Colóquio Internacional

TRABALHO, ECONOMIA E SOCIEDADE: transversalidades emergentes

13 e 14 de outubro de 2023

Auditório, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Apresentação

Inserido nas comemorações dos 50 anos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), o colóquio internacional “Trabalho, Economia e Sociedade: transversalidades emergentes” lança um apelo a que se coloque o fator “trabalho” no centro de uma reflexão coletiva destinada a analisar criticamente as dinâmicas económicas e sociais do nosso tempo. Faz-se igualmente jus a uma das problemáticas que tem sido objeto de investigações realizadas no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), assim como elemento estruturante dos processos de ensino/formação ao abrigo da oferta doutoral em que o CES e a FEUC têm cooperado ativamente.

De um ponto de vista sócio-histórico, é importante recordar o papel das lutas laborais desde a primeira metade do século XIX, por sinal um pilar crucial para a dignificação das condições de vida e de trabalho, bem como para a estruturação da identidade do operariado moderno enquanto classe social. Como corolário disso, o século XX espelhou conquistas fundamentais, de que a redução de jornada de trabalho para as 8 horas diárias é apenas um exemplo, por sinal remetendo para um tema sobre o qual versou a primeira convenção da Organização Internacional do Trabalho, criada em 1919. De igual modo, o Estado-Providência e todo o edifício legislativo que consubstanciou o direito do trabalho, sobretudo desde o pós-guerra até aos anos 80, foram um garante de estabilidade e segurança no salário, nos horários e nas condições de trabalho. Em Portugal este processo ocorreu sobretudo na sequência da revolução democrática operada com o 25 de Abril de 1974. Mas as últimas décadas, ao testemunharam uma intensificação da globalização neoliberal e da financeirização da economia, contribuíram também para um aprofundamento da mercadorização do trabalho e para acentuar a fragilidade dos atores coletivos e a ineficiência das políticas públicas. As crises no território europeu e a austeridade geraram processos de exclusão que aumentaram a precarização do trabalho e das relações laborais, e acentuaram as desigualdades preexistentes, de modo particularmente mais evidente nos países periféricos do Sul da Europa.

Tendo presentes algumas destas transformações socioeconómicas contemporâneas, este colóquio centra-se preferencialmente na realidade portuguesa, desafiando os/as participantes a mapear problemas que rodeiam o mundo do trabalho e a identificar formas de os superar – as transversalidades emergentes – sob vários prismas de análise: sociológicos, económicos, jurídicos, históricos, políticos, entre outros. Se as conferências de abertura e de encerramento têm por missão rasgar horizontes de forma transversal, as sessões temáticas incidem sobre temas mais concretos, ainda que seja inevitável a articulação e combinação entre eles.

A primeira temática abordada constitui um convite a situar o trabalho no quadro da economia portuguesa, sem igualmente deixar de equacionar respostas encetadas no domínio da proteção social. Em segundo lugar, é inevitável colocar em confronto a emergência de novas dinâmicas no mundo do trabalho e realidades que prevalecem do passado, o que por si só apela a debates sobre formas, vínculos ou instrumentos de trabalho, ou sobre modos de organização e prestação de trabalho. Em terceiro lugar, discutir-se-ão a forma como os vários fatores de desigualdade, designadamente a desigualdade de género, se manifestam no mundo trabalho, determinando fenómenos de segregação, de discriminação e mesmo de violência e de assédio com impactos individuais e coletivos. De igual modo, a conexão do trabalho com a questões do diálogo social (nas suas múltiplas formas e escalas de análise) é instigadora de uma perceção sobre os seus resultados e envolvimento dos seus atores, deixando em aberto a possibilidade de inclusão de novos temas e protagonistas. 

Em resumo, com este colóquio pretende contribuir-se para uma valorização efetiva do trabalho, chamando a atenção para a necessidade de refletir sobre a sua centralidade. Os contributos de especialistas de diversas áreas académicas, disciplinares e institucionais, concorrem para esse propósito de uma forma dupla. Quer pelo mapeamento de problemas e diagnósticos, quer pelas sugestões de caminhos concretos a seguir, se possível ancorados em opções realistas de dignificação laboral.

A 11 de outubro de 2023, antecedendo a realização deste colóquio, a conferência «Acceleration and the World of Work», proferida por proferida por Hartmut Rosa, conhecido cientista social e político dedicado, entre outros temas, ao estudo da aceleração social enquanto característica da modernidade, problemática que o autor desenvolve a partir de um olhar da teoria crítica, funciona como antecâmara do evento.


[Inscrição gratuita, mas obrigatória] > Será possível receber novas inscrições nos dias deste evento devendo os/as interessados/as efetuá-las no balcão de acolhimento da atividade, na FEUC


Comissão Organizadora | Ana Alves da Silva, António Casimiro Ferreira, Hermes Augusto Costa, João Rodrigues, Manuel Carvalho da Silva, Rosa Monteiro, Teresa Maneca Lima