Gender workshop
Feminismo, Relações Internacionais e Segurança
Rita Santos
Sílvia Roque
31 de maio de 2012, 17h00
Sala 2, CES-Coimbra
Resumo
Ao contrário do que sucedeu com as restantes Ciências Sociais, as abordagens feministas chegaram tardiamente ao terreno das Relações Internacionais (anos 80 do século XX), desafiando o seu corpo teórico tradicional e assumindo-se enquanto proponentes de um discurso crítico da agenda da disciplina em termos conceptuais, metodológicos e empíricos.
As perspectivas feministas questionaram a pertinência da corrente realista - ainda dominante, apesar das cada vez mais numerosas críticas e até autocríticas - que postula que a disciplina se deve centrar na análise das relações de poder que têm lugar entre os Estados (o nacional é visto como equivalente do Estado), argumentando que os indivíduos (homens e mulheres) constituem parte das relações internacionais e, por extensão, da segurança internacional. Em traços gerais, estas perspectivas convergem na afirmação das relações internacionais enquanto produto e produtoras de outro tipo de relações: as relações de poder com base no género. Para as feministas das Relações Internacionais (RI), as concepções vigentes de segurança e paz, herdeiras da influência da corrente realista, ao estipular como medida da RI e da segurança internacional a maximização do poder militar e económico, funcionam como construções masculinas e veículos de perpetuação de inseguranças, não pressupondo a eliminação de violência ou de insegurança ao nível interpessoal, mas sim, muitas vezes, a sua exacerbação.
O reconhecimento do quotidiano enquanto tema político e objeto das RI é, aliás, uma das prioridades de alguns dos textos fundadores do Feminismo das RI, onde se articula a principal teoria feminista neste campo: o pessoal é político e internacional (Enloe, 1983). Este é, de resto, o mote comum às análises feministas das RI, que procuram estudar as conexões entre a esfera (inter)pessoal, com destaque para as manifestações sociais do patriarcado, e o domínio internacional (como, por exemplo, processos de negociação internacional; funcionamento de instituições internacionais, guerras e crises humanitárias; etc.).
O objetivo desta sessão é, pois, discutir os principais contributos das abordagens feministas no campo das Relações Internacionais, com particular destaque para os entendimentos de violência e (in)segurança (fontes e mecanismos de perpetuação) e guerra e paz, tendo como ponto de partida os textos de apoio.
Notas biográficas
Sílvia Roque é investigadora do Centro de Estudos Sociais e membro de Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz e do Observatório sobre Género e Violência Armada (OGiVA). É doutoranda do Programa de Doutoramento em Política Internacional e Resolução de Conflitos, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Os seus atuais interesses de investigação dizem respeito aos percursos da violência em países que atravessaram períodos de guerra e instabilidade, analisando a tendência para que os contextos de pós-guerra se confundam com os de pré-guerra, através do aprofundamento ou a dispersão de diferentes tipos de violência ao nível social. A análise destes percursos assenta ainda na reflexão sobre os processos que medeiam as continuidades/descontinuidades entre a guerra e a paz: processos de colapso do Estado, de desintegração das sociedades, e políticas e atores internacionais que intervêm no âmbito de um paradigma geral de desenvolvimento/peacebuilding. Os países em que se concentra a maior parte da sua investigação são a Guiné-Bissau e El Salvador.
Rita Santos é investigadora júnior do Centro de Estudos Sociais, onde integra o Núcleo de Estudos Sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP) e o Observatório sobre Género e Violência Armada (OGiVA). Atualmente é doutoranda em Política Internacional e Resolução de Conflitos, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Tem o grau de Mestre em Estudos para a Paz, pela Universidade de Bradford, Reino Unido, e é licenciada em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Os seus atuais interesses de investigação centram-se em questões relacionadas com violência, género e armas ligeiras; movimentos a favor do controlo de armas, sociedade civil global e desmilitarização, sobretudo no Brasil e em Portugal.
Artigos em discussão
• Tickner, J. Ann (1992), “Engendered Insecurities: Feminist Perspectives on International Relations”. In J. A. Tickner, Gender in International Relations Feminist Perspectives on Achieving Global Security. New York: Columbia University Press (capítulo 1)
• Shepherd, Laura J. (2007), “Victims, Perpetrators and Actors” Revisited: Exploring the Potential for a Feminist Reconceptualisation of (International) Security and (Gender) Violence’, British Journal of Politics and International Relations, Vol. 9, 239–256
Organização: Gisele Wolkoff, Júlia Garraio (NHUMEP) e Mihaela Mihai (DECIDe).
Nota: «Gender Workshop Series» é um espaço de discussão. em torno de um ou dois textos sobre género que se realiza uma vez por mês.