Teses Defendidas

A monumentalização e a musealização da Guerra Colonial Portuguesa

André Caiado

Data de Defesa
23 de Maio de 2025
Programa de Doutoramento
Patrimónios de Influência Portuguesa
Orientação
Miguel Cardina e Roberto Vecchi
Resumo
Este estudo examinou a monumentalização e a musealização da Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). O principal objetivo consistiu em analisar representações, imagens, mensagens, imaginários e discursos públicos sobre esse evento histórico, gerados a partir dos dois processos. Trata-se de uma investigação sobre políticas, produtos e práticas de memória que pretende dar um contributo para a reflexão sobre fenómenos contemporâneos conectados com passados imperiais e guerras coloniais. O trabalho situa-se na interseção entre os Estudos de Memória, a Museologia e a História. A tese desenvolve uma abordagem transdisciplinar e assume o conceito de monumentalização como guião analítico dos processos de memorialização examinados. Entende-se aqui a monumentalização como a promoção de empreendimentos memoriais, através dos quais se procura conferir visibilidade pública e nobilitar a memória da Guerra Colonial e dos antigos combatentes portugueses. Demonstrei como os processos de monumentalização e musealização têm sido configurados como um património memorial dos agentes e comunidades que os têm promovido. São uma expressão do poder destas comunidades para se representarem a elas próprias. O trabalho explora os usos políticos do passado na contemporaneidade, examinando a (re)configuração de narrativas públicas sobre tempos e eventos pretéritos, enquanto (re)construções de visões (parciais e seletivas) do passado que determinados atores sociais e comunidades querem transmitir e perpetuar. Para tal, analisa-se o papel de diferentes agentes no estabelecimento destes processos e a forma como moldam narrativas públicas e representações sobre a guerra, em espaços museológicos e na via pública, através da construção de monumentos. Procurar-se-á compreender como a sua intervenção se articula com objetivos pessoais ou coletivos e reivindicações políticas, sociais ou associativas. Em primeiro lugar, procedo a uma análise diacrónica do processo de construção de 521 monumentos, desde o seu início à atualidade (1963-2024). Entre as várias dimensões abordadas, destaco a evolução das propostas escultóricas e iconográficas; as representações da guerra e do Império Colonial Português; e as dinâmicas sociais que sustêm a monumentalização. Dedicarei especial atenção a monumentos construídos recentemente que projetam na via pública imaginários imperiais. Observarei o modo como alguns deles têm vindo a ser apropriados e (in)contestados por determinados atores sociais e comunidades e identificarei as motivações dos promotores que impulsionaram a sua edificação. Procurarei também examinar as ideologias, visões do passado e discursos vertidos nos monumentos. A partir desta recolha e sequente análise das fontes, refletirei sobre os usos dos monumentos e as motivações que levam os agentes de memória a mobilizar determinadas representações do passado no presente. Em segundo lugar, analiso a forma como o conflito e quem nele combateu tem vindo a ser representado em museus ou coleções visitáveis das Forças Armadas Portuguesas, associações de militares e veteranos e no Museu da Guerra Colonial. Esperando contribuir para a reconfiguração da musealização do conflito, lançam-se propostas e interrogações para a discussão sobre os caminhos que podem ser explorados. O estudo pretende ainda desafiar um conjunto de representações hegemónicas sobre a Guerra Colonial e o colonialismo português. Tendo em conta que os processos e produtos mnemónicos são vetores de transmissão de conhecimento (e não apenas de memórias) sobre passados históricos e de (re)configuração de narrativas identitárias, com as quais comunidades e grupos se reveem, advogo a aplicação de uma pedagogia da memória, na forma como se memorializa a Guerra Colonial, visando fornecer perspetivas mais abrangentes e historicizadas sobre os fenómenos históricos abordados.

Palavras-Chave: estudos de memória de guerra, património memorial, políticas de memória, rememoração da guerra, usos do passado.