Resumo

 A partir de pesquisa realizada na periferia de Brasília, entre 2013 e 2016, foi possível refletir sobre as visões de mundo dos agentes policiais acerca de suas práticas e as representações em torno de suas ações voltadas para os (as) jovens. A proposta consistiu em mapear quem são e o que pensam tais atores, colocando luz sobre os elementos sociais e culturais que norteiam essa relação cotidiana. Como num jogo de espelhos, a análise das narrativas dos distintos interlocutores visou explorar como os (as) jovens veem a polícia e como esta enxerga e classifica aqueles (as) que por ela são controlados (as) e/ou protegidos (as). Entre as várias dimensões exploradas, uma destaca-se como foco desta comunicação: o fato de que os (as) policiais e jovens estavam (quase sempre) no mesmo momento etário.

Além disso, eles possuíam origens étnicas e geográficas muito parecidas e, por vezes, compartilhavam dos mesmos valores identitários quanto a estética visual, gostos musicais e estilos de vida, em geral; entretanto tais possíveis semelhanças não foram (e ainda não são) suficientes para construir relações de reconhecimento mútuo capazes de propiciar na maioria dos “encontros” cotidianos entre jovens e policiais o exercício da alteridade e a garantia de direitos. Dentre as diferentes técnicas de pesquisa qualitativa adotadas ao longo do trabalho de campo, tais como: entrevistas, grupos focais, observação participante em escolas públicas e unidades policiais, uma delas mostrou-se potencialmente frutífera, traduzindo-se em oficinas de discussão onde (jovens) policiais e jovens de diferentes partes da cidade foram convidados a conversar. Uma das experiências resultou em registro audiovisual que se traduziu no documentário de curta duração, intitulado Jovens e Policiais: um diálogo possível? 

Tal experiência - que será compartilhada durante o seminário - reúne fragmentos das narrativas dos atores envolvidos que, de maneira franca e direta, expuseram suas visões sobre a vida nas cidades periféricas que circundam a capital do Brasil. É a partir do que foi dito e não-dito pelos atores que busco problematizar sociologicamente as noções de direito, cidadania, conflito, racismo, diversidade e diferença que emergiram no contexto investigado.

Nota biográfica

Haydé Caruso - Professora e Investigadora/Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília; investigadora Visitante CES/Universidade de Coimbra; investigadora associada do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos – IneAC- UFF)