 como epifenómeno cultural da contemporaneidade portuguesa, estudando-se a ampliação de um experimentalismo estético e performativo ao modus vivendi cultural da década, nomeadamente à poesia, à música, à moda, à tecnologização e mediatização da cultura, aos consumos culturais e às sociabilidades urbanas. Numa palavra, à revolução pop dos costumes. Os anos 80 são, na sua amplitude, o epicentro histórico da estetização da vida urbana. Em Portugal, este fenómeno pauta-se por um experimentalismo estético identificável numa rede híbrida e eclética de performers de diferentes áreas artísticas, eventos e festivais.
Analisa-se em particular o desenvolvimento da poesia experimental portuguesa (PO.EX) e da performance experimental poética (PEP), mostrando-se a importância de um projeto que, mais do que poético, é intermedial, focando-se numa rede de eventos e protagonistas que têm como ponto de partida da sua atividade artística, a poesia, a performance e o corpo. Para tal, mapeia-se as origens deste experimentalismo poético desde o princípio do século XX, por intermédio de uma base de dados cronológica exaustiva e detalhada da APP desde 1900 até 1990, sublinhando-se a relevância dos legados futurista, dadá, surrealista e concetual nestas práticas. Apresenta-se uma taxonomia descritiva da APP.
Em seguida, analisa-se, com detalhe, três tipos de festivais que figuram enquanto laboratórios experimentais de práticas performativas ao longo dos anos 80: os festivais de arte, os festivais de arte da performance, e os festivais e eventos de poesia experimental. Analisa-se ainda um conjunto de tendências da PEP portuguesa a partir de poetas experimentais como Ana Hatherly, Alberto Pimenta, António Barros, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, Gabriel Rui Silva, Salette Tavares e Silvestre Pestana, entre outros/as.
Procura-se também compreender e questionar o desfasamento entre a efervescência de um ethos cultural celebratório e performativo e a fraca receção do seu legado singular no conjunto das práticas artísticas, na crítica, na institucionalização de um mercado de arte experimental, bem como na formação de públicos. Contribui-se para essa lacuna na dimensão prospetiva e de inventário que este trabalho incorpora e oferece sobre uma dimensão particular da história da cultura e das artes em Portugal. Demonstra-se assim como os anos 80 portugueses são únicos no panorama da história portuguesa recente, conjugando um universo artístico experimental de renovação estética e poética, cuja história, em detalhe, continua por conhecer.

Palavras-Chave:
Arte da Performance; Poesia Experimental; Experimentalismo; Década de 1980; Arte da Performance Portuguesa (APP); Performance Experimental Poética (PEP)