Teses Defendidas

"A ousadia de conviver com a floresta": uma ecologia política do extrativismo na Amazônia

Felipe Milanez

Data de Defesa
17 de Dezembro de 2015
Programa de Doutoramento
Democracia no Século XXI
Orientação
Stefania Barca e Alf Hornborg
Resumo
Esta tese parte de um caso analisador-revelador, o duplo homicídio dos ambientalistas
populares Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, no sudeste do
Pará, na Amazônia Oriental, para investigar as contradições do desenvolvimento, a
violência nos conflitos socioambientais e as estratégias de resistência das classes
subalternizadas na luta pelo comum e pelas alternativas de existência. Articulo uma
perspectiva de investigação descolonial em ecologia política para tentar responder a
diversos questionamentos que surgem a partir de um problema central: Como o modelo de
crescimento econômico na primeira década do século XXI e as políticas ambientais se
relacionam com as instituições democráticas do país? A hipótese com a qual trabalho é que
existe uma contradição entre o papel atribuído às instituições e o modelo econômico
colocado em prática, o que gera uma permanente tensão entre os sentidos do interesse
publico e os benefícios privados, que conduz à associação de interesses antidemocráticos e
limita a prática da política como uma anti-violência. Dentro deste quadro analítico em
ecologia política, investigo a expansão do capitalismo a partir do efeito de compressão do
tempo e do espaço, e a apropriação do tempo-espaço em trocas desiguais globais,
construindo um espaço da extração aonde os obstáculos para o avanço do capital são
removidos violentamente. Para situar localmente a compreensão da violência nos conflitos
socioambientais, proponho uma revisão analítica do espaço sócio-histórico dos castanhais
de Bertholletia excelsa, como um ambiente antropogênico, transformado em um espaço de
conflito territorial com o avanço do capitalismo e os cercamentos. Em uma ecologia dos
saberes, é desenvolvido um procedimento investigativo que busca registrar experiências na
construção de alternativas. Estas alternativas emergem da luta dos movimentos sociais
aprendidos como um processo epistêmico, o qual sustento por uma revisão da formação do
movimento sindical e a construção da ideia do agroextrativismo como uma possibilidade
alternativa de desenvolvimento sustentável em uma luta contra-hegemônica contra a
privatização do comum. O processo de privatização do comum é entendido como um
movimento continuado, violento, e que visa separar a classe trabalhadora das condições
materiais de reprodução. Como principal contribuição, interpreto a "ousadia" como revolta
constituidora do processo de subjetificação na luta pelo comum e pela vida.