Sessão cinematográfica e debate

“48” de Susana Sousa Dias

19 de junho de 2012, 21h30

Bar do Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra

Comentários:  Paula Meneses  e Miguel Cardina

Documentário [2010 | 93'. Falado em português]

Sinopse
São rostos. E vozes. Apenas isso. Minimalista. Em "48" [2010 | 93'] Susana Sousa Dias leva-nos a olhar para as fotografias de presos dos arquivos da Pide e a ouvir as memórias que essas fotografias despertam neles tantos anos depois. São 16 imagens para contar 48 anos de fascismo - tudo fala da sociedade, os rostos, as roupas, a forma de estar. Não estão identificados por nomes nem idades porque valem por todos os presos políticos da ditadura. "Todas as fotografias têm uma história por detrás. O que me interessava era perceber o que a foto nos está a mostrar e o que nos está a esconder". Um rosto de mulher com um sorriso aberto em pleno arquivo da Pide, por exemplo, o que é que nos diz? É a própria que, em voz off, nos explica como aquela imagem, aquele riso inconsciente no meio de um lugar de sofrimento, a perseguiu toda a vida. E o rosto daquele homem de cabelo claro? Por detrás dessa imagem estão já dias da tortura do sono - mas isso só ele próprio nos pode dizer. E aquela mulher que nos olha fixamente até a imagem se tornar quase abstracta, como uma pintura, e depois desaparecer no negro, apesar de os olhos parecerem continuar lá? "Há momentos em que olhamos para eles, outros em que eles olham para nós e outros em que olhamos para eles através do olhar deles". "O filme procura estender aquele momento, uma fracção de segundo, em que eles enfrentam o opositor, olhos nos olhos", diz a realizadora. A expressão que têm, esse olhar de desafio, é o último espaço de liberdade que têm. "Nunca lhes daria o gosto de me verem com cara de sofrimento", diz uma das vozes. Susana achou que para contar toda a história das vítimas da Pide tinha que incluir também os africanos presos pela política política, mas como os arquivos de África desapareceram não há imagens. Por isso são planos negros, apenas com vozes, e os espectadores presos a essas vozes que falam de tortura e de sofrimento.




 

Coorganização: Instituto Cultural Romeno em Lisboa (ICR), Centro de Estudos Sociais da UC (Iolanda Vasile e Mihaela Mihai - Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito | DECIDe) e Fundação Mário Soares