3.º Colóquio Internacional de Pós-graduação em Estudos Feministas e de Género
Encruzilhadas e Horizontes
24 de janeiro de 2025, 9h00
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Resumos das participantes
Almeida, Eliana do Sacramento
Universidade: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde, Universidade Federal da Bahia
Título: Autonomia Reprodutiva de Mulheres Quilombolas: estudo comparativo
Resumo: Os direitos sexuais e reprodutivos, parte integrante dos direitos humanos, embora assegurados em lei, estão longe de serem garantidos e alcançados pelas mulheres, especialmente às mulheres negras, quilombolas, pobres e periféricas, A autonomia reprodutiva (AR) ainda não é exercida de fato por todas as mulheres. Fatores sociais, econômicos, culturais, demográficos, religiosos e familiares, assim como, ausência de políticas públicas e sociais interferem diretamente nas vidas das mulheres negras quilombolas e as impede de exercer a liberdade sobre seus corpos, e o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos. Esta pesquisa tem por objetivo realizar uma análise comparativa de três teses de doutorado, desenvolvidas em um programa de pós-graduação de uma universidade pública brasileira. Os estudos sobre Autonomia Reprodutiva de mulheres quilombolas utilizaram metodologia semelhante, em localidades diferentes. Dentre os resultados, identificamos equivalência nos aspectos sociodemográficos, a maioria das mulheres se autodeclararam negras (76,5%), com idade média de 32,8 anos, de baixa escolaridade, católicas (86,8%), donas de casa, lavradoras e pescadoras, casadas ou convivendo com companheiro sexual (63%) e com renda média de aproximadamente trezentos reais. Na análise da autonomia reprodutiva geral verifica-se escores elevados em dois dos estudos AR=2,92 e AR=3,05, divergindo do estudo que encontrou AR=2,06. Houve equivalência no constructo “Tomada de Decisão” nos três estudos e no estudo em que AR geral se revelou inferior aos demais, verifica-se pontuação baixa nos constructos “Ausência de Coerção” e “Comunicação”. Concluímos deste modo, que o protagonismo das mulheres quilombolas dos estudos contribui positivamente para o exercício da autonomia reprodutiva individual, serve de exemplo para outras mulheres em igual situação de vulnerabilidade e tem potencial para o crescimento e desenvolvimento saudáveis das comunidades. Pontuamos ainda a necessidade da realização de outros estudos sobre a temática, especialmente estudos com abordagem qualitativa que possibilitem aprofundar as discussões.
Palavras-chave: Saúde das Mulheres; Direitos Sexuais e Reprodutivos; Autonomia Reprodutiva; Quilombola; Fatores Socioeconômicos.
E-mail: elianadosacramento@hotmail.com
Amaral, Hugo
Universidade: Doutoramento em Filosofia, FLUC, Universidade de Coimbra.
Título: Da «mulher que precede as mulheres na existência das mulheres» ou do feminismo por vir segundo Nicole Brossard
Resumo: Partimos de um passo de «Kind skin my mind», de Nicole Brossard (em tradução: «a lésbica é uma mulher que precede as mulheres na existência das mulheres»), para darmos a ler e a pensar, atravessando outros lugares da obra literária, po-ética e de pensamento da escritora québécoise, a hiper-radicalidade e a resistência de um feminismo por vir. Procurar-se-á mostrar, por um lado, o modo como a escrita de Brossard, essa forte pedrada no charco do falogocentrismo (Derrida dixit), agita e reinventa os idiomas sexuais, os géneros que regem a gramática das línguas e dos corpos tradicionalmente subordinados ao masculino no começo e no comando. Por outro lado, estará em questão perceber que a audácia e a radicalidade da reivindicação feminista brossardiana implica, como que paradoxalmente, um passo para além do socio-político, para além da metafísica e do falocentrismo e do ginocentrismo: a afirmação de um outro feminino (pré-dual e pré-hierárquico, dissimétrico ou incalculável) e de um outro corpo lésbico (tridimensional ou holográfico) – sem reapropriação idealizante, rebeldes à conceptualização e ao posicionamento nos -ismos, quer dizer, pensados diferentemente dos sentidos essencializantes, logo precedendo e excedendo as determinações biológicas, ontológicas, sociológicas, antropológicas e hermenêuticas. Em suma, importará lembrar e perceber que a escrita de Brossard, sem simplesmente esgotar o desejo de presença que a move e faz vibrar, nos dá a ler e a pensar uma outra resistência, uma outra «revolução interminável», diferentemente política: a aporia de uma diferença arqui-originária atravessando, sem hipóstase, a existência das mulheres, e que, apelando a um compromisso incessante entre o político e o hiper-político, é abertura ao porvir, promessa ou chance da justiça por vir do feminismo, de um feminismo intempestivo ou hiper-radical capaz de responder à urgência e à vertigem do nosso tempo.
Palavras-chave: Brossard; feminismo; feminino; hiper-radicalidade; aporia.
E-mail: hugomendesamaral@gmail.com
Antunes, Lia Gil
Universidade: CoimbraStudio Doutoramento em Arquitetura, Estudos Avançados em Arquitetura e Cidade, 3° Ciclo de Estudos do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (Portugal), CIEG/ISCSP-Universidade de Lisboa, DARQ-Universidade de Coimbra
Título: As Moradoras no Processo SAAL (1974-76): Participações (in)formais na discussão da habitação e da cidade em Portugal
Resumo: A Revolução portuguesa de 1974 herdou uma gravíssima crise habitacional da longa ditadura (1926-74). Como resposta aos bairros de barracas que proliferavam nas maiores cidades portuguesas, o Estado central lançou o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL, 1974-76). De serviço público a processo popular, o SAAL caracterizou-se pela iniciativa partir das populações mais pobres (formalizadas em associações ou cooperativas de habitação), pela assistência técnica municipal e de equipas técnicas multidisciplinares, e pela possibilidade de permanecer nos mesmos locais (CN-SAAL 1976; Bandeirinha 2011). O objetivo de construir casas dignas ampliou-se à reivindicação por equipamentos coletivos, um salto de escala na discussão da cidade que impactou particularmente a vida das mulheres pobres urbanas.
Histórica e socialmente responsabilizadas pelos trabalhos domésticos e de cuidados, as mulheres conheciam profundamente a dureza de habitar estes territórios. Eram quem mais tempo permanecia nas casas e quem garantia a sobrevivência e o aconchego mínimo da família (Antunes 2023). Partindo da tese de doutoramento em curso e recorrendo à revisão bibliográfica, entrevistas e consulta de arquivos, esta comunicação pretende demonstrar as participações mais e menos formais e o protagonismo das moradoras no arranque, desenvolvimento e manutenção das operações SAAL em todo o país. Elas implicaram-se massivamente nas manifestações pelo direito à habitação e nas reuniões de bairro, discutindo a solução urbanística e arquitetónica. Não obstante o seu afastamento genérico dos órgãos sociais das organizações de moradores, existiram importantes lideranças femininas.
