Seminário de encerramento do ciclo de debates+cinema "Migrações Clandestinas"

Corpos expostos: deserto, espaços em convulsão e heterotopias da deslocação clandestina

Eugénia Vilela (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

5 de setembro de 2011, 14h30

Sala de seminários, CES-Coimbra

Resumo
Numa cartografia instável, contemporaneamente, figuras intimamente relacionadas com um espaço territorial – refugiados, deslocados, imigrantes – emergem em todo o mundo como a incessante enunciação de uma história dos vencidos (Walter Benjamin). No movimento em deriva no espaço-tempo do deserto, estas figuras traçam – na singularidade dos seus corpos concretos –  heterotopias, espaços absolutamente outros, espaços paradoxalmente separados e articulados a todos os outros espaços. Espaços diferentes que, como afirma Michel Foucault, são a contestação dos espaços nos quais vivemos. No deserto, abre-se uma forma específica de espaços-tempos que indistingue um tempo provisório e um tempo cumulativo de temporalidades; emergem heterotopias que se afiguram como lugares onde, simultaneamente, se está e se não está, onde se é um outro; por vezes, onde se localizam desvios, cruzamentos, clivagens, através de uma ritualização em devir. Esses contra-espaços são atravessados por todos os outros espaços que eles contestam; os espaços reverberam uns nos outros, e, no entanto, há descontinuidades e rupturas, como espaçamentos da vida e da morte. Nos corpos singulares dos migrantes clandestinos que percorrem o deserto do Saara expõe-se a necessidade de pensar a íntima articulação entre a errância, o deserto e a memória desde o interior de um movimento heterotópico onde o pensamento se enraíza no silêncio de um corpo que resiste.

Nota biográfica
Professora no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Doutorada em Filosofia pela Universidade do Porto, Directora do Grupo de Investigação « Estética, Política e Arte » do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. Autora de conferências e publicações no domínio da Filosofia e das Artes, publicou, entre outros textos em obras colectivas, os livros Do Corpo Equívoco (1998) e Silêncio Tangíveis. Corpo, Resistência e Testemunho nos Espaços Contemporâneos de Abandono (2010). O seu trabalho desenvolve-se no espaço de intersecção entre a Estética, a Filosofia Política Contemporânea e a Arte.

 


Ciclo de cinema e debates

Migrações Clandestinas