Exposição

PINHO

22 de março a 15 de abril de 2022, 10h00-16h00

PAVILHÃO 31 (Av.do Brasil, n.º 53, Lisboa)

O Destino do Rapaz da Rua

O objetivo desta exposição, é ser vista pelo maior número possível de pessoas, principalmente por aqueles que forem chamados a olhar, guiar e formar os homens de amanhã. A política, sem querer acusar nada, nem ninguém, mas só apelar à humanidade daqueles que trabalham nestas instituições, é que o façam com amor. 

Muitas crianças, só porque são rebeldes, órfãs ou abandonadas, passam parte ou toda a sua infância, dentro de muros: Orfanatos, asilos, colónias ou reformatórios. 

É preciso que estas causas continuem a existir, porque, apesar de tudo, das boas vontades e de discursos bem-intencionados de idealistas, sempre evitam que alguns tenham de continuar a dormir debaixo das pontes. 

Os que viveram uma infância dentro de muros continuam sempre fugindo, sentem-se sós na multidão, quase sempre incompreendidos, pragmáticos, podendo até tornar-se facilmente marginais - “P’ra aí vivem, como Cristos de gravata”. 

Tudo acabou por ser um tema apaixonante e que motivou esta exposição. E como não podia deixar de ser, todo este trabalho foi executado sem modelos, servindo apenas e só aqueles que a memória reteve - “Figuras lembradas de olhos fechados até ao sofrimento”. Estas imagens rolaram dentro de mim durante 50 anos, porque aos 10, aconteceu a primeira perceção do que não estava certo. 

Esta amostra é o resultado do trabalho de 9 anos. Dedicação total e isolamento, afastado das galerias de arte e suas exposições. Nove anos de sofrimento junto do cavalete; mas valeu a pena!

Vinte quadros de 1 x 1 m (10 óleos e 10 desenhos a carvão) relatam como viviam crianças de pouca sorte, dos 6 aos 18 anos. 

Felizmente tempos e métodos são outros, mesmo assim julgo por bem dar a conhecer tais vivências e lembrar como seriam diferentes, personalidades moldadas com dignidade e amor. 

Assumidamente omiti inscrições que pudessem identificar locais, mas em todos os espaços mantive a sua verdade. 

Toda a representação denota influência do “Expressionismo”, sem as suas deformações marcantes e do “Realismo”, mas sem exagero de pormenor. 

(Pinho, década de 1990)

Informações: Entrada gratuita


Sobre Pinho

Os meninos de uniformes azuis

José Joaquim de Almeida nasceu em 8 de maio de 1927 na Praia da Granja, em Vila Nova de Gaia, e morreu em 1993 na cidade do Porto. Trabalhou com publicidade, artes gráficas (serigrafia) e decoração (de montras e montagem de estandes na Feira Internacional de Lisboa). O Ateliê Pinho, empresa individual, era muito requisitado pelas grandes empresas da época. O artista participou de exposições individuais e coletivas e na década de 1980, depois dos 50 anos de idade, pintou os quadros que retratam a infância dentro dos muros institucionais. Pouco antes de falecer, em 1993, os 20 quadros que compunham a exposição por ele intitulada O Destino do Rapaz da Rua, realizada na Casa do Infante em 1990, foram incorporados ao espólio do Instituto de Reinserção Social português por decisão do próprio artista. Em 2014, os quadros passaram a fazer parte do acervo do Arquivo Histórico da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, que funciona no Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL). Os quadros trazem a versão de Pinho a respeito da vida nas instituições que alcançavam os menores desvalidos em Portugal nos anos 1930 e 40. A exposição segue a ordem inicialmente pensada pelo artista, assim como os títulos das obras por ele nomeadas.

(Viviane Borges, historiadora, professora da Universidade do Estado de Santa Catarina/Brasil, pós-doutora pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra)


Para saber mais sobre o projeto:

https://www.publico.pt/2022/01/19/culturaipsilon/noticia/misteriosos-quadros-meninos-uniformes-azuis-1992376

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/10/pintor-portugues-retratou-o-drama-de-uma-infancia-em-reformatorio.shtml

https://www.lisboa.pt/atualidade/reportagens/manicomio-arte-sem-preconceito