CONVERSA + DEBATE | SHARP TALKS

Há direitos humanos na psiquiatria? Saúde mental e justiça social na encruzilhada

Sílvia Roque

Tiago Pires Marques

7 de julho de 2021, 15h00 (GMT+1)

Evento em formato digital

Resumo

Recentemente, o tema da saúde mental tem escapado ao domínio exclusivo da Psiquiatria para habitar outros espaços teóricos e de lutas coletivas. Isto tem transformado o entendimento sobre o tema, de uma interpretação essencialmente biomédica para um debate público sobre as determinantes sociais da saúde mental, inclusive como um direito humano. Esta Sharp Talk vai dedicar-se a refletir e discutir sobre esses caminhos que não são novos, mas que têm estado em evidência no debate público.

Psicofobias | Tiago Pires Marques, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Nesta intervenção, que tem por pano de fundo o contexto pandémico, avanço duas provocações, com o objetivo de estimular o debate sobre algumas tendências contemporâneas observáveis no campo da saúde mental. Na primeira, partindo do reconhecimento do paradigma da disability como matriz hoje fundamental no plano dos direitos humanos, questiono este mesmo paradigma pelo risco que comporta de negação do sofrimento psíquico e das necessidades emocionais daqueles que vivem com diagnóstico psiquiátrico. A segunda provocação parte igualmente da constatação do apelo salutar à colocação dos direitos humanos no centro das abordagens em saúde mental. Porém, quando observado à luz de práticas que sugerem estar em curso uma intensificação do paternalismo médico, não corre este discurso o risco de se transformar na ideologia necessária ao reforço do modelo biomédico? As guerras no mundo psy em torno das identidades transsexuais são uma das ilustrações possíveis deste fenómeno.

“A nossa depressão”: experiência-reflexões de e sobre a saúde mental | Sílvia Roque, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra     
Esta apresentação parte da vivência de uma depressão, ao longo da qual, fui percebendo como as representações da depressão, e de outras doenças mentais, na sociedade, como junto de muitos profissionais, continuam centradas em questões individuais e fundamentalmente químicas ou biológicas. Esta experiência levou-me a construir um percurso autodidata – não especializado - sobre temas relacionados com saúde mental, psiquiatria e psicologia, alguns dos quais fui divulgando através de uma página numa rede social, procurando reflectir sobre algumas das questões em torno das quais organizarei a minha apresentação: 1) Quem é objeto e sujeito de conhecimento sobre a doença mental? Que participação têm e que legitimidade é dada às e aos doentes na construção dos seus próprios percursos de cura? 2) Por que razões é possível que, no domínio da psicologia e psiquiatria, se continuem a ignorar como as estruturas do mundo (capitalismo, patriarcado/sexismo, racismo, por exemplo) produzem doenças mentais? 3) Quais as estratégias a desenvolver para encarar a saúde mental como produção coletiva e, portanto, também exigindo um esforço coletivo para a transformação das representações e das práticas em torno da saúde mental.


Esta SHARP Talk realiza-se em colaboração com "Ouvir Vozes", um projeto da Marionet em parceria com o Movimento Ouvir Vozes Portugal, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e a Rádio Aurora, do Hospital Júlio de Matos, no âmbito do Programa Arte e Saúde Mental, da Direção-Geral das Artes.

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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis
https://us02web.zoom.us/j/89191776228
ID da reunião: 891 9177 6228

Agradecemos que todos/as os/as participantes mantenham o microfone silenciado até ao momento do debate. O anfitrião da sessão reserva-se o direito de expulsão do/a participante que não respeite as normas da sala.

As atividades abertas dinamizadas em formato digital, como esta, não conferem declaração de participação uma vez que tal documento apenas será facultado em eventos que prevejam registo prévio e acesso controlado.