Resumo

Continuamos a ler em obras de Sociologia e de História da Idade Contemporânea (já para não referir a imprensa escrita e oral) que as mulheres entraram no mercado laboral durante o século XX ou em finais do XIX e que até então estavam confinadas ao espaço doméstico. Trata-se de um mito que urge erradicar. À exceção das ordens/classes privilegiadas, que eram uma ínfima parte da população, as mulheres portuguesas e europeias que viveram antes do século XX inseriam-se no mundo de trabalho remunerado.
Tanto no campo como na cidade, produziam, transformavam, comercializavam, vendiam serviços. Assim sendo, também não faz sentido afirmar-se, sem mais explicações, que o Estado Novo pugnou pelo "regresso ao lar" das mulheres portuguesas.

Explicar-se-á como é possível investigar o trabalho das mulheres nas sociedades europeias pré-industriais e pré-estatísticas, reconstituição histórica difícil de concretizar e que por isso é ainda uma aproximação passível de grandes desenvolvimentos. Propomo-nos abordar aspetos do trabalho feminino em Coimbra nos séculos XVII, XVIII e inícios do XIX, erigindo esteespaço em estudo de caso. Serão destacadas as artesãs, lojistas, vendedoras de mercado e criadas e ainda o caso de uma mulher de negócios de sucesso, solteira e chefe da sua casa, que enriqueceu dedicando-se ao comércio de retalho, à exploração agrícola nos arredores da cidade e à atividade creditícia.

Nota Biográfica

Maria Antónia Lopes é Doutora e Agregada em História Moderna e Contemporânea pela Universidade de Coimbra, Professora da Faculdade de Letras da mesma Universidade, Investigadora do Centro de História da Sociedade e da Cultura (UC) e Colaboradora do Centro de Estudos de História Religiosa (UCP). A sua área de investigação é a história social de Portugal nos séculos XVIII a XX. Entre as suas publicações, destacam-se os livros Mulheres, espaço e sociabilidade. A transformação dos papéis femininos em Portugal à luz de fontes literárias (2ª metade do século XVIII); Pobreza, assistência e controlo social em Coimbra, 1750-1850; História Breve das Misericórdias Portuguesas, 1498-2000 (co-autoria com Isabel G. Sá); António Ferrer Correia 1912-2003. Uma fotobiografia (co-autoria com Maria João Padez de Castro); Protecção Social em Portugal na Idade Moderna; Rainhas que o Povo Amou: Estefânia de Hohenzollern e Maria Pia de Saboia.

Artigos em discussão:

Guilhermina Mota, "O trabalho feminino e o comércio em Coimbra (séculos XVII-XVIII). Notas para um estudo" em A Mulher na sociedade portuguesa. Actas do Colóquio, vol. I, Coimbra, IHES, 1986, pp. 351-367.

Maria Antónia Lopes, "Sebastiana da Luz, mercadora coimbrã setecentista (elementos para a história de As mulheres e o trabalho)", Revista de História da Sociedade e da Cultura 5, Coimbra, CHSC, 2005, pp. 133-156.


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