Teses Defendidas
O Trágico do Estado pós-colonial. Pius Ngandu Nkashama, Sony Labou Tansi e Pepetela
21 de Maio de 2012
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Margarida Calafate Ribeiro
e
Roberto Vecchi
A minha hipótese principal reside no seguinte: a leitura de vários autores do Sul deu-me a impressão de estar perante obras que evidenciavam um trágico com características intrínsecas, um trágico que me parecia em parte fruto do choque/encontro colonial. Apenas em parte, pois pareceu-me que a condição trágica de várias personagens também se devia ao contexto social representado nestas obras, o que gostaria de chamar, com o estatuto de hipótese provisoriamente não errada, de trágico da poscolónia. A escolha da preposição («da») importa bastante, pois remete já para o campo da representação e não da experiência/realidade social que conotaria uma preposição de lugar. De facto, o meu projecto tem a ver com representações literárias e não com a análise sociológica de uma dada realidade.
Por outro lado, uma leitura atenta de Bourdieu e Said convenceu-me de que muitas obras mantêm laços complexos, alguns evidentes, outros menos, com as sociedades nas quais nasceram. Ou seja, se um romance ou uma peça oferece um facho de significações mais ou menos óbvias, é ao mesmo tempo um bem simbólico cuja riqueza polissémica se entende através de uma leitura articulada. Os significados de um texto - entendido no seu sentido mais lato: romance, peça, filme - encontram-se a meu ver na articulação, ou junção, entre estudos literários e estudos do discurso, história, ciência política Este tipo de abordagem talvez seja mais pertinente num contexto onde os próprios autores relacionam em boa parte a sua produção com a sociedade na qual está a ser produzida (mesmo quando os lugares da ficção nos remetem para um referente fictício). Se certos textos reflectem, mais do que outros, uma dada sociedade, seria na minha opinião errado considerá-los um objecto meramente social, que supostamente cristaliza um momento no continuum histórico de uma sociedade determinada. Pois, se a obra é, em parte, um reflexo, é, antes de mais, um objecto estético, que distribui as suas significações através de estratégias discursivas e retóricas.
Tenciono trabalhar um corpus composto por textos de três autores oriundos de três países da África equatorial que evidenciam na minha hipótese o trágico da poscolónia: Cercueil de luxe e La peau cassée (2006), La parenthèse de sang e Je, soussigné cardiaque (2002), Théâtre 1 (2002), Théâtre 2 (1995), Théâtre 3 (1998), Antoine m'a vendu son destin (1997) de Sony Labou Tansi (República do Congo), L'empire des ombres vivantes (1991), May Britt de Santa Cruz (1993), La rédemption de Sha Ilunga (2007), Bonjour Monsieur le Ministre! (2007) de Pius Ngandu Nkashama (República Democrática do Congo, RDC) e Predadores (2005), Jaime Bunda e a morte do Americano (2003), Jaime Bunda, agente secreto (2001), A Gloriosa família (1997), A Geração da Utopia (1992), Mayombe (1980) de Pepetela (Angola). Estes autores fazem parte do núcleo duro da minha pesquisa. Para o seu estudo recorrerei a um conjunto de trabalhos realizados sobre a sua obra. Para Tansi destaco: Lezou/N'Da (2003); Diop/Garnier (2007). Sobre Nkashama: Riva (2006), Tcheuyap (2007). Sobre Pepetela: Chaves/Macedo (2002); Rothwell (2004), Venâncio (2005), Henighan (2006), Nóbrega/ Mora (2007).
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
Por outro lado, uma leitura atenta de Bourdieu e Said convenceu-me de que muitas obras mantêm laços complexos, alguns evidentes, outros menos, com as sociedades nas quais nasceram. Ou seja, se um romance ou uma peça oferece um facho de significações mais ou menos óbvias, é ao mesmo tempo um bem simbólico cuja riqueza polissémica se entende através de uma leitura articulada. Os significados de um texto - entendido no seu sentido mais lato: romance, peça, filme - encontram-se a meu ver na articulação, ou junção, entre estudos literários e estudos do discurso, história, ciência política Este tipo de abordagem talvez seja mais pertinente num contexto onde os próprios autores relacionam em boa parte a sua produção com a sociedade na qual está a ser produzida (mesmo quando os lugares da ficção nos remetem para um referente fictício). Se certos textos reflectem, mais do que outros, uma dada sociedade, seria na minha opinião errado considerá-los um objecto meramente social, que supostamente cristaliza um momento no continuum histórico de uma sociedade determinada. Pois, se a obra é, em parte, um reflexo, é, antes de mais, um objecto estético, que distribui as suas significações através de estratégias discursivas e retóricas.
Tenciono trabalhar um corpus composto por textos de três autores oriundos de três países da África equatorial que evidenciam na minha hipótese o trágico da poscolónia: Cercueil de luxe e La peau cassée (2006), La parenthèse de sang e Je, soussigné cardiaque (2002), Théâtre 1 (2002), Théâtre 2 (1995), Théâtre 3 (1998), Antoine m'a vendu son destin (1997) de Sony Labou Tansi (República do Congo), L'empire des ombres vivantes (1991), May Britt de Santa Cruz (1993), La rédemption de Sha Ilunga (2007), Bonjour Monsieur le Ministre! (2007) de Pius Ngandu Nkashama (República Democrática do Congo, RDC) e Predadores (2005), Jaime Bunda e a morte do Americano (2003), Jaime Bunda, agente secreto (2001), A Gloriosa família (1997), A Geração da Utopia (1992), Mayombe (1980) de Pepetela (Angola). Estes autores fazem parte do núcleo duro da minha pesquisa. Para o seu estudo recorrerei a um conjunto de trabalhos realizados sobre a sua obra. Para Tansi destaco: Lezou/N'Da (2003); Diop/Garnier (2007). Sobre Nkashama: Riva (2006), Tcheuyap (2007). Sobre Pepetela: Chaves/Macedo (2002); Rothwell (2004), Venâncio (2005), Henighan (2006), Nóbrega/ Mora (2007).