Aula Magistral

É possível descolonizar o marxismo? Capitalismo, colonialismo e patriarcado

Boaventura de Sousa Santos (CES)

1 de abril de 2016, 15h00

Auditório, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Evento de entrada livre (até ao limite dos lugares disponíveis).

TRANSMISSÃO VÍDEO EM DIRETO NESTA PÁGINA

No final da aula será projetado o documentário " A Causa e a Sombra" de Tiago Afonso, sobre Alípio de Freitas. Antes da projeção haverá um pequena introdução ao filme, seguida de mesa de comentários com a participação de Alípio de Freitas e de Tiago Afonso


Sinopse do filme: Para lá da personagem que lutou, o filme é um espaço de encontro e diálogo com a pessoa de Alípio que continua ainda hoje a combater, porventura usando ferramentas diferentes, mas movido pela mesma perseverança.Em Portugal era padre, no Brasil foi revolucionário. Alípio de Freitas mudou-se de Bragança para São Luís do Maranhão em 1957. Deixou a pobreza para viver no meio da miséria. O golpe militar de 1964, que depôs João Goulart, afastou o padre português da igreja e aproximou-o dos comunistas. Zeca Afonso dedicou-lhe uma canção, depois de ele ter sido preso e torturado em 1970. O realizador Tiago Afonso ouviu as suas memórias e os seus ideais. Alípio continua a combater, mas agora usa outras armas.

Ficha Técnica
Título Original: A Causa e a Sombra
Intérpretes: Alípio de Freitas, Antonio Othon Pires, Cesar Augusto Castiglione, Marcelo Mário de Melo, William da Silva Lima, Lays Machado, Maio Afonso, Hélio Silva, Zé Pimenta
Realização: Tiago Afonso
Produção: Bando à Parte (Rodrigo Areias, Mónica Botelho)
Autoria: Tiago Afonso
Ano: 2015
Duração: 95 minutos
 

Notas biográficas

Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, a 15 de Novembro de 1940. É Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973), Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison.

É Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça.

Temas de pesquisa: Epistemologia, sociologia do direito, teoria pós-colonial, democracia, interculturalidade, globalização, movimentos sociais, direitos humanos.

Os seus livros têm sido publicados em português, inglês, italiano, espanhol, alemão, francês e chinês.


Alípio de Freitas
‘Perdi um pequeno púlpito mas ganhei todas as praças!’ disse Alípio de Freitas em Agosto de 1962, lá no interior do Maranhão no Brasil quando lutas adentro e de corpo inteiro despiu para sempre a sua batina de padre católico. Daí em frente, com uma sacola com um livro e uma muda de roupa percorreria tanto as praças, como as avenidas e becos do país, que adoptou como seu, para lutar pela justa medida do seu sonho: um Brasil livre da ditadura e das tremendas desigualdades e injustiças. Padre Alípio, regista o folheto distribuído na altura, deixa de ser mestre para se tornar aluno do povo’! E uma etapa nova da vida deste homem começa nas Ligas Camponesas, de que é um dos fundadores, e no combate concreto e diário contra a ditadura brasileira.

Nascido em Vinhais em Trás-os-Montes em 17 de Fevereiro de 1929, Alípio de Freitas sempre gostou muito de três coisas: ler, conversar e rodear-se de gente porque a humanidade é a sua própria razão humana. Ordenou-se padre mas as suas inquietações e irreverências levam-no, no ano de 1957 para o nordeste brasileiro, um pouco como castigo, um pouco como exílio. Lá não se esgota em relíquias e liturgias e depressa volta àquilo que é o mesmo de si: o homem que não aceita as maldades do mundo sem resistir e sem lutar. O combate teria que ser travado sem descanso e sem a misericórdia condescendente de vazias orações.

Entra na clandestinidade depois do golpe de 1964 e não para senão para abastecer a sua sacola de um outro livro e de uma muda de roupa lavada. O seu objetivo é organizar a luta armada, sobretudo dos camponeses, contra a ditadura. É preso pela polícia política brasileira em Maio de 1970 no Rio de Janeiro. Preso e torturado Alípio repetia para si mesmo e para os seus companheiros duas ideias que nunca o largaram: resistir é preciso e ao inimigo não se teme nem se lhe dá informações. Tornado apátrida pelos regimes ditatoriais de Portugal e Brasil sabe que a revolução dos cravos aconteceu mas sabe também que a sua libertação ainda tardará. Em 1979 sai da prisão sem meios de trabalho e subsistência mas sabe que em Portugal tem amigos como Zeca Afonso que o tornou conhecido com a canção que começa assim: “Baía da Guanabara, Santa Cruz na fortaleza, Está preso Alípio de Freitas Homem de grande firmeza”, e volta à Europa mas por pouco tempo. De Portugal segue para Moçambique onde trabalhou em cooperativas de camponeses no sul do país participando nessa utopia realizada da libertação colonial e da independência. Alguns anos depois torna-se jornalista da RTP e vai viver para as periferias de Lisboa, na margem sul. Escolhe ir viver para o Alvito no Alentejo profundo onde se envolve em lutas locais, trabalha em cooperativas e associações e onde a sua casa permanece aberta para todas e todos que nela queiram entrar por bem.

Na casa de Alípio de Freitas, na rua de Beja, um cartaz com a figura de Che Guevara permanece como o frontispício da beleza de uma vida de lutas e muitos afetos profundos:- Hay que endurecerse sin perder la ternura jamás!


Tiago Afonso
Licenciou-se em Cine-Vídeo na ESAP, fez a formação dos ateliers Varan no Programa Criatividade e Criação Artística da Fundação Gulbenkian, acompanhou o Seminário de Jean Rouch "Anthropologie et Cinéma" na Cinemateca Francesa e concluiu o mestrado em cinema documental da ESMAE-IPP. É actualmente doutorando em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, sob orientação de Luís Quintais e Eduarda Neves.

Tem como atividade principal a realização de filmes de pendor documental, tendo realizado filmes de intervenção e reflexão política, mas também obras de cariz autobiográfico e experimental. Realizou ainda vários trabalhos de instalação-vídeo. Trabalha também como técnico (câmara, som, montagem) para filmes de outros realizadores - Rodrigo Areias, Regina Guimarães, Ricardo Leite, Catarina Alves Costa, Saguenail, André Gil Mata, Paulo Abreu, Amarante Abramovici…
Leciona na Licenciatura de Comunicação Audiovisual e Multimédia da Universidade Lusófona do Porto, além de orientar formações intensivas nas áreas de introdução à linguagem cinematográfica e cinema-direto (documentário).

Colabora ainda regularmente com companhias de teatro. Como programador, além de vários ciclos temáticos de cinema, co-programou o 5º Panorama do Documentário Português, integrou a equipa de programação do Sabor do Cinema, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, e colabora actualmente na programação do festival Doclisboa.