A luta pelo direito à habitação tem género e transforma as vidas das mulheres (Pinto 1992; Sagot 1992; Muxí e Magro 2011). Pese embora o momento histórico ter sido marcado pelas contradições de classe cujo sujeito era o morador-trabalhador, as mulheres mais pobres, incluindo as de etnia cigana, encontraram oportunidades de ocupar o espaço público e de praticar o direito ao lugar, à habitação e à cidade.
Palavras-chave: Revolução do 25 de Abril de 1974; processo SAAL; moradoras; participação informal; lideranças femininas.
E-mail: liapantunes@gmail.com
Baracho, Danielle Duque
Universidade: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL)
Título: O corpo negro feminino e as dinâmicas de pertencimento em Essa dama bate bué!, de Yara Monteiro
Resumo: Tendo como base a perspectiva da experiência do corpo negro feminino, esta comunicação objetiva discutir os múltiplos sensos de pertença presentes no contexto da diáspora afrodescendente contemporânea. Toma-se, então, como corpus o romance Essa dama bate bué! (2018), da escritora Yara Monteiro, a partir do qual se reflete sobre as noções de trânsitos identitários de modo a estabelecer um diálogo entre conceitos que ensaiam outras formas de pertencimento (Miano, 2020; Otelle, 2022; Pitss, 2019). Dito isto, argumenta-se como o regresso à terra de origem é atravessado por diversos deslocamentos – geográfico e não só. Analisar-se-á como a questão de género, e sua intersecção com a categoria raça, particulariza as vivências afrodiaspóricas, a ver como a relação entre a pátria e o corpo feminino concebem a ideia de uma mátria africana, cujo consolo materno é intentado através da ficcionalização. Propõe-se, por fim, a figuração de um atlântico literário (Gilroy, 2012) que nos permita repensar a localização cultural dessas identidades e suas respectivas produções artísticas, as quais, por sua vez, desafiam os paradigmas de uma comunidade nacional fechada em si mesma, bem como o fazer categórico delimitado por fronteiras rígidas (Anderson, 2008). Assim, o caráter fluido das margens atlânticas permite que as subjetividades até então marginalizadas como “Outras” façam parte de um fazer epistemológico pós-colonial e contra-hegemónico.
Palavras-chave: diáspora afrodescendente; mátria; pertencimento; Atlântico literário; Yara Monteiro.
E-mail: barachodanielle@gmail.com
Capucho, Rita
Universidade: Doutoramento em Comunicação e Ativismos, Universidade Lusófona /CICANT /CEIS 20.
Título: Artivismo em “Novíssimas Cartas Portuguesas”
Resumo: O presente artigo pretende investigar em que medida o documentário “Novíssimas Cartas Portuguesas” enquanto poderá ser considerado uma obra artivista.
Para responder à questão da pesquisa, usa-se uma metodologia qualitativa utilizando procedimentos como a revisão da literatura conjugando com a análise de conteúdo do caso de estudo escolhido. Posteriormente realizamos a análise reflexiva da obra do nosso estudo de caso, o documentário “Novíssimas Cartas Portuguesas”. Depois, realizamos uma entrevista semiestruturada às autoras do nosso estudo de caso para: i) compreender como a obra tinha sido produzida e quais as motivações; ii) aferir o envolvimento no movimento feminista; iii) aferir o conhecimento sobre artivismo; iv) e, ainda, averiguar em que medida estávamos, ou não, perante uma obra artivista.
A obra será analisada com o objetivo de averiguar se é constituída por seis características definidoras de uma obra artivista: a função adicional de intervenção da arte; o uso de um código híbrido; ação contra as estruturas de dominação; lógica disruptiva; desconstrução da autoria e a subversão contra as ordens políticas sociais (Mateos & Sedeño, 2018).
Refletiremos sobre as mesmas analisando o objeto de estudo do presente artigo.
Palavras-chave: Artivismo, Documentário, “Novíssimas Cartas Portuguesas”.
E-mail: capuchorita@gmail.com
Castro, Ana Aires e
Universidade: Mestrado em Literaturas Artes e Culturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Título: Entre a tradição e a aceitação: vivências de mulheres africanas queer em perspetiva comparada
Resumo: As vivências das mulheres africanas queer estão sujeitas a intricadas camadas de opressão, marginalização e até anulação das suas identidades. Se a experiência queer já (ou ainda) é alvo de discriminação e violência um pouco por todo o mundo, ainda mais o é num continente em que múltiplas tradições nacionais não se coadunam com a possibilidade de aceitar as identidades LGBT+ como formas válidas de expressão dos afetos ou da vida íntima e sexual. Chegam até, em muitos casos, a ser encaradas como importações ocidentais ou a ser simplesmente conotadas com o pecado, em contextos onde a religião é uma importante componente da vida em sociedade. De qualquer forma, o extremo conservadorismo que algumas sociedades africanas demonstram com as identidades queer continua a motivar uma violência homofóbica bastante expressiva, causando, por um lado, que as pessoas visadas se sintam impedidas de expressar a sua orientação sexual em público ou até de aceitarem que esta é válida e deveria ser vivida sem culpa nem preconceito. Nesta comunicação, pretendo mapear alguns dos pontos comuns das experiências de mulheres africanas queer, nomeadamente a partir da sua própria jornada de descoberta e aceitação da sua orientação sexual, em contextos em que a tradição exclui as relações lésbicas do leque de possibilidades para a vida das mulheres. Como teremos a oportunidade de compreender através dos romances La bastarda (2016), de Trifonia Melibea Obono e Under the udala trees (2015), de Chinelo Okparanta, as mulheres africanas lésbicas têm de enfrentar o enorme peso da tradição, da religião e das expectativas que a sociedade deposita sobre elas – nomeadamente no que diz respeito à maternidade – sendo, no entanto, possível encontrar em ambas as protagonistas estratégias de resistência que podem simbolizar caminhos possíveis de esperança e de aceitação.
Palavras-chave: mulheres; queer; sexualidade; tradição; aceitação.
