Teses Defendidas
Famílias no mundo digital: Padrões de utilização, ciclo de vida e dinâmica familiar
19 de Outubro de 2022
Programa Interuniversitário de Doutoramento em Psicologia
Ana Paula Relvas
,
Gonzalo Bacigalupe
e
Rita Francisco
As tecnologias digitais têm sido progressivamente incorporadas nas nossas vidas quotidianas. Os avanços tecnológicos e a integração destas no contexto familiar fizeram surgir novos cenários de interação e alteraram os modelos relacionais familiares, criando mudanças sem precedentes nas dinâmicas familiares.
A influência da utilização tecnológica na dinâmica familiar, apesar de ser um tema atual e um tópico de estudo relevante, sobretudo face ao aumento de situações problemáticas resultantes da utilização destas no contexto familiar, revela na literatura uma ambivalência de resultados e foca-se em etapas específicas do ciclo de vida da família. Contribuindo para o conhecimento científico e prática clínica, propusemo-nos caracterizar a utilização das tecnologias digitais pelas famílias portuguesas e analisar a sua relação com a dinâmica familiar em distintas etapas do ciclo vital familiar, através de quatro estudos sequenciais.
No primeiro estudo, começamos por perceber o estado da arte para termos um referencial teórico sobre a influência das tecnologias digitais no funcionamento familiar, refletimos sobre as suas limitações e possíveis linhas de investigação futura. Seguiu-se a elaboração do projeto de investigação que marcou, globalmente, o ponto de partida deste trabalho.
No segundo estudo, com uma amostra de 950 indivíduos de nacionalidade portuguesa, construímos e validámos um instrumento multidimensional sobre a utilização das tecnologias digitais e o seu impacto a nível familiar, o Questionário de Utilização das Tecnologias de Informação e da Comunicação (QUTIC). Este permitiu-nos operacionalizar a utilização das tecnologias em várias dimensões e caracterizar a utilização destas em três padrões de utilização individual: os Não-utilizadores, os Utilizadores avançados, e os Utilizadores instrumentais e de entretenimento/sociais. Foram identificados os principais problemas familiares face à utilização das tecnologias e aferida uma escala de atitudes relativa à perceção global do impacto destas tecnologias no contexto familiar. Os resultados desta escala em torno da média sugerem um equilíbrio na perceção de influências positivas e negativas das tecnologias na vida das famílias, ultrapassando a tradicional visão dicotómica que acentua os riscos face aos benefícios da sua utilização.
O terceiro e quarto estudos englobaram a aplicação de um protocolo de autorresposta integrando instrumentos que permitiram avaliar diversas variáveis: o funcionamento familiar, a qualidade de vida familiar, os rituais familiares, o número de tecnologias utilizadas, o tipo de tecnologias utilizadas, a frequência de utilização das tecnologias, o contexto de utilização das tecnologias, a finalidade de utilização das tecnologias, os problemas familiares decorrentes da utilização das tecnologias e o impacto global da utilização das tecnologias no contexto familiar. O terceiro estudo incidiu sobre a análise da influência das tecnologias digitais no funcionamento das famílias, em diversas etapas do ciclo de vida familiar. Assim, numa amostra de 564 indivíduos, verificamos que a utilização da tecnologia varia consoante estas etapas e que quanto maior o número de tecnologias usadas diariamente, mais favoráveis são as percepções sobre o funcionamento familiar. Isto foi notório nos casais recém-formados e nas famílias com filhos pequenos que se revelaram os maiores utilizadores diários de tecnologias. Mas, a interação entre as tecnologias digitais e o funcionamento familiar não se revelou moderada por estas etapas.
No quarto estudo, recorrendo a uma amostra de 825 indivíduos da população geral portuguesa, analisámos o impacto da utilização das tecnologias digitais na dinâmica familiar (avaliada nas dimensões do funcionamento familiar, qualidade de vida familiar e rituais familiares), e adicionalmente, construímos um modelo sistémico compreensivo desta interação. Os resultados mostraram que um maior número de situações problemáticas vividas no contexto familiar face à utilização das tecnologias está associado a perceções da qualidade de vida e do funcionamento familiar menos satisfatórias.
Este trabalho permitiu conhecer melhor quem são os utilizadores das tecnologias digitais em Portugal, os seus perfis de utilização tecnológica e a perceção que têm do impacto que estas utilizações têm no contexto familiar, nas etapas do ciclo de vida das famílias e em função dos padrões exibidos. Espera-se que os resultados possam servir de inspiração em futuras investigações e que possam ser aplicados na prática clínica, não só na identificação de situações familiares problemáticas, mas sobretudo na implementação de estratégias de prevenção e intervenção mais ajustadas aos desafios que a utilização das tecnologias digitais coloca continuamente às nossas famílias.
