Colóquio

What Education? Arquitetura, Ensino e Investigação

22 e 23 de maio de 2020, 10h00 (GMT +01:00)

Evento em formato digital

Comunicações

A Escola do Porto e a Universidade (Pública e Privada), 1979-2019

Raquel Geada Paulino

[RESUMO DA COMUNICAÇÃO]

 
 

A Escola de Lisboa e a Universidade, 1979-1999

Leonor Matos Silva

A Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa [FAUTL] foi criada em 1979 (DL 498-E/79, de 21 de Dezembro) na sequência de um processo paulatino de aproximação à universidade protagonizado pela 1ª Secção (Arquitetura) da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

O processo de instalação da Faculdade – a qual veio a fixar uma designação oficial para a ocasionalmente denominada “Escola de Lisboa” – foi longo e complexo; a Faculdade só entrou em completo funcionamento no ano letivo de 1985/86.

A partir 1986, e ao longo das duas décadas seguintes, surgiram mais de vinte cursos os quais vieram transformar o panorama do ensino da arquitetura em Portugal. A FAUTL, conjuntamente com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, deixaram, então, de deter o exclusivo do ensino universitário de arquitetura.

Neste estudo, poremos algumas questões tanto relativas a esta transição como a uma realidade posterior, na qual observamos a implementação de um regime de “escola de artes”, com a criação de mais cinco licenciaturas, em 1992/93.

Pontuaremos ainda esta análise com a observação de alguns dados específicos, como a mudança para novas instalações em 1994, ou o processo de Sindicância (no quadro de uma forte contestação estudantil) com início em 1998 e duração de dois anos.

Acreditamos, em conclusão, que o período de 1979 a 1999 merece ser encarado com particular atenção se queremos compreender o contorno pedagógico e disciplinar que o ensino de arquitetura português apresenta hoje.

 

 

Do DAAUM à EAUM: o ensino da arquitetura em Guimarães antes e depois de Bolonha

Eduardo Fernandes

O Departamento Autónomo de Arquitetura da Universidade do Minho (DAA UM) foi criado em 1996, integrando a Escola de Engenharia (EE) da Universidade; se a designação “Autónomo” implicava, efetivamente, uma autonomia de gestão, não deixava de ser necessária para disfarçar uma certa dependência processual.

A licenciatura em Arquitetura do DAA iniciou a docência ao primeiro ano do ciclo de estudos no ano letivo de 1998-99, em instalações provisórias, no Campos de Azurém da Universidade do Minho, em Guimarães. Se o curso foi pensado, maioritariamente, por professores e ex-alunos da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), a construção do seu plano de estudos teve de se adaptar à estrutura matricial de UM e à vontade da sua reitoria de ter um curso com uma maior componente técnica, onde a componente letiva na área da Engenharia tinha um peso importante. Assim, o DAA viveu os seus primeiros anos num confronto mais ou menos sereno entre a herança pedagógica do Porto e a visão tecnicista do Minho. Daqui resultou um curso que respeitava a conceção Vitruviana do ensino da arquitetura, onde se procurou compatibilizar a sistema escola-atelier (herdado da Bauhaus) com a referida vertente técnica, mas também com uma importante carga letiva nas áreas da Teoria e História.

Entre 2005 e 2009, o ensino da arquitetura em Guimarães sofreu três importantes mudanças estruturais, que reforçaram a sua autonomia em relação à EE: foi implementado um novo plano de estudos, adequado aos pressupostos do Processo de Bolonha (tendo o grau concedido passado a ser de Mestrado Integrado - MIARQ), foi criada a Escola de Arquitetura da UM e o seu ensino passou a ser ministrado num novo edifício, projetado por Fernando Távora e José Bernardo Távora.