E-mail: ana.castro1@edu.ulisboa.pt
Conni, Angelica
Universidade: Doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, Universidade de Coimbra
Título: O Ano de 1993 de José Saramago: a violência contra as mulheres no interior de um sistema ditatorial
Resumo: Após a Revolução de 25 de abril de 1974, José Saramago publica o livro intitulado O Ano de 1993, no qual critica a violência de todos os tipos de regimes totalitários. Trata-se de uma concatenação de textos poético-narrativos em que o autor imagina uma cidade em decadência onde os habitantes são alvo das peripécias de um exército invasor. Uma das peculiaridades da obra é a forma com que Saramago descreve a condição da mulher, instrumento para o alcance da dominação masculina. Com efeito, as mulheres da população dos subalternos são reduzidas a objetos, vítimas de violências sexuais pela mão da hegemonia. A violação constante faz das mulheres máquinas de reprodução, uma estratégia que visa atingir a continuidade da prole dos invasores. Este assunto abre a porta a reflexões diferentes: em primeiro lugar, é necessário ter em conta que a mulher é um dos objetivos fulcrais de guerras e missões de conquista onde a imposição do ato sexual constitui um meio para estabelecer o início da origem de uma nova geração, marcada pela vertente do dominador. Em segundo lugar, desde a antiguidade, a esfera feminina é sujeita a uma ordem social enraizada na dominação masculina. O autor destaca o papel feminino no interior de uma ditadura, um papel limitado a cuidar da família e a satisfazer as necessidades dos homens. Isto porque, num regime, as mulheres são educadas segundo disciplinas e critérios que não fazem senão inculcar uma ideia errada, impondo o respeito de normas que enaltecem a figura masculina. A aceitação dessas regras parece representar a única via para que uma mulher possa ser considerada membro de uma sociedade. De facto, no decurso da obra veremos como, apesar da insurreição dos sujeitos femininos, a rebelião comporta uma dificuldade para algumas mulheres, crescidas numa cultura cujos alicerces são fundados na primazia masculina.
Palavras-chave: mulheres; violência; regime; cultura; insurreição.
E-mail: angelicaconni@gmail.com
Faria, Marina Dias de
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, Universidade de Coimbra
Título: Explorando a Imigração e o Capacitismo por meio de Álbuns de Família: Um Estudo com Mulheres Imigrantes em Portugal
Resumo: A comunicação tem como objetivo explorar as potencialidades da utilização de álbuns de família em investigações com foco em imigração e capacitismo. Para isso, utilizo como experiência o campo realizado com mulheres imigrantes em Portugal, com seus filhos e filhas com deficiência. A técnica do “álbum de família” consiste em uma entrevista narrativa com o uso de fotografias, que tem por objetivo estimular o informante a contar uma história sobre acontecimentos importantes de sua vida e do contexto social envolvido. Na investigação, pedi antes da entrevista que as participantes selecionassem fotos que pudessem retratar seu processo de imigração. Dei como sugestão que a coletânea de fotos se chamasse “Eu Imigrante”. É importante destacar que sempre soube que uma limitação ao tentar usar fotos com imigrantes é que elas provavelmente não teriam fotos impressas para mostrar. Tal limitação prevista previamente foi realmente confirmada pelas participantes da investigação. Entretanto, as mulheres que se disponibilizaram a participar com seus álbuns os compuseram com fotos digitais, sem prejuízo aparente para a condução da técnica do álbum de família. Os resultados mostram que o álbum de família foi fundamental como técnica complementar à entrevista por dois principais motivos: a) fez com que as entrevistadas relembrassem momentos da sua trajetória de imigração que não tinham sido recordados espontaneamente; e b) fez com que elas percebessem o capacitismo em situações representadas nas fotos. As fotos selecionadas foram capazes de mostrar a ausência dos filhos e filhas em situações nas quais, segundo as entrevistadas, “não era adequada a presença de uma pessoa com deficiência”. Adicionalmente, as fotos revelaram a centralidade dos filhos e filhas na vida das imigrantes.
Palavras-chave: Álbum; Capacitismo; Maternidade; Imigração ; Metodologia.
E-mail: marinadfaria@gmail.com
Fernandes, Isabela Vince Esgalha
Universidade: Doutoramento em Estudos Interdisciplinares em Mulheres, Gênero e Feminismos, Universidade Federal da Bahia (Bolsista CAPES)
Título: A (re)construção do real também passa pela imaginação: A importância da ficção feminista na luta decolonial no Brasil
Resumo: O trabalho propõe uma incursão no papel da literatura feminista na luta decolonial no Brasil. Abordando a interseção entre imaginação e realidade, objetiva-se explorar como obras de autoras contemporâneas brasileiras, por meio da ficção, desafiam estereótipos, ressignificam processos históricos e contribuem para a construção de uma narrativa a partir de olhares outros, até então silenciados. A análise parte da compreensão de que o processo colonizatório não se limitou ao domínio territorial e político, estendendo-se ao âmbito simbólico, ontológico e epistêmico. A desumanização dos povos colonizados, como um elemento central desse processo, ressoa no apagamento de identidades, memórias e história, através da imposição de um paradigma racista e patriarcal, com impactos profundos e de complexa superação. Nesse contexto, a ficção feminista emerge como uma ferramenta poderosa na resistência e reconstrução. A pesquisa explora, através da análise das obras “Água de barrela” (2018), de autoria de Eliana Alvez Cruz e “O som do rugido da onça” (2021), da autora Micheliny Verunschk. Ao dar vida a narrativas femininas, desafia a desumanização, contribuindo para a reconfiguração de identidades, memórias coletivas e interpretações históricas, sobretudo, para fins desse trabalho, no que se refere às experiências das mulheres. Assim, este estudo destaca a relevância da ficção feminista como um instrumento transformador na medida em que promove um diálogo essencial para a construção de uma narrativa nacional mais inclusiva e emancipadora.
Palavras-chave: Decolonialidade; Literatura Feminista; Identidades; Feminismo
E-mail: isabelavef@gmail.com
Fortuin, Lucie
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, Universidade de Coimbra
Título: Sujeitos Adormecidos, Textos Exaustos: Uma Leitura Crip do Sono e da Exaustão
Resumo: Da insónia à exaustão, das pausas forçadas para dormir ao longo do dia à sensação perturbadora de sonolência contínua; nunca se sentindo totalmente acordado. O sono desestabiliza o tempo. Nos Estudos da Deficiência, o conceito crip time aborda “como as pessoas com deficiência, doenças crônicas e neurodivergentes vivenciam o tempo” (CDSC, 2023). Em vez de ser linear e progressivo, o tempo crip é muitas vezes abrupto, acelerado, uma paralisação. A sonolência e a cama fazem parte da experiência da doença e da temporalidade, mas o sono nunca parece ser o tema central dos Estudos da Deficiência. A necessidade de dormir, entretanto, pode ter um efeito isolante; politizar o sono através duma leitura do sono dentro da lógica do crip time desafia esse processo de individualização. A questão central deste ensaio é: como impacta uma análise feminista/queer/crip do sono os Estudos da Deficiência?
Em vez de pertencer a indivíduos, a deficiência reside “em ambientes construídos e padrões sociais que excluem ou estigmatizam determinados tipos de corpos, mentes e modos de ser”, escreve a Alison Kafer (2013: 4). Mas como conciliar a realidade política com a experiência privada da cama? Encontrando conhecimentos situados e incorporados em relatos pessoais de doença, este ensaio considera a relação entre tempo e sono em The Undying: A Meditation on Modern Illness, de Anne Boyer. Analisando a questão de como escrever o sono, estuda textos de Mel Y. Chen e Mimi Khúc em Crip Authorship, uma coleção de ensaios que consideram como a deficiência impacta a produção de conhecimento. Na escrita crip encontrem um método produtivo para contrariar estratégias hegemónicas de produção de conhecimento. Este ensaio argumenta que a leitura do sono a partir de uma perspectiva crip permite uma crítica ao capitalismo neoliberal que não só questiona este sistema, mas que o desafia activamente.
