Pensar a comida, pensar o mundo

Oficina III

19 de maio de 2020, 15h30-17h30

Evento em formato digital

Programa


Moderação/Discussão: Maria Paula Meneses (CES)
Rita Serra (CES): Alimentos silvestres - apanha de cogumelos silvestres nas florestas portuguesas

Resumo: A comida liga-nos ao mundo através das dinâmicas essenciais para nos mantermos vivos e assegurarmos a nossa posição na cadeia alimentar. Nesta oficina exploramos o potencial dos alimentos silvestres como introdução às relações sócio-ecológicas que têm lugar nas florestas portuguesas, em particular, através dos cogumelos. Comer alimentos silvestres pode ser parte de abordagens de educação ambiental que exploram múltiplas formas das pessoas encontrarem e valorizarem espécies que florescem em espaços cultivados e não cultivados, e que resistem à domesticação. O "selvagem" torna-se mais próximo, habitado por espécies que nos surpreendem e cujas histórias de vida não são inteiramente controladas por nós. Através dos seus nomes, podemos aprender a confiar que nos podem prover e a consumi-las de forma respeitosa, vinculando-nos ao mesmo tempo com as histórias e lutas em curso entre humanos e não humanos que constituem estes lugares.


Pedro Hespanha (CES/FEUC): O comer e o beber no imaginário popular Português

Resumo: Há sessenta anos atrás Portugal permanecia uma sociedade rural, religiosa e distante do poder, com um acesso de modernidade acantonadoa Lisboa, onde o ideal de vida era identificado com “comer, beber e passear na rua”. Esta caricatura ressalta claramente das representações que escritores e artistas nos deixaram desses tempos e que têm sido cuidadosamente inculcadas nas nossas mentes a partir da escola primária, das novelas televisivas e,até mais recentemente, de políticos norte-europeus preocupados com o nosso défice de ambição e pouco empenhamento na construção de uma sociedade de abundância.

A desconstrução de tais representações passa pela compreensão do “estranho”, “irracional” e “diferente” como uma expressão da resistência a um estilo de vida que as classes populares não querem, porque as escraviza em tarefas sem sentido, destrói as suas raízes,os seusespaços de sociabilidade e a própria natureza, impõe gostos e padrões de consumo que as descaraterizam e as priva da liberdade de decidir coletivamenteacercado seu futuro. Em 13 apontamentos sobre o “comer e beber” no imaginário popularpressente-se uma perceção aguda da condição marginal que se ocupa, das profundas desigualdades no acesso aos alimentos, do zelo que rodeia o aproveitamento integral do escasso recurso alimentar, de uma obrigação de solidariedade para quem tem menos e de uma ética de trabalho subjacente à provisão dos alimentos.

  1. A sopa da pedra: comer de sobrevivência
  2. Comer e trabalho: a ética do produzir para viver
  3. A fome insaciada e a astucia: “A fome aguça o engenho”
  4. A matança do porco: desperdício zero
  5. Comer à mão, comer da gamela: a partilha do que há
  6. A boa vida: “comer e beber, passear na rua”
  7. “Comer bem, comer como um abade!”
  8. Comer mal: A comida de farnel
  9. Os males do comer: um receituário popular
  10. Os avios do jornaleiro: a exploração no sustento
  11. O bodo e a boda: o comer festivo
  12. A cozinha: o espaço privado das sociabilidades
  13. A casa de pasto, a tasca e taberna: o espaço público das sociabilidades


Maurício Virgulino Silva  (Doutorando em Artes pelo PPGAV/ECA/Universidade de São Paulo, em estágio doutoral no CES): A complexidade estésica representada  na fotografia de comida

A partir da experiência profissional como fotógrafo de comida, será feita uma reflexão sobre essa "arte/comunicação" que mobiliza mercados, costumes e práticas sociais. E também como essa representatividade pode ser usada na construção e valorização de culturas locais.


Moderação: Patrícia Branco (CES)
Roda de Conversa à volta das comidas