Palavras-chave: Tecnologias digitais; Padrões de utilização tecnológica; Ciclo de vida familiar; Dinâmica familiar
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
A influência da utilização tecnológica na dinâmica familiar, apesar de ser um tema atual e um tópico de estudo relevante, sobretudo face ao aumento de situações problemáticas resultantes da utilização destas no contexto familiar, revela na literatura uma ambivalência de resultados e foca-se em etapas específicas do ciclo de vida da família. Contribuindo para o conhecimento científico e prática clínica, propusemo-nos caracterizar a utilização das tecnologias digitais pelas famílias portuguesas e analisar a sua relação com a dinâmica familiar em distintas etapas do ciclo vital familiar, através de quatro estudos sequenciais.
No primeiro estudo, começamos por perceber o estado da arte para termos um referencial teórico sobre a influência das tecnologias digitais no funcionamento familiar, refletimos sobre as suas limitações e possíveis linhas de investigação futura. Seguiu-se a elaboração do projeto de investigação que marcou, globalmente, o ponto de partida deste trabalho.
No segundo estudo, com uma amostra de 950 indivíduos de nacionalidade portuguesa, construímos e validámos um instrumento multidimensional sobre a utilização das tecnologias digitais e o seu impacto a nível familiar, o Questionário de Utilização das Tecnologias de Informação e da Comunicação (QUTIC). Este permitiu-nos operacionalizar a utilização das tecnologias em várias dimensões e caracterizar a utilização destas em três padrões de utilização individual: os Não-utilizadores, os Utilizadores avançados, e os Utilizadores instrumentais e de entretenimento/sociais. Foram identificados os principais problemas familiares face à utilização das tecnologias e aferida uma escala de atitudes relativa à perceção global do impacto destas tecnologias no contexto familiar. Os resultados desta escala em torno da média sugerem um equilíbrio na perceção de influências positivas e negativas das tecnologias na vida das famílias, ultrapassando a tradicional visão dicotómica que acentua os riscos face aos benefícios da sua utilização.
O terceiro e quarto estudos englobaram a aplicação de um protocolo de autorresposta integrando instrumentos que permitiram avaliar diversas variáveis: o funcionamento familiar, a qualidade de vida familiar, os rituais familiares, o número de tecnologias utilizadas, o tipo de tecnologias utilizadas, a frequência de utilização das tecnologias, o contexto de utilização das tecnologias, a finalidade de utilização das tecnologias, os problemas familiares decorrentes da utilização das tecnologias e o impacto global da utilização das tecnologias no contexto familiar. O terceiro estudo incidiu sobre a análise da influência das tecnologias digitais no funcionamento das famílias, em diversas etapas do ciclo de vida familiar. Assim, numa amostra de 564 indivíduos, verificamos que a utilização da tecnologia varia consoante estas etapas e que quanto maior o número de tecnologias usadas diariamente, mais favoráveis são as percepções sobre o funcionamento familiar. Isto foi notório nos casais recém-formados e nas famílias com filhos pequenos que se revelaram os maiores utilizadores diários de tecnologias. Mas, a interação entre as tecnologias digitais e o funcionamento familiar não se revelou moderada por estas etapas.
No quarto estudo, recorrendo a uma amostra de 825 indivíduos da população geral portuguesa, analisámos o impacto da utilização das tecnologias digitais na dinâmica familiar (avaliada nas dimensões do funcionamento familiar, qualidade de vida familiar e rituais familiares), e adicionalmente, construímos um modelo sistémico compreensivo desta interação. Os resultados mostraram que um maior número de situações problemáticas vividas no contexto familiar face à utilização das tecnologias está associado a perceções da qualidade de vida e do funcionamento familiar menos satisfatórias.
Este trabalho permitiu conhecer melhor quem são os utilizadores das tecnologias digitais em Portugal, os seus perfis de utilização tecnológica e a perceção que têm do impacto que estas utilizações têm no contexto familiar, nas etapas do ciclo de vida das famílias e em função dos padrões exibidos. Espera-se que os resultados possam servir de inspiração em futuras investigações e que possam ser aplicados na prática clínica, não só na identificação de situações familiares problemáticas, mas sobretudo na implementação de estratégias de prevenção e intervenção mais ajustadas aos desafios que a utilização das tecnologias digitais coloca continuamente às nossas famílias.
Palavras-chave: Tecnologias digitais; Padrões de utilização tecnológica; Ciclo de vida familiar; Dinâmica familiar