Seminário

Triangulações dialógicas do/sobre o modernismo brasileiro

Patricia McNeill (CES)

8 de abril de 2014, 18h00

Sala 2, CES-Coimbra

Resumo

Reportando-se à circulação transatlântica e transregional de conceitos, práticas e textos no âmbito do modernismo estético, esta apresentação examina o diálogo com as vanguardas europeias na produção literária e artística da primeira geração de modernistas brasileiros.

Especificamente, considera-se a forma como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila de Amaral apropriaram procedimentos cubistas e expressionistas a fim de expressar a modernidade brasileira, marcada pela heterogeneidade e descontinuidades características de processos de modernização periférica. À luz da renovação do meio cultural nacional operada pelas intervenções artísticas dos modernistas brasileiros, o traslado de elementos estéticos das vanguardas europeias para um ‘Outro’ contexto histórico e cultural de enunciação afigura-se-nos emblemático da devoração nutritiva preconizada pelo conceito de antropofagia cultural proposto por Oswald de Andrade.

Este conceito central do modernismo brasileiro é escrutinado enquanto enunciação performativa de autonomia e diferença cultural que, ao propor modelos de inscrição da arte periférica no circuito cultural global (‘Manifesto da Poesia Pau-Brasil’, 1924) e de resistência ao imperialismo cultural metropolitano (‘Manifesto Antropófago’, 1928), informa e antecipa formulações subsequentes da ‘modernidade periférica’ latino-americana. Por sua vez, a combinação de elementos alienígenas, originários das correntes estéticas modernas europeias, com elementos autóctones operada pelos modernistas brasileiros e veiculada pela antropofagia oswaldiana é aproximada a formulações comparáveis do hibridismo e sincretismo do campo cultural latino-americano, nomeadamente a transculturação literária de Ángel Rama.

Propõem-se igualmente pontos de contato com a poética de William Carlos Williams e formulações contemporâneas do modernismo americano, que revelam continuidades ao nível hemisférico no que diz respeito à indagação da modernidade no contexto das américas.

 

Nota biográfica

Patrícia Silva McNeill é investigadora pós-doutoral no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e no Departmento de Estudos Ibéricos e Latino-Americanos de Queen Mary University of London. O seu projeto de investigação, financiado pela FCT, debruça-se sobre a circulação transatlântica e transregional de conceitos, práticas e textos entre espaços luso-brasileiros e anglo-americanos do modernismo. Previamente, lecionou Introdução à Língua e Literatura de Portugal, Brasil e África Lusófona na Universidade de Cambridge e foi investigadora visitante no Instituto de Estudos Germânicos e Românicos da School of Advanced Study, University of London. É autora de Yeats and Pessoa: Parallel Poetic Styles (Legenda, 2010). Publicações recentes/no prelo incluem capítulos sobre Fernando Pessoa em Fernando Pessoa's Modernity without Frontiers: Influences, Dialogues, Responses (Tamesis, 2013), sobre Eça de Queiroz em The Reception of Charles Darwin in Europe: Literary and Cultural Reception (Bloomsbury, 2014), e sobre representações literárias e cinematográficas de Brasília em Alternative Worlds: Blue-Sky Thinking Since 1900 (Peter Lang, 2014).


Atividade no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP)