Teses Defendidas
A dimensão intrínseca: validade do conceito de proporção na arquitetura portuguesa a partir de meados do século XX
22 de Março de 2022
Arquitetura
Vítor Murtinho
A presente investigação visa analisar a validade do conceito de proporção - enquadrado apenas na genealogia euclidiana de labor artesanal, isto é, de recurso a instrumentos simples de fácil manejamento manual no âmbito da geometria do plano - na prática do projeto arquitetónico contemporâneo, balizando o objeto de estudo no universo português a partir de meados do século XX.
Dominante no curso da história da arquitetura embora questionado teoricamente a partir do século XVII, este é um conceito que, muito por força de uma fação algo obsessiva e especulativa atuante em fase avançada do século XIX e primeira metade do século XX, viu o preconceito anunciar-lhe a decadência teórica atirando o tema para a obscuridade. Enaltecida no passado, a proporção de linhagem clássica, agora confrontada com o novo paradigma pós-moderno (avesso a meta-narrativas), há décadas que parecia não encontrar o seu lugar. O termo, como veremos, mostrando desde cedo uma persistente dificuldade de
definição, tendeu à opção pela sua significação estrita (sistémica), contribuindo não só para o sedimentar de ideias erróneas, como para ocultar as suas múltiplas camadas, isto é, a sua inesgotável riqueza. Na teoria, preconceitos delineados em três grandes frentes incutiram a prevalência de um clima de desconfiança. Contribuições dos sistemas proporcionais recentes mais significativos, embora celebrados pela valia intelectual, acabariam por ver-se simultaneamente questionados tanto nos seus propósitos de universalidade como de sistematicidade. O desconforto da regra, lida como fórmula, surtia contestação ignorando as reais potencialidades das ferramentas. No exercício da prática, contudo, o trabalho foi-se desenvolvendo em silêncio, comprovando capacidades de renovação.
Enquanto pesquisa eminentemente analítica, foram selecionados nove dos arquitetos portugueses de maior reconhecimento para observação de metodologias diferenciadas, particularizadas em duas obras por autor: João Álvaro Rocha, João Mendes Ribeiro, Raúl Hestnes Ferreira, João Luís Carrilho da Graça, Manuel Tainha, Gonçalo Byrne, Aires Mateus, Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira. Uma amostra suficientemente robusta para a validação do conceito na contemporaneidade, expondo simultaneamente um traço de caráter da arquitetura portuguesa. Conforme veremos, uma dimensão intrínseca ressoa na composição dos exemplos analisados, num trabalho que se expande dos sistemas proporcionais à manipulação dos sistemas geométricos, extrapolando igualmente para a subtileza de estratégias mais vastas, capazes de instituir ordenação e significado a uma resolução equilibrada entre as partes e o todo. Uma contribuição técnica, instigadora à supremacia poética.
Partindo de uma análise crítica ao estado da arte, enquanto meio à formulação justificada da problemática, a tese objetiva-se no exercício da análise, um processo cumprido como trabalho de laboratório visando delinear diretrizes instrumentais e metodológicas, passíveis de confirmar a validade da proporção para o exercício da arquitetura na atualidade. Uma síntese conclusiva define a nota de fecho, servindo de base a investigações futuras com vista a uma revisão atualizada da teoria.
Confirmada essa validação, vêem-se descodificados instrumentos e métodos capazes de fornecer pistas valiosas à prática profissional do arquiteto de hoje, ancorando o tema numa continuidade clássica com o passado, capaz de vislumbrar vínculos sólidos para o futuro da disciplina.
Palavra-chave: Proporção; Geometria; Arquitetura
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
Dominante no curso da história da arquitetura embora questionado teoricamente a partir do século XVII, este é um conceito que, muito por força de uma fação algo obsessiva e especulativa atuante em fase avançada do século XIX e primeira metade do século XX, viu o preconceito anunciar-lhe a decadência teórica atirando o tema para a obscuridade. Enaltecida no passado, a proporção de linhagem clássica, agora confrontada com o novo paradigma pós-moderno (avesso a meta-narrativas), há décadas que parecia não encontrar o seu lugar. O termo, como veremos, mostrando desde cedo uma persistente dificuldade de
definição, tendeu à opção pela sua significação estrita (sistémica), contribuindo não só para o sedimentar de ideias erróneas, como para ocultar as suas múltiplas camadas, isto é, a sua inesgotável riqueza. Na teoria, preconceitos delineados em três grandes frentes incutiram a prevalência de um clima de desconfiança. Contribuições dos sistemas proporcionais recentes mais significativos, embora celebrados pela valia intelectual, acabariam por ver-se simultaneamente questionados tanto nos seus propósitos de universalidade como de sistematicidade. O desconforto da regra, lida como fórmula, surtia contestação ignorando as reais potencialidades das ferramentas. No exercício da prática, contudo, o trabalho foi-se desenvolvendo em silêncio, comprovando capacidades de renovação.
Enquanto pesquisa eminentemente analítica, foram selecionados nove dos arquitetos portugueses de maior reconhecimento para observação de metodologias diferenciadas, particularizadas em duas obras por autor: João Álvaro Rocha, João Mendes Ribeiro, Raúl Hestnes Ferreira, João Luís Carrilho da Graça, Manuel Tainha, Gonçalo Byrne, Aires Mateus, Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira. Uma amostra suficientemente robusta para a validação do conceito na contemporaneidade, expondo simultaneamente um traço de caráter da arquitetura portuguesa. Conforme veremos, uma dimensão intrínseca ressoa na composição dos exemplos analisados, num trabalho que se expande dos sistemas proporcionais à manipulação dos sistemas geométricos, extrapolando igualmente para a subtileza de estratégias mais vastas, capazes de instituir ordenação e significado a uma resolução equilibrada entre as partes e o todo. Uma contribuição técnica, instigadora à supremacia poética.
Partindo de uma análise crítica ao estado da arte, enquanto meio à formulação justificada da problemática, a tese objetiva-se no exercício da análise, um processo cumprido como trabalho de laboratório visando delinear diretrizes instrumentais e metodológicas, passíveis de confirmar a validade da proporção para o exercício da arquitetura na atualidade. Uma síntese conclusiva define a nota de fecho, servindo de base a investigações futuras com vista a uma revisão atualizada da teoria.
Confirmada essa validação, vêem-se descodificados instrumentos e métodos capazes de fornecer pistas valiosas à prática profissional do arquiteto de hoje, ancorando o tema numa continuidade clássica com o passado, capaz de vislumbrar vínculos sólidos para o futuro da disciplina.
Palavra-chave: Proporção; Geometria; Arquitetura