Teses Defendidas

Objetos feitos de cancro: a cultura material como pedaço de doença em histórias de mulheres contadas pela arte

Susana de Noronha

Data de Defesa
19 de Dezembro de 2012
Programa de Doutoramento
Governação, Conhecimento e Inovação
Orientação
João Arriscado Nunes e Boaventura de Sousa Santos
Resumo
Através de uma reflexão em torno dos objetos e materialidades que ganham forma e relevo em projetos artísticos referentes à experiência feminina do cancro, este texto propõe conceitos alternativos de cultura material e doença oncológica. Rejeita-se uma separação ou diferenciação entre dimensões materiais e intangíveis na doença, entendendo-se os objetos de cultura material como pedaços de cancro, ou seja, enquanto partes constitutivas das ideias, sensações, emoções e gestos que fazem a experiência do corpo doente. Objetos hospitalares, domésticos e pessoais, de uso coletivo ou individual, onde se incluem materialidades descartáveis, vestuário, mobiliário, equipamento e máquinas, compõem uma lista de realidades que se encastram nas experiências do corpo em diagnóstico, internamento, tratamento, reconstrução, remissão, recorrência, metastização e morte. Enquanto invólucro das materialidades que a preenchem e completam, procura-se também compreender a forma como a doença oncológica (re)faz os objetos, dos sentidos às experiências que construímos com e sobre os mesmos. Dando nome a esta continuidade indivisa, proponho os conceitos "objeto nosoencastrável" e "doença modular", pretendendo, na forma como defino as coisas, os mesmos encaixes que existem na realidade vivida.
Para compreender a ação, os usos e os sentidos dos objetos que fazem e são pedaços de cancro(s), o campo de trabalho desta investigação abrange as imagens e os textos explicativos de cento e cinquenta projetos artísticos produzidos por ou com mulheres que viveram a experiência desta doença. Expostos na Internet, os exercícios criativos, amadores ou profissionais, de fotografia comercial e artística, pintura, desenho, colagem, modelagem, escultura, costura e tricô servem de terreno narrativo e visual, permitindo-nos encontrar a versão émica dos encaixes entre cultura material e doença. Tocar a continuidade entre objetos e cancros, juntando os saberes do corpo, da arte e da antropologia, assenta numa abordagem teórica e metodológica onde ensaio o potencial heurístico daquilo a que chamo a "terceira metade das coisas e do conhecimento".
Palavras-chave: objetos; cancro(s); mulheres; doença modular; objeto nosoencastrável; a terceira metade das coisas e do conhecimento.