Seminários Avançados

Globalizações Alternativas e a Reinvenção da Emancipação Social

Março a junho de 2012

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Orador: Boaventura de Sousa Santos
 

Enquadramento

Assombra a Europa e o Norte Global, em geral, um sentimento de exaustão intelectual e política que se traduz numa incapacidade de enfrentar, de modo inovador, os desafios da justiça social, ambiental, intergeracional, cultural e histórica que interpelam o mundo nas primeiras décadas do século XXI. Em contraste, o Sul Global, na sua imensa diversidade assume-se hoje como um vasto campo de inovação económica, social, cultural e política. 

Partiremos do pressuposto de que a globalização não é um fenómeno único e monolítico. O conceito cobre muitos fenómenos diferentes e até contraditórios. Serão identificados quatro principais modos de produção de globalização: localismos globalizados, globalismos localizados, cosmopolitismo e herança comum da humanidade. Os dois primeiros modos são formas hegemónicas de globalização e, enquanto tal, estão na origem de novas formas de regulação social global. Os dois últimos modos são formas de globalização contra-hegemónica e, enquanto tal, apontam para a possibilidade de novas formas de emancipação social.

A possibilidade de distinguir entre globalização hegemónica e contra-hegemónica será, portanto, central nestes  seminários. Na verdade, à medida que entramos num período pós-Consenso de Washington, a globalização neoliberal é confrontada com formas alternativas de globalização de que o melhor exemplo é o Fórum Social Mundial. Por todo o mundo, grupos socialmente excluídos ou vulneráveis e os seus aliados estão a desenvolver alternativas às formas hegemónicas de sociabilidade, dando origem a novas culturas políticas e a novas formas de activismo social e legal. Assim sendo, os processos de exclusão estão-se a deparar com resistências, iniciativas de base, organizações locais, regionais, movimentos populares que procuram contrariar a exclusão social, abrindo espaços para a participação democrática, para a construção de comunidades, para alternativas às formas dominantes de desenvolvimento e de conhecimento, em suma, para a inclusão social.

Estas propostas e iniciativas confrontam cada vez mais a latência colonial. A expansão colonial não se ficou apenas pelos campos económico e político. E muito menos terminou com o fim dos ‘velhos’ impérios coloniais. Por isso importa avaliar no conjunto como é que este 'Sul global' foi e continua a ser marcado por este processo de colonização, de forma a lançar as bases de um novo paradigma científico, onde os diferentes saberes terão lugar, todos eles possivelmente relacionados e legitimados por quem a eles recorre e os consagra como forma de poder. A análise da configuração dos campos de saber é usada para detectar a persistência da 'colonialidade' enquanto forma de poder, recorrendo a uma análise mais rigorosa de algumas áreas de controvérsia, como é o caso das teorias do Estado e do Direito, dos saberes, da constituição de cidadanias, através de conflitos sobre o desenvolvimento, etc. A partir destas iniciativas locais e das suas ligações transnacionais, um novo internacionalismo solidário está a emergir e a emancipação social está a ser reinventada.


Programa

Porquê as Epistemologias do Sul?
9 de março de 2012, 15h00

A Cidadania a partir dos que não são cidadãos
31 de março de 2012, 10h00

Para uma teoria sociojurídica da indignação
17 de abril de 2012, 15h00

Desenvolvimento ou autodeterminação?
18 de maio de 2012 | 15h00

Pode o constitucionalismo ser transformador?
25 de maio de 2012 | 15h00

Direitos Humanos ou Democratizar a democracia?
1 de junho de 2012 | 15h00


 

Organização |  Programa de Doutoramento "Pós-Colonialismos e Cidadania Global", Programa de Doutoramento "Democracia no Século XXI" e Projeto ALICE