Seminário

Relações Étnico-Raciais: experiências brasileiras no contexto da educação

Denise Aparecida Corrêa

Guilherme Lima Cardozo

Luciane Ribeiro Dias Gonçalves

Luiz Gonçalves Junior

Saskya Miranda Lopes

19 de maio de 2016, 09h00

Sala 2, CES-Coimbra

Resumo

Este encontro traz em cena diferentes ações, em tempos-espaços diversos e a partir de diferentes olhares em um diálogo interdisciplinar que se pretende convergir na problematização das relações étnico-raciais no Brasil e da educação como utopia para a humanização, justiça e solidariedade:

Etnomotricidades do Sul na Escola: educando para e nas relações étnico-raciais
Denise Aparecida Corrêa (DEF/UNESP-Bauru, Brasil – CES/UC, Portugal)

O sistema escolarizante fundado nos princípios eurocêntricos de monocultura do saber; de relações hierárquicas de poder; de reprodução das relações opressoras de classe, gênero e raça é, simultaneamente, o espaço-tempo da contraposição a estes postulados. As “Pessoas”, de que é feita, afinal, a Escola, são capazes de humanizarem-se em relações humanizadoras, como assinalou Paulo Freire, considerando que o SER que tem incorporado seus saberes na Motricidade, proposta por Manuel Sérgio, é um SER situado em determinado contexto. Nesta perspectiva, as Etnomotricidades do Sul, em referência e inspiração nas Epistemologias dos Sul, de Boaventura de Sousa Santos, pretende frutificar na Escola o (re)conhecimento de saberes em torno de manifestações lúdicas de povos indígenas, afro-brasileiros e africanos. Neste encontro, dialogaremos sobre ações na Escola, particularmente com crianças do ensino fundamental da Rede Pública, que têm possibilitado educar-educando-nos para e nas relações étnico-raciais.


Educação e primeiros letramentos no Brasil: ensino de línguas e redução cultural indígena
Guilherme Lima Cardozo (CAPES/PUC-RIO, Brasil - CES/UC,Portugal)

Quase cinco décadas após a chegada dos portugueses no Brasil, a Ratio Studiorum – documento oficial jesuítico que versava sobre educação e catequização dos povos – passa a reger os letramentos dos ameríndios nativos. A necessidade de se ensinar a doutrina cristã, aliada à empresa colonizadora, origina a chamada “Língua geral”, ou tupi jesuítico, uma língua construída pelos jesuítas em detrimento da diversidade linguística existente em terras brasílicas. Este des-encontro, em todas as esferas, entre índios e jesuítas, resultará no que nossa pesquisa denomina de paradoxo onomástico, fruto de ressignificações no campo do simbólico, que transformará a concepção sociocultural dos ameríndios à moda das verdades eurocêntricas, precisamente à da Igreja Cristã do Ocidente.


Universidade e relações étnico-raciais: desafios para a formação docente inicial
Luciane Ribeiro Dias Gonçalves (CAPES/UFU, Brasil - CES/UC, Portugal)

Durante vários anos, os(as) educadores (as) foram formados(as) através de uma visão homogeneizadora e linear. A valorização de um currículo monocultural e eurocêntrico, que privilegiou a cultura branca, masculina e cristã, menosprezando na sua composição curricular e nas atividades do cotidiano escolar as demais culturas. Questões relacionadas com as diferenças e seu tratamento no cotidiano escolar são objetivos prioritários para a formação profissional do(a) educador (a) em tempos em que foi promulgada a Lei 10.639/03. Assim, o que destacamos é a necessidade de que as universidades atentem para formar educadores (as) preparados(as) para lidar com a diversidade em sala de aula, mas acima de tudo, preparados(as) para criticar o currículo e suas práticas. Serão educadores (as) reflexivos(as), que busquem modificar o ambiente escolar a fim de torná-lo menos opressor.


Educação para e nas relações étnico-raciais no projeto de extensão “Vivências em Atividades Diversificadas de Lazer”
Luiz Gonçalves Junior (DEFMH-PPGE/UFSCar, Brasil – CES/UC, Portugal)

O Projeto é realizado desde 1999, tendo sido desenvolvido em distintos espaços da cidade de São Carlos (interior do estado de São Paulo, Brasil). Desde 2013, realiza-se a partir de uma parceria entre o DEFMH/UFSCar com a ADESM, com apoio da Fondation Terre des Hommes, Alemanha, sendo desenvolvidas as atividades no Clube de Campo do Sindicato dos Metalúrgicos. O Projeto tem por finalidade contribuir com a educação para e pelo lazer, observando educação para e nas relações étnico-raciais. Os/as participantes do projeto têm idade entre 7 e 17 anos e contam com equipe interdisciplinar de educadores/as. Fundamenta-se nas perspectivas da motricidade humana, de Sérgio; da fenomenologia existencial, de Merleau-Ponty; na pedagogia dialógica, de Freire; na ecologia de saberes, de Santos. Neste Seminário daremos destaque às experiências relacionadas ao que temos denominado etnomotricidade (práticas de jogos, lutas, danças, festas, cantos com características próprias de um povo/comunidade, desenvolvidas com intencionalidade relacionada a processos educativos de tradição e resistência de tais manifestações).