Palavras-chave: Estudos da Deficiência; sono; crip time; teoria do ponto de vista feminista; conhecimento situado.
E-mail: lucie.sara.fortuin@gmail.com
Godinho, Eliane
Universidade: Doutoramento em Estudos Feminista, Universidade de Coimbra
Título: O associativismo de mulheres romani: vivências e reflexões pedagógicas entre Brasil e Portugal
Resumo: No âmbito dos estudos de gênero, das teorias críticas da raça/etnicidade, da educação popular e da construção social do anticiganismo, este trabalho pretende abordar questões relevantes acerca do trabalho investigativo em desenvolvimento intitulado “O anticiganismo pela perspectiva de gênero de mulheres romani: vivências e reflexões pedagógicas entre Brasil e Portugal”. A questão a ser abordada refere-se ao reconhecimento de cenários comprometidos com os olhares, pensares e fazeres das mulheres de etnia romani, tornando visível como os dois países enfrentam suas questões reais e estruturais. Uma vez que no campo da educação popular e da pedagogia feminista, tais práticas partem das epistemologias dos Estudos Feministas e procedem de uma proposta investigativa que articula educação e investigação numa concepção problematizadora dos processos formativos. Assim a Pedagogia Feminista, nessa perspectiva, também assume o papel de sintetizar as referências teórico-metodológicas da Educação Popular e da filosofia feminista, com características e procedimentos metodológicos adequados ao trabalho de investigação. Sobretudo, constitui-se como um método estratégico com vocação educativa preocupado em contribuir, refletir e propor resoluções para os problemas sociais, também por uma perspectiva interseccional. Diante disso, é relevante destacar que investigar com/sobre as mulheres roma/romani/ciganas no Brasil e em Portugal contribui para o alargamento das teorias pedagógicas, antirracistas e feministas, que é um compromisso metodológico, epistemológico e ontológico de enfrentamento ao anticiganismo e as assimetrias de poder.
Palavras-chave: Mulheres romani; Educação popular; Pedagogia feminista.
E-mail: wlianegodinho@gmail.com
Gomes, Flávia Nogueira
Universidade: Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismo (PPGNEIM), Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Título: O palco como aliado das juventudes trans: é possível uma educação para a diversidade?
Resumo: A saída de jovens trans do armário para o palco, passando pela sala de estar, não é uma “performance” fácil. É complexa e acumula em si muitas camadas de medo e insegurança, reflexo de uma sociedade preconceituosa e violenta. Em contextos de sociabilidade, importante reconhecer a potência de certos espaços como fecundos e propícios para a abordagem crítica de temas caros, capaz de promover diálogos e proporcionar (con)vivências mais respeitosas e tolerantes, entre as diversas expressões de identidades de gêneros e sexualidades (BUTLER, 2021). O papel social desses espaços deve ser colaborativo, sendo de fundamental importância para a promoção da igualdade e adoção de medidas eficazes, capazes de assegurar bem-estar, integridade e dignidade em cenários institucionais fortalecendo o acesso à justiça social e cidadania (CAMPOS & CAVALCANTI, 2020). O objetivo é apresentar a importância da educação no combate ao preconceito e violências produzidas sobre corpos dissidentes, a partir de narrativas de integrantes de um projeto socioeducativo no Brasil. Como resultado parcial, busca-se elencar os principais conceitos, atitudes e reflexões absorvidas e narradas por jovens trans no percurso de suas histórias de vida e contextos relacionais, bem como, compreender como se dá a construção identitária das juventudes (ABRAMOVAY & CASTRO, 2015) no âmbito de diversidades de gêneros e sexualidades. Utiliza-se abordagem qualitativa, com base em histórias de vida de jovens a partir dos dezoito anos, autodeclarados trans. A metodologia está enquadrada na interdisciplinaridade e viés feminista-queer, utilizando procedimentos de captação qualitativa e de aproximação com jovens vinculados à vivências educativas inscritos em programa sócioeducativo, residentes na Região Metropolitana de Salvador, para o ano de 2024.
Palavras-chave: gêneros; juventudes; educação; diversidade; LGBT+.
E-mail: flavia.gomes@ufba.br
Harakassara, Emmanuela
Universidade: Doutoramento em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)/ bolsista CNPq.
Título: O ritual generificado: as Incelenças de Barbalha e a Irmandade de Penitentes da Cruz na construção de feminilidades e masculinidades no ritual de cantar as excelências no Cariri cearense.
Resumo: Nesta comunicação, meu objetivo é explorar a complexa relação entre gênero e religião no ritual de entoar excelências no Sítio Cabeceiras, em Barbalha, Ceará. Na pesquisa de doutorado que estou realizando, essa relação complexa é examinada a partir do grupo de Incelenças formado exclusivamente por mulheres e da Irmandade de Penitentes Irmãos da Cruz, composto exclusivamente por homens. Os dois grupos, a partir de anos e contextos distintos, passaram a ser organizados pelo poder público municipal de Barbalha. Os religiosos que integram esses grupos (mulheres e homens) preservam a tradição de cantar as excelências ou incelências em homenagem às pessoas que faleciam nessa localidade. No contexto das disputas pelo controle do capital religioso tanto na esfera pública quanto na privada, homens e mulheres que pertencem aos grupos criam papéis de gênero para a execução do ritual. Os homens, em colaboração com representantes da Secretaria de Cultura e Turismo de Barbalha, organizam, estabelecem e determinam quais as canções que as mulheres podem entoar, assim como os defuntos para os quais elas têm permissão de conduzir o rito. A pesquisa vem sendo desenvolvida com o uso da História Oral como procedimento metodológico, partindo das entrevistas realizadas com os integrantes dos grupos de Incelenças de Barbalha e da Irmandade de Penitentes Irmãos da Cruz. Os resultados iniciais da pesquisa indicam que a prática ritual de cantar as excelências naquela localidade não ocorria com tanta rigidez dos papéis de gênero antes da intervenção do poder público municipal e da invenção do grupo de Incelenças de Barbalha, formado por mulheres.
Palavras-chave: Brasil; Religião; Incelencas, Poder Público; História oral.
