Apresentação

Em 2018, publiquei Portugal e a Questão do Trabalho Forçado. Foi o resultado de vários anos de investigação de doutoramento, baseada em fontes primárias nunca trabalhadas e na ainda bastante extensa lista de investigações produzidas sobre o tema, nacionais e internacionais, anteriores e posteriores à descolonização portuguesa. Gostaria de destacar dois aspectos que retiro desse trabalho: por um lado, a riqueza dos arquivos nacionais na demonstração da aguda consciência de vários administradores imperiais após 1945 da persistência de diversas modalidades de trabalho coercivo no império e, ao mesmo tempo, uma generalizada convicção sobre a necessidade da compulsão para lidar com um trabalhador tido por essencialmente diferente. É um apontamento importante, numa altura em que se tende a desvalorizar o trabalho arquivístico. Por outro, que, ao explorar as dinâmicas internacionais e transnacionais de denúncia e dissenso face ao império, encontramos uma longa história, sinalizada, divulgada e sustentada de acusações sobre práticas do trabalho forçado, que, de resto, definiu a reputação de Portugal globalmente. Ter consciência dessa imagem de Portugal no mundo por longas décadas permite corrigir erros de leitura vários, com as origens mais inusitadas.