3º Ciclo de Conferências "Patrimónios de Influência Portuguesa"

Património Português do Império: integração ou segregação

Francisco Bethencourt (CES/King's College - Universidade de Londres)

28 de fevereiro de 2013, 17h00

Sala T2, Departamento de Arquitetura /FCTUC | Coimbra

Resumo

De que maneira o património português do império reflete estratégias de integração ou segregação de populações locais?

A construção de fortes em África ou na Ásia obedeceu a um princípio de defesa militar do comércio e da presença portuguesa. O relativo isolamento físico da comunidade portuguesa, ou possibilidade de proteção intramuros, não excluiu relações interétnicas visíveis na existência de numerosos luso-descendentes nesses enclaves. Em certos casos, a proteção inicial transformou-se com o tempo em segregação das populações nativas, como em Malaca e possivelmente em Cochim, mas implicou sempre estreitas relações comerciais e financeiras. Em diversos caos os fortes/feitorias foram transformados em testas de ponte de projetos de ocupação territorial. A fortificação de cidades com perímetros significativos implicou a existência de bairros etnicamente distintos ou claramente a separação entre a cidade europeia e a cidade nativa. A convergência da prática portuguesa com a prática asiática de bairros étnicos distintos e aqui importante. Os casos de Macau e de Nagasaki são mais interessantes pela relativa dependência de poderes regionais; pese embora a jurisdição atribuída aos portugueses naqueles espaços, a presença de chineses e japoneses estava vigiada por esses poderes. No Brasil as cidades portugueses obedecem a uma logica mais aberta, com a construção de fortalezas como recurso defensivo, embora o caso de Salvador da Bahia envolva uma muralha em redor da cidade. O património contempla ainda a construção extensiva de igrejas, dentro e fora do império português. Os propósitos de integração entre as comunidades portuguesas e as populações nativas são visíveis em muitos casos, embora a competição entre confrarias ou entre ordens religiosas esconda logicas hierárquicas onde o elemento étnico era preponderante.


Nota biográfica

Francisco Bethencourt - Charles Professor of History, King's College London desde 2005, autor, entre outros livros, de Racisms: From the Crusades to the 20th century (forthcoming, Princeton University Press, 2013), The Inquisition: a Global History (Cambridge: Cambridge University Press, 2009), publicado em França, Portugal, Brasil, Espanha e Sérvia, co-editor de Racism and Ethnic Relations in the Portuguese-Speaking World (London/Oxford: British Academy/Oxford University Press, 2012), Portuguese Oceanic Expansion (Cambridge: Cambridge University Press, 2007), e Correspondence and Cultural Exchange in Europe (Cambridge: Cambridge University Press, 2007). Foi Diretor do Centro Cultural Calouste Gulbenkian de Paris (1999-2004) e da Biblioteca Nacional de Portugal (1996-1998). Ensinou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1982-2004) e obteve o doutoramento em História e Civilização no Instituto Universitário Europeu de Florença em 1992.


Organização: Programa de Doutoramento "Patrimónios de Influência Portuguesa" e Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra.


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Patrimónios de Influência Portuguesa