E-mail: harakassara@gmail.com
Horst, Jasmine Aparecida dos Santos
Universidade: Doutoramento em Letras na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – Unicentro/ Bolsista de Doutorado da CAPES
Título: Vozes e escritas apagadas: o silenciamento de Narcisa Amália de Campos no Brasil do século XIX
Resumo: O Brasil vivia o Segundo Reinado do Período Imperial. Dom Pedro II ocupava o trono desde 1840, a Revolução Industrial ganhava o mundo, causando grandes transformações dentro da sociedade, enquanto as relações dentro do Brasil andavam a passos lentos no que diz respeito à forma como homens e mulheres eram vistos dentro da sociedade. As mulheres eram criadas, desde a infância, para que desempenhassem, com maestria, suas funções como boas filhas, boas esposas e boas mães. Qualquer perfil feminino que fugisse daquilo que era socialmente esperado, era visto com maus olhos, e este foi o caso de Narcisa Amália de Campos, a poetisa, escritora, e primeira jornalista profissional do país, ousou ultrapassar essa linha do que era considerado correto pela sociedade da época, expôs opiniões polêmicas, que incluíam a defesa dos direitos das mulheres, o antiescravismo e a predileção pelo republicanismo, o que a fez sofrer com boatos, julgamentos e inverdades acerca de sua vida pessoal, que atingiram diretamente sua carreira e provocaram certo apagamento em vida e ainda, depois de sua morte. As temáticas e o fazer literário de Narcisa chamaram a atenção de gigantes da época, como Machado de Assis, que reconheceu publicamente a importância da autora. Narcisa faleceu aos 72 anos, no Rio de Janeiro, vítima de diabetes. Ela estava cega, pobre e com problemas de mobilidade. Além disso, sua obra foi praticamente esquecida durante anos depois de sua morte. Portanto, a pesquisa tem como foco explanar a literatura de poemas e crônicas produzida por Narcisa Amália, esmiuçar as temáticas por ela tratadas, e trabalhar os conceitos de Representação, de Chartier (2002), Memória, de Halbwachs (1990), Identidade, de Hall (2006) e Bauman (2005), além de tratar da questão feminina no discurso literário, utilizando os conceitos de Teixeira (2009) e (2008), tudo isso sendo amparado pelos Estudos Culturais.
Palavras-chave: Brasil; Escrita Feminina; Estudos Culturais, Identidade; Memória.
E-mail: jashorst@gmail.com
Lopes, Iuri Garcia
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais.
Título: Quem diria? Contradições entre o quê a teoria crítica feminista fala e como fala
Resumo: A proposta deste ensaio é refletir sobre as contradições entre discurso e linguagem em teoria crítica feminista queer a partir da leitura do capítulo introdutório do livro A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual, escrito por Berenice Bento, publicado pela primeira vez em 2003 e com uma terceira edição distribuída em 2017. No trecho escolhido, a autora apresenta um discurso que foi recebido pela crítica brasileira especializada como provocativo por abordar o gênero a partir da performatividade e não de referência essencialista, entretanto ao aprofundar na linguagem, nas palavras escolhidas pela autora, pode-se perceber a presença concreta de um sistema de gênero binário, mostrando que a lógica patriarcal está enraizada. Ao descrever uma de suas entrevistadas, a autora evidencia atributos femininos desejados e cobrados por essa sociedade (cabelos loiros compridos, pele clara e depilada, alta e com salto, magra e torneada) para, em seguida, perguntar a pessoa leitora quem imaginaria que essa mulher é transexual. A autora, que reproduz na linguagem a violência que ela denuncia no texto, mostra que seja na escolha dos artigos ou na construção das frases, o discurso inclusivo e não-violento mostra-se constituído por escolhas excludentes, estigmatizantes e violentas. Considerando os conceitos de performatividade e materialização dos corpos desenvolvidos por Judith Butler e as análises de Sara Ahmed sobre a linguagem como um espaço que precisa ser invadido, reflete-se sobre a necessidade de teoria crítica feminista queer que esteja ancorada na linguagem, de forma não violenta.
Palavras-chave: Linguagem; Performance; Performatividade; Identidade, Feminismos.
E-mail: iuriglopes@gmail.com
Martinez, Fabrina
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais.
Título: Escritas depois da morte: o luto pela mãe como impulso criativo
Resumo: São muitas as mães que permanecem vivas na literatura. Seja nos contos de fadas ou em romances contemporâneos escritos por autoras declaradamente feministas, a morte da mãe tem sido o ponto de partida de narrativas que apresentam uma questão tão perturbadora quanto interessante: o que é a mãe além de uma mulher que não morre? Simone de Beauvoir e Annie Ernaux; em Uma morte muito suave (1964) e Uma mulher (1987), respectivamente; se mantiveram abaixo da literatura para escrever sobre o adoecimento, a morte e o luto por suas mães. A proposta desta comunicação é apresentar uma análise de como essas escritoras se apoiaram na linguagem para descrever sua relação com as mães, a maternidade e dizer o indizível, bem como, entender se é possível dizer que quando duas escritoras declaradamente feministas escrevem sobre maternidade, a morte da própria mãe e seu luto elas estariam escrevendo uma história feminista. É preciso dizer que no que diz respeito à análise dos textos de Simone de Beauvoir e Annie Ernaux serão considerados os trechos em que elas descrevem o momento da morte da própria mãe e como elas decidem escrever ou tomam decisões sobre escrita a partir dessa ausência, perda ou angústia. Já no que diz respeito às teorias críticas feministas e feministas queer, serão considerados os trabalhos de Adrienne Rich em Of Woman Born: Motherhood as Experience and Institution (1985) e Sara Ahmed em Viver uma vida feminista (2002).
Palavras-chave: Maternidade, Orfandade, Feminismo, Literatura, Luto.
E-mail: fabrinam@gmail.com
Migliore, Mariacristina
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, FLUC/CES, Universidade de Coimbra
Título: Subversões da feminilidade na literatura de Cassandra Rios
Resumo: Entre mitos de triunfos e de maldição, a obra literária de Cassandra Rios (1932-2002) tem alcançado um certo grau de notoriedade nos recentes interesses de investigação no âmbito dos estudos literários de língua portuguesa. A grande maioria da ficção desta escritora centra-se na representação, muitas vezes explícita, de sexualidades dissidentes, assunto que a tornou alvo dos ataques difamatórios e da censura nas décadas do regime ditatorial (1964-1985) no Brasil.
Na abordagem da literatura de Rios, a crítica atual tem vindo a privilegiar enfoques que elegem perspetivas teóricas queer e lésbico-feminista, pois o romance cassandriano versa a temática do sentimento homoafetivo e da pulsão homoerótica entre mulheres enquanto tópicos dos mais caracterizantes. A dissidência inerente a este tipo de representação faz com que o conceito de feminilidade se ligue, inclusive de modo indissociável, ao modelo de sexualidade proposto pela narração, efetivando o afastamento do padrão de feminilidade dominante nos ambientes socioculturais relativos ao cenário de cada obra.
O interesse da presente comunicação será de apresentar alguns dos momentos mais emblemáticos de subversão do feminino tradicional na obra de Rios. A feminilidade figura como um tema ainda entre os mais debatidos nos espaços feministas e permanece elemento de questionamentos também nos estudos das representações LBT (lésbicas-bissexuais-transgender) pela sua forte implicação com – e consequente manutenção de – os padrões cisheteropatriarcais que condicionam as identidades de mulher. Seguir-se-á uma análise dos modos e da subtileza com que Cassandra Rios conseguiu concretizar uma obra de desconstrução do conceito de feminilidade hegemónica a partir do empoderamento sexual e através da perspetiva subversiva das suas personagens de mulher, desmascarando, por meio da sua prosa, a feminilidade enquanto construção social dissociada da materialidade biológica, uma ficção que se esconde por trás das prescrições normativas patriarcais (BEAUVOIR, 1970).