A adequação a Bolonha implicou uma profunda reformulação do anterior plano de estudos, que resultou de um processo muito discutido e participado, de que, infelizmente, não ficou nenhum registo, para além do estritamente necessário à sua oficialização. Hoje, passados mais de dez anos da criação do MIARQ, a Escola de Arquitetura (que recentemente foi renomeada como Escola de Arquitetura, Artes e Design) cresceu, com novos cursos, novos edifícios e a ligação a um novo centro de investigação (Lab2PT); no que diz respeito ao ensino da arquitetura (que agora também inclui um Plano Doutoral), esta década de experiência permite já uma reavaliação, que se encontra em curso. 

 

 

A Escola de Coimbra: entre o Porto e Lisboa (1988-2018)

Gonçalo Canto Moniz

A Escola de Coimbra é um espaço de encontro de duas culturas de ensino-aprendizagem construídas no Porto e em Lisboa na segunda metade do século 20. De facto, são os debates que ocorrem nestas duas escolas de Arquitetura entre 1950 e 1979 que vão condicionar a construção de uma terceira escola de Arquitetura no centro do país e no seio da mais antiga universidade pública, Coimbra. Estes debates chegam a Coimbra através dos seus professores, enraizados na sua forma de pensar, fazer e ensinar Arquitetura. Neste novo espaço, enquadrado pelo Colégio das Artes, estas duas culturas vão dialogar com o objetivo de encontrar uma cultura alternativa, que a própria cultura universitária obrigava e que a cultura arquitetónica ansiava.

A construção da Escola de Coimbra e a sua progressiva consolidação ao longo dos 30 anos vai refletir este debate na sua prática pedagógica quotidiana, mas também nas atividades de investigação de professores e alunos, na atividade associativa dos estudantes, nos debates sobre o plano de estudos que marcam as grandes transformações da Escola.

A investigação será apoiada nas diversas teses de mestrado realizadas pelos estudantes sobre a sua própria Escola e nas informações e reflexões publicadas pela editorial e|d|arq na revista joelho, livros e atas de eventos. Serão ainda recolhidos documentos dos arquivos do DARQ e dos arquivos pessoais de professores e alunos. Pretende-se assim dar voz aos diversos atores que protagonizaram a construção da Escola, através do mapeamento das controvérsias, seguindo a proposta de Bruno Latour e Albena Yaneva.

Assim, ao longo das suas 3 décadas de existência, podemos identificar também 3 grandes momentos: 1) Construção de uma escola e a procura de uma especificidade (1988-1998); 2) Afirmação de uma identidade (1998-2008); 3) Consolidação da Escola (2008-2018).

  • Construção de uma escola e a procura de uma especificidade (1988-1998);

A contestação à FCTUC

O Departamento de Arquitetura

A presença dos professores convidados e os novos assistentes do Porto e de Lisboa

Os estudantes e a luta pela Arquitetura

As provas finais e as provas de capacidade científica

Os Encontros de Tomar

  • Afirmação de uma identidade (1998-2008);

O Plano de Estudos

A saída dos mestres

Os doutoramentos

Os workshops e as publicações

  • Consolidação da Escola (2008-2018).

A Reforma de Bolonha e a sua reformulação

Os mestrados e o curso de doutoramento

A renovação do corpo docente

A investigação

A internacionalização e a EUROPA

 

