Processos e políticas de patrimonialização na cidade de Safim

Orientação: Filipe Themudo Barata, Sandra Xavier, Ahmed Skounti e Ouidad Tebaa

Programa de Doutoramento: Patrimónios de Influência Portuguesa

Financiamento: FCT

O património, enquanto herança, é uma componente indissociável do desenho e da morfologia das cidades contemporâneas, bem como da formação de uma memória colectiva das comunidades locais. A cidade constitui o cenário de uma construção polifónica1 de identidades, de produção de alteridade e manifestação de discursos e representações plurais. A cidade funciona como uma zona de contacto, um lugar de encontro de diferentes discursos e práticas, lugar de mobilidade, de pluralidade, de complexidade.

O período colonial em Marrocos foi determinante para o desenvolvimento de práticas de patrimonialização, reflexo dos seus mecanismos de poder e conhecimento sobre o território. Esta foi uma importante etapa na produção de modelos, na reprodução e difusão de informação, no planeamento urbano moderno, bem como nos processos de classificação arquitectónica e patrimonial. A transição para a independência colocou à sociedade marroquina o desafio de reinterpretar conceitos e processos e de implementar lógicas próprias de gestão do património na criação da sua própria urbanidade e modernidade.

O projecto de tese que apresento visa a reflexão sobre os processos de patrimonialização das construções arquitectónicas ditas de origem portuguesa na cidade de Safim e a sua expressão nas suas múltiplas representações e apropriações e, consequentemente, na cidade e nas suas dinâmicas sociais. A apropriação do património é uma ferramenta conceptual na formulação de discursos produtores de identidade ou legitimadores de poder.

Estas múltiplas apropriações traduzem-se no desenvolvimento urbano da cidade que integra este património, pelas políticas de actuação, planos urbanos e de salvaguarda, planos estratégicos de desenvolvimento e turismo, diversos discursos e formas de actuação das comunidades locais. A leitura do desenvolvimento do espaço urbano, a partir das representações do património dito de origem portuguesa em Marrocos, desde o período do Protectorado Francês até à actualidade, pretende contribuir para a clarificação de discursos nem sempre complementares ou coincidentes e sobretudo frágeis ou muito fragmentados e para a compreensão das práticas sociais urbanas.

Os discursos multiplicam-se em várias vozes e a vários níveis, sejam eles institucionais ou informais. Esta reflexão pode fornecer ferramentas para a leitura da relação entre os elementos patrimoniais e o espaço urbano nas suas várias dimensões, com o objectivo de interpretar os processos de classificação, salvaguarda e valorização patrimonial.