Palavras-chave: feminilidade; literatura feminista; literatura LGBTAIQ+; literatura brasileira; Cassandra Rios.
E-mail: mariacristinamigliore@ces.uc.pt
Morais, Daniel Alexandre dos Santos
Universidade: Doutoramento de Estudos Feministas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Título: Preconceito e Transexualidade: encruzilhadas e horizontes ao reconhecimento das identidades Trans no Portugal Contemporâneo
Resumo: Em maio de 1991, surge pela primeira vez na Assembleia da República, a expressão transexualidade. Numa época em que o panorama jurídico português oferecia um total vazio legislativo para responder a questões colocadas por pessoas trans que pretendiam realizar mudança de sexo, a Ordem dos Médicos afirmava como “contrassenso” fazer intervenções em “corpos biologicamente saudáveis”.
Em 2010, o tema reentra na Assembleia da República com a proposta de criação de um procedimento de mudança de sexo e de nome próprio no registo civil para as pessoas a quem tenha sido clinicamente diagnosticada uma perturbação de identidade de género. Tema que leva à consagração da Lei nº. 7/2011, de 15 de março.
Mais tarde, com a Lei nº. 38/2018 de 7 de agosto, passa a ser reconhecido o direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa, sem fazer depender de terceiros a definição daquilo que se é, nomeadamente de um diagnóstico de saúde mental.
De acordo com esta transformação legal deixa de ser necessário uma correspondência entre a identidade de género e o sexo biológico para efeitos de inscrição do descritivo sexo no cartão de cidadão e no registo civil.
O reconhecimento da identidade de género integra em si uma importante conquista no campo dos direitos humanos mas, perante tais mudanças legislativas, importa questionar: estaremos numa sociedade que está a mudar para melhor? O que falta garantir à consagração plena da autodeterminação da identidade e expressão de género na sociedade portuguesa?
Nesta comunicação pretende-se abrir a discussão em torno dos desafios ao reconhecimento da autodeterminação das identidades trans em Portugal de forma a contribuir para a compreensão dos discursos e práticas que resistem à afirmação e inclusão dos corpos e identidades trans na sociedade portuguesa.
Palavras-chave: Autodeterminação de Género; Estudos Trans; LGBTQIA+; Feminismos; Transfobia.
E-mail: daniel.cbr@hotmail.com
Neto, Daniela Sofia
Universidade: Doutoramento em Sociologia, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Título: Assédio Sexual nas Instituições de Ensino Superior em Portugal: das respostas institucionais à solidariedade estudantil
Resumo: O assédio sexual surgiu enquanto conceito no encalce dos debates feministas da década de 1970 associado à esfera laboral e, neste sentido, no que diz respeito às Instituições de Ensino Superior (IES), apenas nos últimos anos têm surgido estudos focados neste contexto. A revisão da literatura tem permitido compreender que se trata de um fenómeno com uma elevada prevalência, caraterizado por estruturas hierárquicas enraizadas, pela normalização da violência de género e de mitos e estereótipos em torno da violência sexual e por uma cultura organizacional que continua a remeter este fenómeno aos escombros do silenciamento (Bondestam & Lundqvist, 2020).
Em Portugal, os estudos sobre o assédio sexual nas IES têm sido escassos face à magnitude deste problema, que tem estado cada vez mais presente sobretudo na agenda dos meios de comunicação social. Neste sentido, o ano de 2021 foi marcado pela primeira vaga de denúncias de assédio sexual no contexto académico e, acima de tudo, pela solidariedade estudantil. Através do digital, foi possível derrubar o silêncio com relatos e, sobretudo, com o ativismo e a mobilização estudantil para denunciar o patriarcado e o assédio sexual.
A presente comunicação objetiva 1) conhecer as respostas por parte de instâncias superiores (e. g. trabalho desenvolvido pelos ministérios, assim como propostas feitas por partidos com assento parlamentar); 2) analisar como as IES têm tratado os casos; 3) dissecar o papel do movimento estudantil na mobilização em torno do problema, através de redes organizadas e de posições tomadas pelas associações académicas.
Os resultados preliminares permitem aferir sobre a falta de respostas institucionais para lidar com o problema, seja por parte das instâncias superiores, como por parte das IES. No entanto, salientam-se as redes de solidariedade e coletivos que emergem no movimento estudantil, como forma de denunciar e fazer face a este problema.
Palavras-chave: assédio sexual; instituições de ensino superior; violência de género; movimento estudantil; movimento feminista.
E-mail: danielaneto@ces.uc.pt
Oliveira, Marcela Ferreira
Universidade: Doutoranda em Estudos Feministas da Universidade de Coimbra – FLUC / CES.
Título: Análise da Lei 11.645/2008 a partir do feminismo decolonial
Resumo: Este ensaio tem como proposta analisar a Lei nº 11.645/2008 sob a à luz do feminismo decolonial. Para isso, o texto abordará a importância da Lei nº 11.645/08, que inclui no currículo escolar o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, como um passo crucial para desafiar a hegemonia eurocêntrica do conhecimento. Essa legislação foi um importante passo na redefinição das diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Seu objetivo principal é promover a compreensão da formação da sociedade brasileira a partir dos dois grupos étnicos mencionados, destacando a importância do negro e do indígena na construção da identidade nacional. Conforme previsto pela própria Lei, busca-se recuperar as contribuições desses grupos em áreas sociais, econômicas e políticas que moldaram a história do Brasil. Isso implica reconhecer os negros como agentes históricos e valorizar as obras e ideias de importantes intelectuais negros e indígenas brasileiros, além de abordar aspectos culturais como música, culinária, dança e religiões de origem africana e indígena.
O feminismo decolonial é apresentado como uma lente crítica que destaca a necessidade de representatividade e desconstrução das estruturas de poder que marginalizam mulheres negras e indígenas. Além disso, discute-se o epistemicídio racial, que silencia e exclui os saberes e culturas afro-brasileiras e indígenas do currículo educacional. Por fim, a pedagogia crítica é mencionada como uma abordagem essencial para desmantelar as hierarquias de poder presentes na educação e promover uma reflexão profunda sobre identidade, conhecimento e relações sociais. Esses elementos convergem para a necessidade de uma educação verdadeiramente decolonial, inclusiva e antirracista.
Palavras-chave: Ensino; Lei nº 11.645/2008; feminismo decolonial; epistemicídio racial; pedagogia decolonial crítica.
