CONVERSA + DEBATE | SHARP TALKS

Como se nasce e quem faz nascer: corpo parturiente, violência obstétrica e direitos humanos

Catarina Barata

Monalisa Nascimento dos Santos Barros

10 de fevereiro de 2021, 15h00 (GMT)

Evento em formato digital

Resumo

Esta Sharp Talk irá dedicar-se a pensar a violência obstétrica como um termo que reúne experiências de maus-tratos e abusos na assistência obstétrica e convoca a refletir sobre a medicalização do corpo parturiente e institucionalização do parto, a necessidade de retomar o protagonismo dos casais nas discussões da saúde materna e reprodutiva. A sessão também contará com a presença do movimento Nascer em Coimbra, criado na cidade por um grupo de pessoas focadas na promoção da humanização do parto e da informação no âmbito dos direitos sexuais e reprodutivos que, entre outras atividades, começou a organizar rodas de conversa sobre os nascimentos durante a pandemia. 

A sessão será dinamizada por Catarina Barata e Monalisa Nascimento dos Santos Barros.


“Não seja piegas!” Perspetivas, discursos e representações acerca de experiências de violência obstétrica, por Catarina Barata (ICS-UL)

A violência obstétrica é um termo cunhado por ativistas latino-americanas no início do séc. XXI para denominar os maus-tratos e abusos no contexto da assistência obstétrica. Reveste-se de variadas formas, desde maus-tratos verbais e físicos declarados a grávidas, parturientes e puérperas a formas de coerção e violência simbólica menos óbvias. Em causa, está a integridade da mulher nas várias dimensões que a constituem.
Na última década, a VO tem sido enquadrada enquanto questão de direitos humanos, consequência da medicalização do parto e manifestação de violência estrutural de género. A restrição de direitos individuais como resposta à pandemia por COVID-19 veio apenas exacerbar e tornar mais visíveis os abusos no meio da assistência obstétrica já comuns antes da pandemia.
No mundo do ativismo pelos direitos reprodutivos das mulheres, tem sido advogada a necessidade da mudança de paradigma no contexto da assistência obstétrica, com o reconhecimento da agência da mulher no seu próprio parto, o seu direito à autodeterminação e a revisão de práticas médicas não baseadas em evidência científica.
Nesta sessão será apresentada uma reflexão sobre os primeiros resultados de uma investigação etnográfica sobre perspetivas, discursos e representações acerca da violência obstétrica em Portugal, focando as ligações do ativismo português com o contexto internacional e as ferramentas artísticas como forma de expressão e comunicação.


Nascer em Coimbra, por Monalisa Nascimento dos Santos Barros (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

O movimento Nascer em Coimbra pretende devolver às mulheres e aos casais o seu protagonismo nas discussões da saúde materna e reprodutiva, incluindo na atual discussão acerca da nova maternidade a ser construída em Coimbra. Nesse sentido, pretende criar uma posição feminista ancorada nas boas práticas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde em relação ao acompanhamento de gravidezes e partos.

Nesta intervenção será abordado o surgimento da obstetrícia como campo de saber e a disputa de campo com as parteiras tradicionais; a exclusão do tema da maternidade por parte dos movimentos feministas; a grande medicalização do corpo ocorrida com a institucionalização dos partos; a expropriação do corpo devido a esse processo de medicalização; e a cumplicidade dos movimentos feministas nessa expropriação. Além disso, será abordada a discussão em torno da construção da nova maternidade de Coimbra, que se tem centrado mais na localização e menos no desejável funcionamento dessa nova estrutura.



Notas biográficas

Catarina Barata - Doutoranda em Antropologia no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), com uma pesquisa sobre perspetivas, discursos e representações acerca de experiências de violência obstétrica. É membro efetivo da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP).

Monalisa Nascimento dos Santos Barros - Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, Brasil (1987), mestrado em Master In Apllied Population Research - University of Exeter, Inglaterra (1997) e doutorado em Psicologia - Estudos da Subjetividade pela Universidade Federal Fluminense, rio de janeiro, Brasil (2015). É professora adjunta da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, atuando nos cursos de medicina e de psicologia, atualmente está desenvolvendo um pós-doutoramento sobre saúde mental perinatal no Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Tem experiência na área da Humanização do Parto e Nascimento. Membro da equipe Brasil GentleBirth.
 

Imagem destacada: © Catarina Barata

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Esta atividade realiza-se através da plataforma Zoom, sem inscrição obrigatória. No entanto, está limitada ao número de vagas disponíveis.
https://us02web.zoom.us/j/88907027603

Agradecemos que todos/as os/as participantes mantenham o microfone silenciado até ao momento do debate. O anfitrião da sessão reserva-se o direito de expulsão do/a participante que não respeite as normas da sala.

As atividades abertas dinamizadas em formato digital, como esta, não conferem declaração de participação uma vez que tal documento apenas será facultado em eventos que prevejam registo prévio e acesso controlado.