COMUNICADO (I) da Direção e da Presidência do Conselho Científico do CES
11 de abril de 2023
Foi recentemente publicado no volume colectivo editado pela Routledge, Sexual Misconduct in Academia, um capítulo da autoria de Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom, intitulado "The walls spoke when no one else would. Autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant-garde academia". Não mencionando nomes, o capítulo faz alegações sobre condutas anti-éticas que, de acordo com as autoras, terão ocorrido no âmbito do CES.
Em vista da situação gerada, e no âmbito da reflexão coletiva permanente que as questões em causa exigem, torna-se necessário esclarecer o seguinte:
Embora tradicionalmente apresentadas como ambientes neutros e seguros, as instituições académicas e de investigação não são alheias ao sistema social e cultural que produz e reproduz relações de poder desiguais.
Sendo as diversas formas de desigualdade, violência e abuso (moral e sexual) problemas transversais às organizações, o Centro de Estudos Sociais (CES) não se coloca fora desta discussão importante, nem se demite da responsabilidade que tem na promoção efetiva de um ambiente de trabalho científico mais igualitário e livre de todas as formas de assédio.
Apesar de não se tratar de fenómenos novos, só muito recentemente estes problemas passaram a assumir relevo nas agendas de política e ação institucionais em Portugal. À semelhança da maioria das instituições académicas e científicas portuguesas, o CES promoveu, nos últimos anos, respostas institucionais para os enfrentar. A instituição tem vindo, desde 2019, a adotar um conjunto de instrumentos que visam capacitá-la para dar respostas adequadas neste âmbito: aprovou-se o Código de Conduta do CES, clarificou-se o papel e âmbito de atuação da Comissão de Ética, criou-se a Provedoria do CES e operacionalizou-se um canal de denúncias, incluindo denúncias anónimas, aprovou-se um Plano para a Igualdade de Género e uma Política de Proteção à Infância. O CES lamenta que estes instrumentos, proporcionando mecanismos formais de denúncia e de combate a qualquer possibilidade de assédio e consistentes com os princípios de defesa dos direitos humanos e da igualdade de género que sempre adotou, só recentemente tenham sido criados.
Estando o CES comprometido com o tratamento diligente deste tipo de ocorrências, decidiu averiguar a fundamentação das alegações produzidas no capítulo supra-mencionado. Nesta medida, o CES irá constituir num curto prazo uma comissão independente à qual caberá a identificação de eventuais falhas institucionais e a averiguação da ocorrência das eventuais condutas anti-éticas referidas naquele capítulo. A comissão será composta por dois elementos externos, um dos quais lhe presidirá, e pela Provedora do CES. Os membros externos a convidar terão competências reconhecidas no tratamento de processo análogos.
Os órgãos diretivos do CES têm em curso diferentes processos de reflexão interna com vista a aprofundar e a tornar efetivas as respostas institucionais, nomeadamente, através da melhoria da comunicação interna e do reforço das práticas tendentes ao cabal esclarecimento de todas/os as/os membros da comunidade CES quanto aos seus direitos e deveres.
A Direção e a Presidência do Conselho Científico reiteram o seu compromisso com a promoção da política institucional necessária para que o CES seja um espaço efetivamente livre de quaisquer formas de abuso ou assédio, e para a prossecução inequívoca dos princípios orientadores da ação do Centro.
A Direção e a Presidência do Conselho Científico do CES