E-mail: marcela.oliveira@live.com
Pinheiro, Maria Da Luz Quintão De Jesus
Universidade: Doutoramento em História de Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ARTIS – Instituto de História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Título: Para quando o que nos é devido? - Da representação do aborto na produção artística e o direito à autonomia do corpo feminino no final do século XX em Portugal
Resumo: A presente comunicação tem como objectivo reflectir acerca da condição feminina em Portugal durante o final do século XX, analisando a questão do aborto e o modo como este afectou socialmente o género feminino. A produção artística e literária, enquanto media criativos exploraram, denunciaram e promoveram o debate sobre a interrupção voluntária da gravidez, motivando reacções diversas em termos políticos, sociais, legislativos. Esta comunicação estabelece o diálogo entre a série de pinturas realizadas pela artista portuguesa Paula Rego sobre o aborto (1998); algumas das Novas Cartas Portuguesas (1972), escritas a três mãos por Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno e, por reconhecer a importância do panorama internacional para o modo como o aborto era considerado em Portugal, é também analisado o filme do cineasta francês Claude Chabrol – Une affair de femmes (1988). Estas obras devem ser compreendidas dentro do enquadramento em que foram produzidas, ainda que os media debatidos sejam tão distintos, apresentam um propósito comum: denunciar e legitimar o direito da mulher à interrupção voluntária da gravidez, evitando a ostracização de todos os intervenientes no procedimento. Num período em que cada vez mais os direitos conquistados e a autonomia das mulheres em relação aos seus corpos contestada, é importante retomar os testemunhos desenvolvidos nos diversos media, que demonstram a urgência de recordar não só a fragilidade como também a relevância dos direitos da mulher. Apesar de terem sido realizadas no final do século XX, estas obras permanecem actuais, merecendo serem trazidas para o debate pela forma como registam a violência e o perigo associado ao aborto clandestino.
Palavras-chave: Pintura; Cinema; Literatura; Aborto; Feminismo; Corpo Feminino.
E-mail: m.luz@campus.ul.pt
Roeber, Ana Maria Martins
Universidade: Doutoramento em estudos Feministas - Universidade de Coimbra/ Instituto Federal Santa Catarina
Título: Estudos Feministas e Estudos da Maternidade: lacunas e intersecções
Resumo: Não obstante a inegável evolução, no que tange aos estudos sobre a maternidade, o tema ainda é sensível e tem suscitado ao longo dos tempos reações complexas e ambivalentes nos estudos feministas. Desde a completa rejeição da experiência pelos feminismos radicais do pós-guerra, que a relacionavam à opressão das mulheres e ao seu aprisionamento no universo privado do lar, até reações mais moderadas nas últimas décadas (as quais, no entanto, alertam para os perigos de se romantizar a experiência), o fato é que a maternidade ainda é um tema tabu nos feminismos. Eu defendo, conforme afirma Tatjana Takševa, no artigo “Motherhood Studies and Feminist Theory Elisions and Intersections” (Journal of the Motherhood Initiative, Nro 177), a necessidade de se reconhecer a centralidade da maternidade na vida de muitas mulheres ou, em outras palavras, que o feminismo “cannot possibly hope to remain relevant without acknowledging motherhood in all its contradictions and complexities” (997). Assim eu me proponho, neste trabalho, a estabelecer um diálogo, a partir do texto de Takseva e com base nas categorias propostas por Andrea O’Reilly para a disciplina de Estudos de maternidade no novo milénio – experiência, identidade e, políticas, e agenciamento – (O’Reilly, 21st Century Motherhood), acerca da evolução dos estudos sobre a maternidade, buscando verificar possíveis intersecções entre esses estudos e o feminismo de terceira onda. Defendo, alinhada com as teóricas mencionadas, o reconhecimento dos estudos sobre maternidade, no contexto da terceira onda do movimento feminista, bem como a inclusão desses estudos nos programas e agendas feministas e de género.
Palavras-chave: Maternidade; Feminismos; Intersecções; Lacunas.
E-mail: anamaria.martins@ifsc.edu.br
Santiago, Isabeli
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas, FLUC-CES.
Título: Reescrever a paisagem – Uma contra-proposta feminista para repensar a memória coletiva a partir da cultura visual urbana: o caso da cidade do Porto
Resumo: Cidades são o domínio espacial onde a reificação do patriarcado se monumentaliza. Em outras palavras, são maquetes patriarcais gigantes onde variados sistemas de dominação convergem e se manifestam simbólica e materialmente. Além de condicionar e regular o acesso aos espaços, o poder se estabelece a partir da paisagem urbana sob a forma de códigos sociais, políticas urbanas, planos diretores; ou ainda através do desenho espacial, da arquitetura, toponímia, equipamentos públicos e arte pública, etc.
Considerando as origens patriarcais da história da cidade, esta comunicação parte de elementos da paisagem urbana – topónimos, sinaléticas públicas, obras de arte e monumentos públicos - para examinar o impacto discursivo da monumentalização patriarcal nos processos de construção de memória coletiva, especialmente relacionados às histórias de mulheres. À luz de epistemologias feministas e metodologias transdisciplinares, enquadrando a cidade como “espaço de ação que pode ser ocupado, reconfigurado e reescrito” (Medeiros, Alícia. Santiago, Isabeli. 2022) esta análise propõe - a partir do caso de estudo do Tour Feminista e da cidade do Porto – estratégias para reagir à “cidade patriarcal”. Neste sentido, pretende também estabelecer diálogo com investigações que derivam deste tópico, de forma gerar impacto em outros setores sociais além-Academia, contribuindo com políticas públicas (urbanas, culturais, pedagógicas, etc).
Palavras-chave: historiografias feministas, historiografia e cultura visual urbana, memória coletiva, Tour Feminista do Porto, Mulheres nas artes, literaturas e culturas.
E-mail: isabeli.hda@gmail.com
Senlle, Renata Garcia
Universidade: Doutoramento em Estudos Feministas da Faculdade de Letras (FLUC) e Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
Título: Panorama das políticas públicas e redes de apoio formais para famílias monoparentais no Brasil e em Portugal
Resumo: Este trabalho é parte da pesquisa de doutorado que busca investigar as práticas e percepções sobre o trabalho de cuidado com os/as filhos (as) exercidas pelas mães solo imigrantes brasileiras em Portugal. Apoiada em teorias sociológicas e feministas interseccionais, a pesquisa parte da coleta de informações para levantar o panorama atual sobre as políticas públicas de apoio ao trabalho de cuidado - disponíveis ou em disputa - voltadas para mães em ambos os países. Décadas de conquistas feministas não nos livraram de um problema central: o não reconhecimento e a desvalorização do trabalho de reprodução social (trabalho doméstico e do trabalho de cuidado) como fundamentais para a manutenção da sociedade como conhecemos hoje. Logo, pretende-se cruzar os achados sobre as políticas públicas com a Crise de Cuidado (Arruza; Bhattacharya e Fraser, 2019), tendo como base a análise realizada por essas teóricas feministas que sinalizam o ponto de ebulição alcançado pelo capitalismo neoliberal, e que se tornaram ainda mais críticos desde a pandemia da Covid-19, quando se viu a regressão da permanência das mulheres no mercado de trabalho, o acúmulo de jornadas de trabalho e o esgotamento da apropriação do trabalho de reprodução social, realizado majoritariamente pelas mulheres, sem preocupação com a sua reposição; levando as mulheres à exaustão.
