Notícia

EQUI-X, um programa inovador para prevenir a violência baseada no género

Dezembro de 2019

Vai ser lançado, na sexta-feira, dia 13 de dezembro, em Lisboa, o EQUI-X - um manual de ação que pretende transformar normas rígidas de género, fornecendo novas abordagens para prevenir a violência e promover a igualdade entre jovens de diferentes idades através da discussão de feminilidades e de modelos não violentos e equitativos de masculinidade.

O lançamento terá lugar no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), pelas 17 horas, com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, e de outras individualidades.

Inspirado nos programas H (Homem) e M (Mulher) da organização não-governamental internacional Promundo, este programa resulta de um projeto de investigação que juntou 15 investigadores/as e ativistas de cinco países – Portugal, Alemanha, Bélgica, Croácia e Espanha – e foi financiado com cerca de meio milhão de euros pelo programa “Direitos, igualdades e cidadania” da União Europeia.

Os programas H e M do Promundo, reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como programas de boas práticas, baseiam-se em evidências alicerçadas em abordagens pedagógicas transformadoras de género, que questionam papeis, identidades e normas de género entre meninas e meninos, mulheres e homens de várias idades.

Em Portugal, o projeto foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) e do Promundo Portugal e implementado em três centros educativos (Olivais, em Coimbra; Navarro de Paiva, em Lisboa; Santa Clara, em Vila do Conde) e em três escolas do ensino básico e secundário (Infanta Dona Maria, Coimbra; EB Marquês de Pombal; Escola Secundária de Pombal).

A equipa trabalhou diretamente com 122 jovens de ambos os sexos (63 rapazes e 59 raparigas), com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos. Ao longo dos últimos dois anos, foram realizadas 52 sessões educativas dinâmicas, colocando em prática 34 oficinas (das 39 que constituem o EQUI-X) em torno de seis temas principais: relações de género; masculinidades; masculinidades e media; saúde sexual e reprodutiva, violência e diversidades; paternidade e cuidados. Para avaliar o impacto do programa, isto é, verificar se houve mudanças de atitude com a implementação do EQUI-X, foi aplicado a cada jovem um pré e pós teste.

De uma forma geral, nota Tatiana Moura, coordenadora do estudo português, «todos os jovens que participaram na implementação do EQUI-X mostraram mudanças em termos de atitudes, valores, comportamentos e aprendizagem esperados. O programa conseguiu proporcionar reflexões sobre algumas atitudes e comportamentos em relação às normas de género, às expectativas sociais estereotipadas de género, em relação à igualdade e corresponsabilidade, entre outras, que foram a bússola desta intervenção».

Por exemplo, nas questões de igualdade de género, tanto os meninos como as meninas partilharam atitudes positivas desde o princípio da intervenção em questões objetivas (divisão de tarefas domésticas, decisão sobre ter filhos, uso de preservativos, etc.), melhorando em atitudes subjetivas, não concordando com as seguintes afirmações: um homem precisa ser “duro” (passou de 61,1% para 80,6% nos meninos e de 74,1% para 92,6% nas meninas); meninos que se comportam como meninas são “fracos” (de 63,9% para 83,3% nos meninos e de 88,9% para 100% nas meninas).

Comparando os resultados obtidos nas escolas com os dos centros educativos, verificou-se que, de modo geral, «as atitudes dos jovens nos centros educativos são menos equitativas do que nas escolas em geral e refletem uma desigualdade também no acesso aos direitos e de uma vida sem violência. Sobretudo os meninos nos centros educativos têm atitudes marcadamente menos igualitárias», afirmam os investigadores Rita Santos e Tiago Rolino, embora se tenham observado algumas exceções: «por exemplo, nas questões: para ser um homem, é preciso ser “duro”, que evoluiu de 18,2% para 36,4%; o casal deve decidir junto que tipo de contracetivo usar, passando de 54,5% para 81,8%».

As meninas, pelo contrário, «são mais reflexivas em questões como: ambos os parceiros devem ter responsabilidade para evitar a gravidez (evoluiu de 46,2% para 84,6%), um verdadeiro homem somente tem sexo com mulheres (passando a não concordância de 69,2% para 84,6%) e não é só responsabilidade da mulher evitar a gravidez (de 7,7% para 69,2%)», explicam.

Além do programa de intervenção adaptado à realidade e cultura de cada um dos cinco países participantes no projeto, foi também desenvolvido um manual europeu onde são expostas algumas reflexões pertinentes sobre temas que foram identificados como fundamentais nas práticas de trabalho quotidiano dos parceiros, com o objetivo de alcançar a equidade de género e prevenir a violência nas suas múltiplas formas.

«Pretendemos desconstruir a caixa rígida de masculinidades que contribui para a perpetuação das desigualdades de género», afirma Tatiana Moura. Este projeto chama ainda a atenção «para os desafios das mudanças políticas e das clivagens à direita conservadora e o retrocesso que isso pode significar na agenda da igualdade de género e na implementação de metodologias deste tipo», conclui.

A equipa espera agora que o EQUI-X seja útil como ferramenta de trabalho em escolas e centros educativos do país, bem como em outros contextos de educação não formal.

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Autoria: Cristina Pinto | Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra | Comunicação de Ciência