Teses Defendidas

Diu, uma História Social da Arquitectura e da Cidade

Nuno Grancho

Data de Defesa
19 de Junho de 2017
Programa de Doutoramento
Patrimónios de Influência Portuguesa
Orientação
Paulo Varela Gomes e Rahul Mehrotra
Resumo
O que é a cidade colonial na Índia? O que é Diu, no contexto da cultura espacial colonial europeia em geral, e da cultura espacial colonial Portuguesa em particular? Como é que as leituras e sínteses do desenho urbano, da arquitectura, e da representação funcionaram para os seus atores contingentes, e como é que estas se 'traduziram' em Diu e no império colonial português?

A dissertação é uma contribuição original que abre uma episteme global e explora o processo de produção do conhecimento, a construção de identidade e a criação de significado político sobre a cidade colonial europeia na Ásia do sul, reconhecendo as condições de colonialismo que produziram em Diu a cidade colonial portuguesa como um 'artefacto' moderno.

A questão de 'identidade' é o cerne do estudo, entendida como descrição, narração, bem como representação da cidade colonial europeia na Índia, interligando a história e a teoria e da arquitectura e do urbanismo com a história da cultura e do pensamento, no que procura ser uma contribuição para o estudo do imperialismo, do colonialismo, da modernidade e da cidade colonial de origem Portuguesa e/ou católica na Índia.

Também destaca a complexidade da relação entre a soberania e a governação portuguesas e o projeto colonial Português em Diu, e estuda a cultura espacial e a prática social na cidade desde o início do século XVI (1514) até meados do século XX (1961), através do olhar informado na história e na teoria da arquitectura e do urbanismo.

Especificamente, descreve um cenário de soberania estratificada que persistiu num 'lugar de fronteira' imperial e continental ao longo do período referido, onde conexões transnacionais informaram, a partir do ponto de vista de uma política urbana nunca inteiramente colonizada, projetos arquitetónicos e urbanos em andamento. Tomando a análise da arquitectura e da cidade colonial como cerne da dissertação, mas estendendo esta à leitura de espaços domésticos e públicos relacionados, o estudo demonstra a natureza complexa da sobreposição entre categorias espaciais e funcionais no contexto colonial.

Alegamos que nunca houve um lugar como Diu quer na história da presença colonial europeia na Índia, quer na história da identidade colonial europeia na Índia, e por fim, na história da cidade colonial europeia na Índia. Ali, os conceitos (culturais) de 'ambivalência' e de 'hibridismo' iniciaram e informaram as identidades arquitetónica e urbana dos impérios europeus no Oriente, em contraste com o aceite como fusão de culturas. Diu é repositório duma história global da cultura material colonial Portuguesa e/ou católica na Índia. Como produtos destes conceitos, foram construídas em Diu as duas 'pedras de toque' da arquitectura colonial Portuguesa no Oriente, na arquitectura militar da Renascença europeia e na arquitectura religiosa Portuguesa e/ou católica.

A questão que trouxemos à luz com a dissertação, tornou aparentes alguns aspetos do estudo da cidade colonial.

Primeiro, questionou a historicização de um axioma historiográfico inteiramente 'naturalizado,' assumido, reproduzido e inquestionado pela historiografia que, direta ou indiretamente fez (e faz) o estudo das cidades coloniais, e depois, agiu como ponto de partida para uma reescrita da cidade colonial Europeia na Índia que transporta a história e a teoria urbanas para além do 'Ocidente.' Mostrou que os conceitos sobre arquitectura e sobre cidade se tornaram claramente cada vez mais deterministas e normativos, e também como, na prática, estes continuaram a ser ponderados por académicos que resistiram à homogeneidade e codificação autoritária singular do espaço. Para este fim, tentámos desafiar pressupostos fundamentais que enquadraram a história da arquitectura e do urbanismo coloniais e contribuir para agendas teóricas mais amplas que destacam como o fazer sentido da vida na cidade colonial, não necessita estar dependente da academia 'ocidental.' Respondemos às preocupações interdisciplinares sobre as disparidades globais do conhecimento e ao reconhecimento da necessidade de apreciar a excecionalidade de Diu dentro do contexto da cidade colonial Europeia na Índia.

Desta forma e neste contexto surgiu um trabalho, onde o tempo discorreu sobre um lugar com o compasso necessário à leitura da sua mudança até à constituição de uma identidade espacial colonial. Diu antecipou (mas não permitiu prever) por quase dois séculos, que os espaços coloniais dos europeus na Índia eram bem mais complexos do que o resultado da mera transferência de uma cidade europeia revelada por simples binários centrados em categorias
(negro/branco, europeu/indígena, religioso/secular, colonizador/colonizado, dominante/dependente e tradicional/moderno). A dissertação mostra que as divisões sociais e espaciais em Diu não foram tão claras quanto alguns estudos têm postulado. Ao invés, aconteceram interconexões contaminadas entre espaços, o 'Português' e o 'Gujarati' onde efetivamente a arquitectura de origem Portuguesa e/ou católica na Índia se relacionou com as circunstâncias do tempo até ao dealbar do império português na Índia: a cidade colonial.

Palavras chave: Diu; Índia; Portugal; Arquitectura; Cidade; Colonial; Império