Seminário
Formas de poder emergentes na África Contemporânea. Actores locais e globais na zona fronteiriça Argélia-Mali
Georg Klute (Universidade de Bayreuth)
31 de janeiro de 2011, 15h00
Sala de seminários (2º piso), CES-Coimbra
Resumo
A transformação da noção de estado é um tópico frequentemente debatido em estudos que abordam a globalização. Isto é especialmente verdadeiro em relação ao continente africano; aqui, a “construção” do estado-nação tem sido confrontada, mais do que em qualquer outro local, com inúmeros desafios. Em determinadas alturas e zonas, as estruturas estatais colapsaram, transformando, assim, a África contemporânea num ícone de degenerescência estatal. Em particular, as periferias e zonas fronteiriças de muitos estados pós-coloniais de África contribuíram para a emergência de formas de poder apátridas locais, o que parece sugerir o final da utopia de estado globalizada.
Ao estudar e observar a zona fronteiriça Algéria-Mali, é colocada a questão se estas novas formas de organização política representam apenas uma reacção à incerteza causada pela fragilidade, ou mesmo ausência, de estruturas estatais ou se estas ordens serão capazes de substituir o Estado a longo prazo.
Presume-se que a própria existência de ordens políticas não-estatais poderá, também, indicar uma especial vitalidade de formas apátridas de poder social e político por legítimo direito ao nível local. É, também, argumentado que a globalização do modelo estatal defronta-se com a persistência de representações locais de ordem e regulação, evidenciando que as sociedades apátridas podem, de facto, resistir ao esmagador poderio do “Leviatã”. No entanto, ficam por analisar algumas questões em aberto, nomeadamente a que tipo de representação de ordem se referem os actores locais e quais são as representações reforçadas em campo e por que grupo de actores. Pode a longevidade dos modelos políticos locais levar à transformação do Estado como o único e excepcional modelo de organização de poder? Ou prevê-se uma forma específica de entrelaçamento entre actores não-estatais e o estado que resultará em configurações políticas heterárquicas em África e noutros lugares?
Nota biográfica
Georg Klute é professor de Antropologia Africana na Universidade de Bayreuth, Alemanha, desde 2003. Os seus interesses de investigação incluem: Antropologia Económica, Antropologia do Trabalho, Antropologia Política, Antropologia da Violência, Etnicidade e Conflitos Étnicos, o Estado em África, a emergência de formas de poder não-estatais, Nomadismo/Nómadas e o Estado, Antropologia Africana. Actualmente, está desenvolver a sua investigação no Sul do Sahara (Algéria, Mali, Nigéria) e na África Ocidental (Guiné-Bissau). As suas mais recentes publicações são as seguintes:
(1) Klute, Georg 2009 (com Katharina Inhetveen) (eds.) 2009, Begegnungen und Auseinandersetzungen. Festschrift für Trutz von Trotha, Köln: Koeppe-Verlag.
(2) Klute, Georg (com Alice Bellagamba) (eds.) 2008, Beside the State. Emergent Powers in Contemporary Africa, Köln: Koeppe-Verlag.
(3) Klute, Georg (com Birgit Embaló, Anne-Kristin Borszik A. Idrissa Embaló) (eds.) 2008, Experiências Locais de Gestão de Conflitos – Local Experiences of Conflict Management, Bissau: INEP.
(4) Klute, Georg (com Hans Hahn) (eds.) 2007, Cultures of Migration. African Perspectives, Münster – Hamburg – Berlin – Wien - London: Lit Verlag.
Nota: No âmbito dos programas de Doutoramento "Direito Justiça e Cidadania" e "Pós-colonialismos e Cidadania Global".