Palavras-chave: Feminismos; Maternidades; Migrações; Trabalho de Cuidado; Trabalho Reprodutivo.
E-mail: resenlle@hotmail.com
Sequeteiro, Farida Rabia
Universidade: Doutoramento em Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria, integrante do PG de Estudos Culturais e Audiovisualidades.
Título: Práticas Culturais Nocivas como Catalisador da Violência de Gênero e seu Impacto na Identidade da Mulher: O Caso do Rito de Iniciação Emuali em Nampula- Moçambique
Resumo: As práticas culturais acontecem em todos os lugares do mundo e muitas delas servem para diferenciar uma etnia das outras. No entanto, é necessário considerar que algumas dessas são caracteristicamente nocivas e prejudiciais, principalmente para as mulheres, o que leva muitas vezes para o aumento no número de violência de gênero contra mulheres e raparigas em Moçambique, com foco no Rito de Iniciação Emuali em Nampula. O rito de iniciação Emuali é uma tradição importante, mas algumas de suas práticas podem perpetuar a desigualdade de género e contribuir para a violência contra as mulheres e raparigas o que pode interferir na formação das identidades das mulheres. Com o objetivo de analisar essa prática cultural e suas implicações na identidade das mulheres e na promoção dos direitos das mulheres e raparigas em Moçambique, elaboramos esta comunicação como um dos mecanismos que possa trazer mais pontos importantes que contribua para maximizar a conscientização e o empoderamento das delas. O texto será construído com base na pesquisa bibliográfica e documental para a exploração dos conceitos bem como uma busca pelos documentos que tem como fundamento a proteção da mulher. Para um estudo mais aprofundado, teremos também o suporte de questionários dirigidos às mulheres que conhecem ou já foram submetidas aos ritos de iniciação e como que a prática impactou nas suas vidas. É importante frisar que a pesquisa não tem o intuito de desvalorizar a prática, mas buscar lentes que possam ajudar na compreensão dos elementos enraizados nelas que são desfavoráveis e prejudiciais às mulheres.
Palavras-chave: Práticas culturais; Violência de género; Desigualdade de Género; Conscientização; Empoderamento.
E-mail: farida.sequeteiro@cad.ufsm.br
Silva, Kenia Adriana Reis da; Gonçalves, Lara Piedade Barbosa; Fernandes, Janaína Teles
Universidade: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Título: O papel das mulheres na transição democrática de Portugal: perspectivas dos movimentos feministas
Resumo: A transição democrática em Portugal, marcada pela Revolução de 25 de Abril de 1974, foi significativamente influenciada por mulheres que se organizaram em movimentos feministas e associações de mulheres para defender direitos e igualdade de género. Este estudo tem como objetivo revelar as contribuições dessas mulheres, abordando a lacuna histórica na compreensão do seu papel na democratização de Portugal. Através de uma análise aprofundada do envolvimento das mulheres em movimentos sociais, associações locais e organizações feministas antes, durante e após 1974, esta pesquisa explora as estratégias, desafios e sucessos desses movimentos.
Baseando-se na pesquisa arquivística de estudiosas como Tavares (2000; 2011) e Magalhães (1995), e empregando uma metodologia qualitativa que inclui história oral e entrevistas semiestruturadas, documentamos as experiências vividas de quatro ativistas femininas. A análise de conteúdo temática dessas entrevistas revela como as mulheres influenciaram a evolução da política de gênero e o cenário sociopolítico mais amplo em Portugal pós-revolução.
Os resultados destacam a natureza única dos feminismos portugueses durante este período, caracterizada por uma multiplicidade de movimentos, cada um abordando questões interseccionais como educação, direitos trabalhistas, igualdade salarial, direitos reprodutivos e visibilidade social. O estudo sublinha o papel crucial das mulheres na advocacia por reformas legislativas e mudanças sociais.
Ao trazer à tona as vozes daqueles historicamente marginalizados, esta pesquisa não só enriquece a narrativa histórica, mas também fornece valiosas percepções sobre a dinâmica de poder, resistência e transformação social associada ao movimento feminista em Portugal. O estudo oferece uma compreensão abrangente do impacto do ativismo das mulheres nos processos democráticos e na contínua luta pela igualdade de gênero, contribuindo assim para um discurso mais amplo sobre os papéis das mulheres nas transições democráticas globalmente.
Palavras-chave: 25 de abril; movimentos feministas; transição democrática portuguesa; participação feminista; história oral.
E-mail: keniadrica@hotmail.com; up201801952@edu.fpce.up.pt; larapbgoncalvess@gmail.com; janaina01teles@gmail.com; cardosoohiago@gmail.com
Soares, Jane de Jesus
Universidade: Doutoramento do Programa de Pós-graduação do núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM), Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Título: Mulheres negras: Os dados anunciam trabalho e desigualdade
Resumo: No contexto histórico patriarcal brasileiro as mulheres negras encontram-se em situação de desigualdades racial e de gênero, fenômeno que podemos observar também no mercado de trabalho. No século XIX, segundo dados do censo de 1855 as mulheres trabalhavam em diversas áreas: costureira; engomadeira; ganho; negócio; quitandeira; criadas e ama de leite, executavam vários trabalhos em torno dos lares de pessoas mais abastadas. Nos dias atuais, os indicadores PNADC/IBGE/2022 apontam para a situação desfavorável da população negra no mercado de trabalho, em especial das mulheres negras que encontram-se em maior número em taxa de desemprego 22,1%, se comparado a 13,8% das mulheres brancas e 16,1% dos homens. São maioria desproporcional de subutilizadas 66,1%, e na informalidade, quase 13% a mais que brancos, recebem salários menores, e são minoria em cargos gerenciais, apenas 29,9%. E maioria nas atividades precárias, tais como: empregada sem carteira de trabalho assinada 3,9%; trabalhadoras doméstica sem carteira de trabalho assinada 3,7%, entre os empregados domésticos sem carteira assinada 81% eram mulheres negras (SEI/BA,2022). Está problemática faz parte de uma pesquisa de doutoramento em andamento no Programa de pós graduação em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero, feminismo (PPGNEIM) da Universidade federal da Bahia (UFBA) e a comunicação tem como objetivo apresentar dados históricos e demográficos do trabalho das mulheres negras nos séculos XIX e XX. Metodologicamente, a pesquisa se ampara no mapeamento e análise de dados do censo de 1855, e os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010/2022, da Pesquisa nacional por Amostra de Domicilio (PNAD) Continua e da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI/BA). Esses dados demonstram a manutenção das mulheres negras em atividades e ocupações relacionadas ao trabalho doméstico, nas áreas de cuidados e na informalidade.
Palavras-chave: mulheres negras; desigualdade; gênero, raça; trabalho.
E-mail: jj.soares70@hotmail.com