Teses Defendidas

Corpos extra-ordinários no desporto: uma leitura pós-humana crítica sobre a regulação da hiperandrogenia e identidades trans

Ana Lúcia Santos

Data de Defesa
22 de Julho de 2022
Programa de Doutoramento
Estudos Feministas
Orientação
Ana Cristina Santos
Resumo
O desporto de competição convencional é um espaço genderizado que reproduz a organização da sociedade assente em expectativas de sexo binário a nível biológico e comportamental. O mundo desportivo contribui, assim, para a reprodução e regulação daquilo que o biólogo Gerald Callahan designou por "mito dos dois sexos". Várias atletas veem a sua sexualidade ser colocada em questão por possuírem características físicas consideradas demasiado masculinas acompanhadas por desempenhos desportivos acima da média. Se ter um corpo sexualmente não normativo é motivo de curiosidade social e disciplina médica, a "masculinidade feminina" (Halberstam, 1998) fica especialmente sob suspeita quando a performance da atleta atinge valores superiores aos expectáveis. Visando alegadamente promover o fair play nas competições femininas, várias organizações desportivas apresentam normas para a admissão de atletas com hiperandrogenia e/ou trans que implicam testes de verificação sexual e procedimentos médicos. Este tipo de regulação é uma prática de longa data que foi sofrendo alterações desde a década de 1930, passando da observação da genitália e exames ginecológicos a testes cromossomáticos e, mais recentemente, estudos hormonais. Tomando como ponto de partida a história passada e a atual regulação sexual no desporto, com recurso a documentos produzidos por instituições desportivas e a entrevistas com pessoas relacionadas ao universo desportivo, pretendo conhecer em profundidade estas políticas, determinar a sua pertinência e refletir a possibilidade de outros paradigmas de competição situados num contexto de pós-modernidade. Através de um percurso teórico-empírico interdisciplinar, com contributos a partir da Sociologia do Desporto, da Biologia, dos Estudos Queer e de correntes pós-humanistas será possível chegar à problematização dos esquemas de pensamento dualistas que têm contribuído para a manutenção de um sistema que tenta separar corpo de tecnologia, masculino de feminino, branco de negro. Esta problematização permite suspender a ideia de sujeito humano ocidentalizado a partir do qual o universo desportivo se organizou para, então, enveredar por uma epistemologia que considera o/a atleta contemporâneo/a enquanto sujeito imerso numa realidade pós-humana e tecnológica.

Palavras-chave: desporto, hiperandrogenia, trans, verificação de sexo, pós-humanismo