Colóquio-Debate
Habitantes ou arquitectos? Quando as políticas urbanas esquecem a vida dos lugares e seu impacto social (Colóquio sobre o livro "Contra a Arquitectura", de Franco La Cecla)
Franco La Cecla
João Soares
Nuno Grande
Ricardo Bak Gordon
30 de março de 2011, 10h30
Picoas Plaza, R. Tomás Ribeiro, 65, CES-Lisboa
Enquadramento
Reconhecer o valor vivente do verbo habitar significa cuidar do impacto social engendrado pelas políticas urbanas e desafiar também uma semântica da cidadania que se constrói na partilha prática e quotidiana dos espaços públicos.
O espaço público é uma metáfora concreta duma forma de democracia onde há “comunidades” que, em primeiro lugar, não têm nada em comum além dos lugares e dos espaços comuns.
Através das interacções imprevisíveis e multifuncionais que ocorrem nos espaços urbanos viabilizam-se produções culturais e contra-culturais dinamizadoras do tecido social e dos conhecimentos, conscientes e inconscientes, que nele necessariamente se experimentam.
A criatividade de viver num lugar e com o lugar é, hoje em dia, cada vez mais ameaçada para uma política urbana entalada entre uma cultura policial da democracia e uma economia estetizante do espaço público, reduzido assim em espaço-montra de consumo.
O antropólogo Franco La Cecla critica a tendência contemporânea de muitos arquitectos em transformarem-se como agentes desta armadilha cínica e ideológica. Ao arquitecto que se “faz no ateliê”, preocupado apenas com encomenda do cliente, contrapõe-se o arquitecto que não se esquece mas valoriza a historia e a cultura do habitat onde intervém.
Qual abordagem, então, aos lugares e aos espaços públicos? Valorizar o comum para todos, ou para alguns? Enfatiza-lo como palco das diferenças, ou torna-lo marginal e inviável?
O livro “Contra a Arquitectura”, Caleidoscópio Editora
Nunca como hoje a arquitectura esteve tão na moda. Nas revistas, nos jornais, na televisão, as obras das superstars da arquitectura são objecto da curiosidade de leitores que antes eram completamente incultos na matéria. E porém, nunca como hoje a arquitectura esteve tão distante do interesse público: incide pouco e mal sobre a melhoria da vida das pessoas. Às vezes até piora as condições do habitar.
Isto acontece porque a arquitectura se tornou num jogo auto-referencial, absolutamente centrada na “assinatura”, na genialidade do arquitecto, genialidade que é cotada na bolsa da moda da mesma maneira que uma qualquer marca.
A arquitectura possui uma grande influência, para o bem e para o mal, sobre as condições do habitar numa cidade. Os arquitectos porém refugiam-se numa dimensão artística que os exclui de qualquer responsabilidade. Infelizmente são, por vezes, chamados a resolver inteiras partes de cidade, missão que muitas vezes desempenham com incompetência, superficialidade e convencidos que se trate de um jogo formal. Mas as cidades funcionam de outro modo: são o território profundo onde age o subconsciente colectivo, são o lugar de pertença e de conflitos.
Este livro convida a abandonar as arquistar ao seu egoísmo e a aceitar que a arquitectura tenha esgotado a sua função. Hoje é preciso algo mais, sobretudo na situação de emergência em que as cidades e o ambiente se encontram, correndo o risco de se tornarem cada vez mais inabitáveis.
Participantes
Franco La Cecla, Antropólogo e autor do livro “Contra a Arquitectura”
Nuno Grande, Professor do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e Investigador do CES
Ricardo Bak Gordon, Arquitecto e Professor de Projecto no Instituto Superior Técnico, UTL
João Soares, Investigador e coordenador da linha de investigação em arquitectura na Universidade do CHAIA, na Universidade de Évora
Moderação e organização: Vania Baldi
Nota: Evento associado ao Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito e ao Núcleo Cidades, Culturas e Arquitectura
Para informações contactar ceslx@ces.uc.pt