Declinações plurais da feminilidade. Representações de mulheres subversivas nos romances de Cassandra Rios.

Orientação: Adriana Bebiano e Doris Wieser

Programa de Doutoramento: Estudos Feministas

Financiamento: FCT

O presente trabalho de investigação visa propor uma análise literária de parte da obra de autoria de Cassandra Rios (1932-2002), no quadro dos Estudos de Género, Feministas e Queer. Escritora paulistana cuja obra, duramente censurada durante as décadas da ditadura militar brasileira (1964-1985) e contestada mesmo antes da instauração do regime, está a ser redescoberta, graças a iniciativas de resgate do seu nome autoral no contexto do renovado interesse da academia pela história das mulheres na literatura e pela reconfiguração do cânone, em estreita articulação com os estudos de género, feministas e queer. A pesquisa pretende ainda configurar-se como uma contribuição para a área dos estudos literários brasileiros, em crescimento, na qual se inclui este renovado interesse pelos romances de Rios. O objetivo principal é criar uma perspetiva alternativa, potencialmente inédita na abordagem das temáticas tratadas nos romances selecionados. Nomeadamente, serão exploradas: 1) a construção identitária das mulheres, entendidas enquanto grupo heterogéneo no qual convergem figuras que, cada uma a seu modo, representam modelos alternativos, em termos de sexualidade, de experienciar e reproduzir uma feminilidade fluida, multifacetada, irreverente e transgressora dos padrões patriarcais e das mitologias produzidas à volta de dimensões corporais que confinam as identidades de género ao determinismo biológico; 2) vertentes especificamente LGBT+/queer, como o lesbianismo e a bissexualidade das mulheres, analisados fora da lógica binária que os coloca em oposição entre si e, singularmente, em contraposição com a heterossexualidade, produzindo, dessa forma, repercussões em termos de visibilidade e do direito à existência de ambas, assim desconstruindo a manutenção da estabilidade hegemónica da norma hétero-cisgénero e patriarcal. Fundamentais para o êxito deste projeto serão as teorias fundadoras do feminismo lésbico formuladas por Rich (1980), Wittig (1981), Calhoun (1993; 1994; 1995; 1998) e Nestle (2003), e académicas e académicos que têm produzido, nos últimos anos, reflexões relevantes para o pensamento queer, como as de Butler (1990; 2004), particularmente quando aplicadas aos contextos latino-americanos, entre as quais as de Viteri, Serrano e Vidal-Ortiz (2011) e Rea e Amancio (2018).