Palestra-Debate

György Ligeti / Milan Kundera

António Pinho Vargas

Sérgio Azevedo

24 de abril de 2012, 21h15

Galeria Santa Clara, Coimbra

György Ligeti por António Pinho Vargas
Milan Kundera por Sérgio Azevedo

Moderação: Catarina Martins



György Ligeti (1923-2006) é geralmente considerado um dos compositores mais importantes da segunda metade do século XX. Nascido na Roménia mas de nacionalidade húngara, emigrou para a Áustria em 1956 depois da invasão soviética e instalou-se na Alemanha tendo integrado o grupo dos compositores ligados à chamada Escola de Darmstadt até à sua ruptura com essa direcção musical na década de 1980. A sua enorme estatura de compositor leva alguns a considerá-lo o maior compositor desse período.

 

 


Milan Kundera nasceu em Brno em 1929, na então Checoslováquia. Filho de um ex-aluno do compositor moravo Leoš Janáček (1854-1928), o pianista e musicólogo Ludvik Kundera, o futuro escritor estudará, também ele, piano, e mais tarde cinema, para além de literatura e estética. Desde cedo ligado ao PC checoslovaco, Kundera interromperá os estudos e será mesmo expulso duas vezes do Partido por causa da sua personalidade independente. Estes eventos dar-lhe-ão o material para o primeiro romance, A Brincadeira (1967). A relação de Kundera com o Poder continuou com altos e baixos até que, em 1975, troca o seu país por França, onde reside actualmente, e onde escreve, em francês, todas as suas obras. Em 1984 publicou o seu romance mais conhecido, A Insustentável Leveza do Ser, adaptado ao cinema por Philip Kaufman em 1988. O mundo de Kundera é povoado pela experiência do comunismo checo, mas também pela história da literatura e pela do romance em particular: Kafka, Musil e Broch, entre outros, atravessam o seu universo ensaístico, quase tão importante como o romanesco. Mas são a música e a figura de Janáček que tomam proporções extraordinárias nos seus livros, chegando Kundera ao ponto de neles fazer figurar extensos exemplos musicais e de analisar a complexa “construção musical” dos romances. As figuras de Janáček e Stravinsky, alvos de dois notáveis ensaios, representam outros dois grandes temas de Kundera: o drama do exílio, e o destino cruel dos pequenos países periféricos.

 

Notas biográficas dos palestrantes

António Pinho Vargas. Compositor, músico e ensaísta. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professor de composição na Escola Superior de Música de Lisboa e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, em 1995 e recebeu a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 1998.

Publicou os livros Sobre Música: ensaios, textos e entrevistas (Afrontamento, 2002) Cinco Conferências sobre a História da Música do Século XX (Culturgest, 2008) e a sua tese de doutoramento concluída em 2010 Música e Poder: para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu (Almedina, 2011). Gravou 10 discos de jazz como pianista/compositor. Compôs 4 óperas, 1 oratória, 10 peças para orquestra, 8 obras para ensemble, 18 obras de câmara, 7 obras para solistas e música para 5 filmes. Podem destacar-se as óperas Édipo, Tragédia de Saber (1996) Os Dias Levantados (1998), Outro Fim (2008) os quartetos de cordas Monodia, quasi un Requiem (1993) e Movimentos do subsolo (2008), as obras para orquestra Acting Out (1998), A Impaciência de Mahler (2000), Graffiti [just forms] (2006), Six Portraits of Pain (2005), Um Discurso de Thomas Bernhard (2007) e Onze Cartas (2011). Em 2012 recebeu o Prémio Universidade de Coimbra e o Prémio José Afonso.


Sérgio Azevedo (ESML). Nasceu em Coimbra em 1968. Compositor, professor e ensaísta musical, estudou composição com Fernando Lopes-Graça na Academia de Amadores de Música, e com Constança Capdeville na Escola Superior de Música de Lisboa, onde é professor desde 1993, tendo-se graduado com a mais alta classificação. É autor de uma extensa obra musical, à qual se juntam dois livros  e inúmeros artigos e programas radiofónicos. Está actualmente a terminar o Doutoramento na Universidade do Minho, sob a orientação de Elisa Lessa e Christopher Bochmann. Para além das disciplinas curriculares, lecciona ainda História da Música do Cinema, e é um amante de Literatura e História, particularmente a do século XX.