Gender workshop

Encerramento do Gender Workshop Series VI

Maria Irene Ramalho

Vera Mahsati

16 de junho de 2016

CES-Coimbra (sala 1) e Aqui Base Tango | Coimbra

Programa
 

15h00 | Diferença e hierarquia revisitadas pelo feminismo > Maria Irene Ramalho [CES-Coimbra, sala 1]

Resumo

Com base na obra da classicista Page duBois, a qual eloquentemente explica o aparecimento, na Grécia antiga, da hierarquia e daquilo que ainda hoje é entendido como a grande cadeia do ser (scala naturae: homem, mulher, escravo, bárbaro, animal), este ensaio debruça-se sobre as velhas conotações negativas do conceito de diferença na cultura ocidental, pondera a reinvenção da diferença como “positiva” por Rosi Braidotti (na peugada de Deleuze & Guattari) e reconsidera os esforços de várias filósofas feministas (e.g. Luce Irigaray, Judith Butler, Gayatri Spivak, Drucilla Cornell) para negar a impossibilidade lacaniana de “falar mulheres” independentemente do discurso filosófico dominante (masculino). Ou, parafraseando Marie Cardinal, os esforços destas feministas contemporâneas para encontrar “les mots pour le dire”.

Sugestão de leitura:
Ramalho, Maria Irene (2013), "Difference and Hierarchy Revisited by Feminism", Anglo Saxonica, III (6): 23-45.
 

Nota biográfica

Maria Irene Ramalho é professora catedrática jubilada da Secção de Estudos Anglo-Americanos do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde foi coordenadora científica dos programas de doutoramento em Estudos Americanos e em Estudos Feministas até Setembro de 2012. Desde 1999, é International Affiliate do Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Wisconsin-Madison, onde lecciona regularmente como professora visitante. Tem publicado extensamente, em Português e em Inglês, sobre temas de literatura e cultura de expressão inglesa (com especial incidência na poesia dos Estados Unidos), estudos americanos, literatura comparada, teoria poética, estudos culturais e estudos feministas. Entre as suas actuais áreas de maior interesse, destacam-se os estudos sobre o Modernismo e a Modernidade, estudos comparados sobre poesia, poética e filosofia, teorias dos estudos americanos e teorias do feminismo.Faz parte do conselho editorial de várias revistas de literatura e cultura.



17h00 | Dança Oriental, feminismo(s) e ‘o feminino’ > Vera Mahsati [CES-Coimbra, sala 1]

Resumo

A Dança Oriental (DO) surgiu no início do século XX baseada em estilos folclóricos do médio-oriente e do norte de África, com influência de danças da Ásia e do Ocidente. Desenvolveu-se sobretudo no Egito, Líbano e Turquia. Esta dança híbrida, adaptada às preferências ocidentais é atualmente praticada em todo o mundo, continuando paralelamente a ser alvo de descrédito e censura. Em contextos árabes e muçulmanos é encarada com ambivalência: entendida como parte das tradições locais, sendo aceitável enquanto forma de entretenimento entre mulheres e feita em privado; ou vista como uma prática obscena, à qual apenas grupos marginalizados se dedicam profissionalmente. No Ocidente tende a ser vista como uma forma de objetificação, sendo simultaneamente atraente e repulsiva para o público em geral, e considerada como uma forma de opressão das mulheres por alguns movimentos feministas. Não obstante, a sua popularidade continua a crescer e quem pratica refere-a como uma forma de autoafirmação, que inclui legitimidade para conhecer e experienciar o seu corpo como agente erótico, sexual e artístico. Representações da bailarina de DO como objeto passivo, que se limita a agradar ao olhar masculino, parecem ignorar a possibilidade transgressora de uma atividade que permite ativamente a mulheres ocupar publicamente um espaço de afirmação e visibilidade, em rutura com as expectativas e convenções sociais que visam definir, limitar e controlar o corpo e a sexualidade feminina. Não reconhecem também que a DO pode ser praticada por mulheres, homens e pessoas trans* em diversos contextos culturais, e que através dela se podem exprimir várias noções e estéticas de ‘feminino’ e ‘masculino’. A partir da experiência pessoal da palestrante como bailarina e professora de DO e do corpo teórico e empírico crescente sobre a temática, propõe-se uma discussão sobre o potencial feminista desta forma de arte e uma reflexão sobre as expectativas sociais relativamente ao tipo de expressão corporal adequado aos géneros feminino e masculino no espaço público. A sessão irá incluir também um breve workshop de Introdução à Dança Oriental, que dará oportunidade aos participantes de aprenderem alguns dos movimentos básicos que caracterizam este tipo de dança.

Sugestões de leitura

Banasiak, K. (2014). Dancing the East in the West: orientalism, feminism, and belly dance. Critical Race and Whiteness Studies, 10 (1), 1-14.

Keft-Kennedy, V. (2005). How does she do that? Belly Dancing and the horror of a flexible woman. Women’s Studies: An Interdisciplinary Journal, 34 (3-4), 279-300.

[Para ter acesso aos artigos em discussão deverá enviar um e-mail para gw@ces.uc.pt]

 

Nota biográfica

Vera Mahsati descobriu a Dança Oriental em 2006 e nunca mais parou de praticar esta forma de arte. Com um Doutoramento em Psicologia e experiência profissional na área da formação e da investigação (FPUL e IFILNOVA,FCSH-UNL), trabalha atualmente como bailarina e professora de Dança Oriental. Estudou Dança Oriental na tradição egipcia e fusões contemporâneas da Dança Oriental (Tribal Fusion Bellydance), continuando todos os anos a fazer formação com professores nacionais e internacionais. A sua necessidade de abrir horizontes artísticos e técnicos conduziu-a ao estudo de outras disciplinas como o Gypsy Duende, o Authentic Solo Jazz e a Dança Clássica. No seu trabalho como bailarina procura inspiração em diversos universos musicais, explorando actualmente uma aproximação entre a linguagem expressiva e técnica da Dança Oriental/Fusão Tribal e os Blues e o Rock, através do projecto ¡Bellydance Rocks!

http://veramahsati.wix.com/bellydance

https://www.facebook.com/veramahsatibellydance/



22h00 | Hoochie Coochie: Blues n’ Rock Bellydance Fusion > Vera Mahsati [Bar Aqui Base Tango]

Hoochie Coochie celebra a ligação inevitável entre dois universos à margem: os Blues n’ Rock e a Dança Oriental, que apesar da crescente aceitação e reconhecimento, continuam a simbolizar a rejeição das convenções e normas sociais. É um espectáculo de Dança Oriental de Fusão, em que à técnica da Dança Oriental tradicional se juntam vocabulários contemporâneos, como a Fusão Tribal e um toque de Vaudeville/Burlesco, para dar corpo a uma banda sonora diversificada dentro do universo musical dos Blues e do Rock (desde Screamin’ Jay Hawkins a The Kills).

A expressão “Hoochie Coochie” surgiu nos EUA no final do séc. XIX, para designar as danças do médio-oriente e norte de áfrica, vistas pela primeira vez pelo público norte-americano nesse período. Estas danças foram recebidas com ambiguidade pela cultura vitoriana da época, causando simultaneamente atracção e repulsa. Gradualmente, o Hoochie Coochie tornou-se parte essencial dos espectáculos itinerantes de Vaudeville, e foi-se entrelaçando com formas de arte popular marginais, como os Blues. Temas como Hoochie Coochie Man de Muddy Waters ou Little Egypt dos The Coasters são testemunhos desse cruzamento cultural que se iniciou no séc. XIX.


Com a colaboração da não te prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais