Gender workshop
‘Problema' meu? Sexualidades não-normativas a partir dos Estudos Feministas de Deficiência.
Ana Cristina Santos
Ana Lúcia Santos
13 de fevereiro de 2014, 17h00
Sala 2, CES-Coimbra
Resumo
O desenvolvimento da medicina moderna transformou o corpo num campo privilegiado de intervenção, conferindo aos/às profissionais de saúde poder de decisão sobre aquilo que é ou não definido como normal. Assim, o corpo que transgride a norma medicamente definida congrega sobre si um aparato analítico que visa sobretudo a sua normalização. Consequentemente, numa sociedade patriarcal e fortemente medicalizada, as mulheres com deficiência são alvo de uma dupla discriminação em resultado do sexismo e da deficientização.
A emergência dos estudos da deficiência marca o início do questionamento deste poder médico. No entanto, foi apenas nos anos 1990 que as dificuldades acrescidas por que passam as mulheres deficientes foram consideradas. Tratou-se, pois, de complementar o Modelo Social da Deficiência que já havia proposto deslocar o foco analítico da deficiência, desde uma questão individual e particular (i.e. médica), para uma questão de estigma e preconceito estrutural (i.e. social e cultural), que diz respeito a uma sociedade incapaz de acomodar a diversidade. Na esteira da proposta política e teórica oferecida pelo Modelo Social, surgem os Estudos Feministas da Deficiência, particularmente atentos às questões de género e às experiências pessoais.
Esta apresentação resulta do trabalho desenvolvido no âmbito do projeto “Intimidade e Deficiência: cidadania sexual e reprodutiva de mulheres com deficiência em Portugal”. Fazendo uma breve contextualização dos diferentes modelos de análise da deficiência e respetivos potenciais emancipatórios, a sessão centra-se na visão inovadora oferecida pelos Estudos Feministas da Deficiência na análise dos temas do género, do corpo e das representações culturais, e no seu potencial de transformação de uma realidade marcada pela desigualdade e estigmatização da diferença.
Artigos em discussão
Garland-Thomson, Rosemarie (2004) "Integrating disability, transforming feminist theory." In Smith, B; Hutchison, B. (Eds.) Gendering Disability. New Jersey: Rutgers University Press, 73-103.
Garland-Thomson, Rosemarie (2001) "Re-shaping, re-thinking, re-defining: feminist disability studies", Barbara Waxman Fiduccia Papers on Women and Girls with Disabilities [Report], Washington DC: Center for Women PolicyStudies, 25p.
[ Quem desejar participar e ler previamente os artigos em discussão deverá enviar um e-mail para gw@ces.uc.pt ]
Notas biográficas
Ana Cristina Santos - Socióloga. Doutorada em Estudos de Género pela Universidade de Leeds, Reino Unido, e Mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra, Portugal, é Investigadora no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, e Honorary Research Fellow no Birkbeck Institute for Social Research, Universidade de Londres.
Tem trabalhado em projetos de investigação sobre género, sexualidade, movimentos sociais, cidadania e direitos humanos. Coordena, desde abril de 2012, um projeto sobre mulheres, deficiência e cidadania íntima, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
É vice-coordenadora da Sexuality Research Network da Associação Europeia de Sociologia e co-coordenadora do Núcleo de Investigação em Democracia, Cidadania e Direito do CES. É também ativista dos movimentos feminista e LGBT/queer, e sócia-fundadora da Associação não te prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais, que preside desde janeiro de 2012.
Publicações incluem Cometi um Crime? Representações sobre (i)legalidade do aborto (Afrontamento, 2010), Bound and Unbound: Interdisciplinary Approaches to Genders and Sexualities (Cambridge Scholars Publishing, 2008), Estudos Queer: Identidades, Contextos e Acção Colectiva (Revista Crítica de Ciências Sociais, 76, 2006) e A Lei do Desejo: Direitos Humanos e Minorias Sexuais em Portugal (Afrontamento, 2005).
O seu livro mais recente é Social Movements and Sexual Citizenship in Southern Europe (Palgrave Macmillan, 2013).
Foi a recente vencedora de uma bolsa Starting Grant atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC) com o projeto de investigação “INTIMATE - Cidadania, Cuidado e Escolha: A Micropolítica da Intimidade na Europa do Sul”.
Ana Lúcia Santos é investigadora júnior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Actualmente integra o Projecto de Investigação "Intimidade e Deficiência: cidadania sexual e reprodutiva de mulheres com deficiência em Portugal", coordenado pela Doutora Ana Cristina Santos e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
É licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Estudos Feministas pela mesma Faculdade.
Os interesses de investigação centram-se na cidadania íntima e sexual, estudos feministas, teoria crip e teoria queer.