O Processo de Bolonha, 2000-2018

Pedro Luz Pinto

Com a entrada no novo milénio e a consolidação da integração económica, política e social europeia, é colocado o objetivo político de se criar, entre 2000 e 2010, uma Área Europeia de Ensino Superior. Esta finalidade conduziu ao projeto de integração dos Sistemas Universitários Europeus, um processo comumente designado de Processo de Bolonha. Tendo em conta que no início de 2000 toda a oferta de formação em arquitetura em Portugal é de nível superior, nota-se que implementação do processo pode ser visto como o corolário de uma mudança estrutural nas universidades públicas portuguesas, as quais, ultrapassada uma primeira fase de expansão territorial, democratização de acesso e crescimento infraestrutural, se reorganizam enquanto sistema produtivo, meritocrático e concorrencial, onde a investigação, a avaliação e a captação de financiamento se tornam finalidades, conduzindo a alterações significativas. Na arquitetura, disciplina recente no ambiente universitário, suscitou entre outras alterações uma profissionalização docente, reenquadrando práticas de ensino, o volume de investigação ou, a própria relação com a profissão. Estas transformações ocorreram igualmente num momento de viragem das próprias dinâmicas de oferta e procura de cursos de arquitetura, designadamente de ultrapassagem da oferta pública face à privada e de diminuição progressiva do número absoluto de candidatos aos cursos de arquitetura. E resulta, também, num fechamento, forçado desde o exterior, pela tutela do Ensino Superior, das polémicas instauradas desde os finais da década de 90 no seio da profissão, em relação à necessidade de controlo, redefinição e certificação dos cursos e das escolas de arquitetura existentes. Deste modo, a adequação a Bolonha catalisa uma série de transformações no ensino e na investigação em todas as áreas do conhecimento, incluindo, especialmente, a arquitetura. As transformações respondem a macro objetivos europeus, com impacto estrutural na organização, docência, avaliação, creditação e estrutura curricular dos cursos. A adequação levaria no imediato à revisão curricular de todos os cursos em Portugal, surgindo os Mestrados Integrados em Arquitetura (MIA). Em paralelo, o novo quadro estrutural elege a investigação, a produção de conhecimento, como um fator de ensino e um objetivo institucional. A investigação, a disseminação e a gestão ganham importância, o doutoramento torna-se o grau base para acesso a uma carreira universitária, os centros de investigação condição para programas de doutoramento e via para financiamento adicional, ganhando um protagonismo e mesmo autonomia, relevantes nas orgânicas de escolas e faculdades. Este cenário, em que estamos emergidos, conformou-se no arranque de 2000 e foi implementado entre 2006-2009. Os MIA seriam avaliados, por um organismo criado para o efeito, entre 2010 e 2012, e encontram-se atualmente em revisão, seguindo um calendário de renovação periódica de acreditações. Ou seja, estamos num momento de balanço e afinação critica após uma década de implementação.

 

What Research?

Enfoque sobre a investigação em arquitetura no contexto português

Bruno Gil

Carolina Coelho

A investigação em arquitetura tem ganho crescente relevância numa perspetiva global, o que vem levantando inúmeras perguntas sobre as suas motivações, objetos, conteúdos e agentes.

Esta comunicação visa apresentar a linha What Research no âmbito do Projeto (EU)ROPA, através das suas principais questões e das estratégias propostas para a abordagem à investigação em arquitetura no contexto português.

Esta linha pretende identificar se, e como, modelos globais de investigação são apropriados, mimetizados ou, porventura, transformados em modos específicos decorrentes de práticas e temáticas, cuja génese encontra em problemas locais a sua maior validade.

Parte-se de um enquadramento das experiências embrionárias de investigação veiculadas, desde logo, por arquitetos que singraram neste âmbito a partir dos anos 1960, lançando as bases para muitas das estruturas de investigação atualmente existentes em Portugal.

Deste modo, questiona-se, no contexto português, os desenvolvimentos ocorridos, através do mapeamento de atuais centros de estudos, ligados ou não à academia, com um particular enfoque nos projetos aí desenvolvidos. Procura-se também apurar quais os contributos destas experiências, ao identificar o nível de consequência dos seus resultados, para a própria disciplina e para outros campos epistemológicos.

Ao convocar estes diferentes enquadramentos, a linha de investigação What Research permitirá também problematizar as diferentes escalas e tipos de projetos já desenvolvidos e em curso, percebendo em que medida os respetivos financiamentos possibilitam refletir sobre as estratégias de investimento privadas e políticas públicas de investigação.  Assim, espera-se tornar evidente o entendimento das diferentes partes sobre o teor e âmbito das áreas de pesquisa, sejam elas relativas ao projeto, à história, aos instrumentos, aos programas, à construção, ao planeamento, à reabilitação, à energia, ... ou a outros temas a identificar.

Em última instância, pretende-se aferir as possibilidades de transferência de conhecimento produzido em âmbito de investigação e qual o impacto destas iniciativas na geração de modelos alternativos de prática profissional em Portugal.