A transversalidade da educação em direitos humanos étnico-raciais e de gênero: em defesa das meninas negras do Brasil
Saskya Miranda Lopes (DCJur/UESC, Brasil – CES/UC, Portugal)

O enfrentamento das violências de raça e gênero são bases imprescindíveis para garantir a dignidade humana. Articular igualdade e diferença é uma exigência do nosso tempo, pois as marcas de uma construção de pensamento colonizado, eurocentrado e patriarcalista na sociedade brasileira tem dificultado sobremaneira a desconstrução do machismo, do racismo e a promoção de equidade. Pois a igualdade material só é alcançada quando tratarmos os iguais igualmente e os diferentes diferentemente na medida de suas desigualdades. A crença na educação como uma das poderosas ferramentas da construção de resistência e transformação destas marcas, conduz este trabalho a propor a utilização estratégica do Plano e Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos para tratar as categorias de gênero e étnico raciais como forma de fortalecimento de identidades, respeito à diversidade e proteção contra violências. Destacando ainda as dificuldades políticas e práticas da implementação destas bases no país.



Notas biográficas

Denise Aparecida Corrêa é investigadora de pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC). Graduada em Educação Física (Unicastelo/SP – Brasil), Mestre e Doutora em História Social (PUC/SP - Brasil). É sócia-fundadora, investigadora e atual presidenta da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH); investigadora do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física da Universidade Federal de São Carlos (NEFEF/UFSCar/São Carlos/SP - Brasil). Atualmente é docente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista (DEF/UNESP-Bauru/SP - Brasil).

Guilherme Cardozo é doutorando em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio, onde analisa o (des)encontro entre ameríndios e jesuítas, no Brasil do século XVI, no concernente às práticas onomásticas. Sua pesquisa é financiada pela CAPES, e retoma temas estudados no mestrado – cuja dissertação se debruçou sobre uma proto-teoria apofática nas cartas paulinas – e na graduação – onde apresentou, em sua monografia final, um apanhado sobre a Língua-Geral do Brasil. Atualmente é professor da Escola Superior de Administração Judiciária (ESAJ), órgão do Judiciário Estadual do Rio de Janeiro e finaliza doutorado-sanduíche no CES da Universidade de Coimbra.

Luciane Ribeiro Dias Gonçalves realiza estágio pós-doutoral na Universidade de Coimbra, no Centro de estudos Sociais - CES/UC. É doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2011) - UNICAMP, mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU (2004) e graduada em Matemática pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG (1987), graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG (1997). Atualmente é professora adjunta na Faculdade de Ciências Integradas do Pontal - FACIP / UFU no curso de Pedagogia.

Luiz Gonçalves Junior é Professor do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Investigador Visitante do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC); Coordenador do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF); Sócio-Fundador, Investigador e atual Diretor Científico da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH); Sócio-Fundador da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Estudos do Lazer (ANPEL); Coordenador da Cátedra Joel Martins. Desenvolve investigação nas linhas “Práticas Sociais e Processos Educativos” e “Estudos Socioculturais do Lazer”, e as extensões comunitárias "Projeto de Educação Ambiental e Lazer Consciente (PEDAL-Consciente) e “Vivências em Atividades Diversificadas de Lazer”, atualmente parceiro da "Associação Desportiva, Educacional e Social dos Metalúrgicos de São Carlos" (ADESM), contando com apoio da Fondation Terre des Hommes (Tdh), Alemanha.

Saskya Miranda Lopes Doutoranda em Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas pelo Centro de Estudos Sociais (CES - Universidade de Coimbra), Mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), graduada em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Professora Assistente do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, atua como pesquisadora e líder do Grupo Redireito: revisando direitos em gênero, étnico/raciais, geracionais e sustentabilidade. Atua em projetos de extensão como: Coordenadora do Laikos: enfrentando a intolerância religiosa e promovendo a igualdade racial e como Vice-Coordenadora do SER-Mulher, serviço de referência dos direitos da mulher, além de ministrar curso sobre Direitos Humanos e Cidadania na terceira idade para a Universidade Aberta à Terceira Idade UNATI/UESC e é advogada.