Teses Defendidas

Black Articulations in Military Dictatorships: Peru and Brazil (1968-1982)

Ana Júlia França Monteiro

Data de Defesa
18 de Junho de 2024
Programa de Doutoramento
Human Rights in Contemporary Societies
Orientação
Silvia Rodríguez Maeso
Resumo
Este estudo teve como objetivo apresentar uma contribuição para a memorialização da Améfrica Ladina desde a perspetiva da história do movimento negro nas Américas. Para isso, investiguei as articulações conduzidas por organizações e indivíduos, tomando como ponto de partida os Congressos de Cultura Negra das Américas. O mapeamento dessas redes e os debates realizados dentro e ao redor dos congressos levaram ao estudo de dois contextos domésticos, Brasil e Peru, entre 1968 e 1982, quando ambos os países estavam passando por ditaduras militares. Nesse sentindo, o mapeamento se mostra importante para a compreensão dos congressos como parte de um exercício de memorialização.

Por Améfrica Ladina (Gonzalez, 1988) compreende-se o arcabouço simbólico e físico das contribuições das populações negras das Américas, que permite colocá-las no centro das discussões históricas e políticas para resgatar o papel fundamental desses povos na construção das Américas. Nesse sentido, a noção de Améfrica Ladina de Gonzalez é compreendida como uma manifestação possível dentro do espaço do Atlântico Negro (Gilroy, 1993), que representa o legado dos povos africanos em diáspora. Esses conceitos possibilitam o entendimento dos Congressos de Cultura Negra das Américas enquanto manifestações concretas da Améfrica Ladina produzidas dentro do Atlântico Negro, o qual Gilroy (1993, p. xi) aponta como um "mesmo mutável".

Por meio de uma abordagem transnacional, esta tese analisa esses encontros, promovidos por articulações negras, para compreender como os intelectuais e ativistas da Diáspora Africana nas Américas e em contextos domésticos específicos agiam sob regimes autoritários. Baseei-me em trabalho de campo realizado entre 2019 e 2022 que consistiu na realização de entrevistas em profundidade e compilação de documentos coletados de arquivos públicos e privados nos dois países. Entre as organizações identificadas como centrais para a realização da pesquisa podemos citar: o Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas; o Instituto de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros; a Fundación Colombiana de Estudios Folclóricos, o Centro de Estudios Afro-Colombianos, e o Instituto de Estudios Afroperuanos. Personalidades, como os irmãos Nicomedes e Victoria Santa Cruz; Abdias do Nascimento; Clóvis Moura e Manuel Zapata Olivella também são pessoas chave nesse mapeamento.

Através dos depoimentos e das fontes escritas foram identificadas situações de censura por vias burocráticas no contexto do regime militar brasileiro, exemplificado pelas inúmeras investidas do Ministério das Relações Exteriores/ Itamaraty e de outras instituições do regime militar contra a organização dos Congressos de Cultura Negra. No contexto peruano, observou-se a promoção da cultura negra pelo regime militar de Velasco Alvarado em prol de um projeto nacional pluricultural, exemplificada pela realização de eventos como o Festival de Arte Negro de Cañete, o suporte financeiro para grupos de dança afro-peruana ou o envolvimento de artistas e intelectuais nas políticas culturais do regime.

Os achados compõem o quebra-cabeça de como algumas dessas articulações negras, compostas por personalidades e organizações, foram capazes de disseminar um discurso contra-hegemónico que desafiou os discursos nacionalistas, por meio de um diálogo que perpassa o político e o cultural, promovendo o reconhecimento das populações negras na Améfrica Ladina.

Palavras-chave: Améfrica Ladina; Atlântico Negro; Ditaduras Militares; Congressos de Cultura Negra; Peru e Brasil