Teses Defendidas

A escrita dobra a imagem. Daniel Blaufuks e a construção da pós-memória

Ana Pires Quintais

Data de Defesa
28 de Julho de 2015
Programa de Doutoramento
Linguagens e Heterodoxias: História, Poética e Práticas Sociais
Orientação
António Sousa Ribeiro e Manuel Portela
Resumo
A investigação realizada teve como objecto alguma da produção artística do português Daniel
Blaufuks à luz do conceito postulado por Marianne Hirsch de "pós-memória". Na formulação
do termo, Hirsch propõe determinadas directrizes de orientação que estabelecem e definem
um quadro teórico que pode ser utilizado como ferramenta analítica perante certas expressões
artísticas e literárias. Foi, precisamente, este o corpus teórico utilizado para investigar e
enquadrar o trabalho artístico de Blaufuks, testando simultaneamente as potencialidades e
fragilidades do termo cunhado por Hirsch. Verificou-se que as obras analisadas obedecem aos
pressupostos concebidos para o trabalho de pós-memória, incluindo o artista português num
círculo designado de geração pós-memorial. Esta geração tematiza acontecimentos históricos
e de carácter traumático, caracterizando-se, por exemplo, pela utilização da imagem fotográfica
na sua expressão artística. A fotografia funciona como um meio de transmissão de um trauma
que foi recebido através dos pais e/ou avós, testemunhas dos eventos catastróficos que
causaram o trauma. Dentro da geração de artistas e escritores pós-memoriais destacaram-se
W.G. Sebald e Georges Perec, autores que têm grande influência sobre a obra e o percurso
de Daniel Blaufuks. Procurou-se identificar elementos comuns e estabelecer as relações que
mostrassem as estratégias artísticas e literárias pós-memoriais nos três autores. De entre
estes elementos, sublinha-se uma ideia de memória de família, veiculada através da utilização e
reinvenção artística do álbum de família, e o destaque dado a determinados objectos, nos quais
se inscreve a fotografia, e que se afiguram como objectos de testemunho. Outro tema importante
diz respeito a uma ideia de arquivo, que é formulada através de "um impulso de arquivo",
e que se liga não só à presença de um passado no presente mas que confronta o sujeito com
uma busca interior. Neste cruzamento entre escrita e imagem, biografia e memória, arquivo e
deslocamento, clarificaram-se conceitos e definiram-se linhas de leitura que permitiram refinar
e consolidar os pressupostos teóricos do trabalho de pós-memória.