Numa época em que parece que a frustração, a melancolia e o desencanto em relação às esperanças universais de transformação social passaram a definir vastamente as subjetividades contemporâneas, a ideia de prefiguração parece ter alentado a ação de diferentes movimentos sociais e iniciativas coletivas, tanto urbanos como rurais.

No último seminário sobre o tema abordou-se a ideia de ‘prefiguração’ desde uma perspetiva histórica de longo alcance, assim como se discutiu a sua preponderância em novos movimentos sociais contemporâneos, que brotaram e se popularizaram durante os últimos anos no seio de um clima social-político tipicamente descrito como de ‘fim da história’ e pós-político.

Este segundo seminário visa continuar esta discussão, mas suportando-se nas múltiplas expressões práticas locais que se apoiaram vigorosamente na ideia de ‘prefiguração’, em Portugal, ao longo das últimas décadas, desde as experiências sociais no PREC às eco aldeias contemporâneas. O nosso objetivo será precisamente examinar e discutir a forma como estas práticas concretas puderam/podem, e em que medida, desafiar o domínio das condições regulatórias nas quais germinaram, incluindo potencialidades e dificuldades. Ao mesmo tempo, propomos examinar a noção de ‘prefiguração’ a partir e em contra da própria perspetiva de temporalidade que o conceito carrega.

Intervenções: Roberto della Santa Barros (UAL/FCSH), João Carlos Louçã (UAL), Mónica Soares (CES)
Comentários/moderação: Jonas Van Vossole (CES)

Atividade no âmbito da Oficina de Ecologia e Sociedade (ECOSOC-CES)


Notas biográficas

Roberto della Santa Barros é investigador científico integrado no Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta de Lisboa. Foi professor auxiliar convidado do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro (DCSPT) e do Mestrado Académico em Políticas Públicas (MAPP) da mesma instituição. É membro efetivo do programa de Pós-Graduação em Estudos Globais do Trabalho Interdisciplinares (FCSH/UNL) e coordenador científico do Observatório para as Condições de Vida e de Trabalho (ocvt.unl.pt). As suas publicações mais recentes são: 'A Brief History of Portugal: The Contemporary Age' (Co-Aut. Raquel Varela), 'Working and Living in the 21st Century' (Co-Org. Duarte Rolo), e 'Global Labour Studies' (Co-Org. Pamela Cabreira). Tem experiência nas áreas de investigação sobre trabalhadores/co-investigação, ciências sociais/política pública, teoria social crítica/metodologia das ciências sociais e estudos sobre trabalho/organização, com ênfase no pensamento social/crítico, ação coletiva/agência histórica, história das ideias/intelectuais, sociologia da cultura/arte, e nas chamadas "questões do modo de vida" ("Byt").

João Carlos Louçã é licenciado em Antropologia (1997) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 2019, completou o seu doutoramento em Antropologia, na mesma faculdade, com a dissertação 'Pensar o Impossível, Transformar a Realidade - A prática da utopia concreta no Porto e nos Pirenéus'. É membro do grupo de trabalho sobre tempo e temporalidades do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) para o biénio 2023-25, assim como da Red(e) Iberoamericana Resistencia y/e Memoria (RIARM) e da Associação Observatório para as Condições de Vida e de Trabalho. É investigador no Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta. Desde 2023, é editor executivo da Workers of the World: International Journal on Strikes and Social Conflicts.

Mónica Soares é mestre em psicologia da justiça (2013) e, atualmente, doutoranda do Centro de Estudos Sociais e no Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra. Desde 2012, tem vindo a participar em diversos projetos de investigação na Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP) e na Universidade do Minho (Escola de Psicologia; CICP). Na FEP-UCP, é professora convidada no Mestrado Integrado em Psicologia e na Pós-graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos. Como investigadora e/ou docente visitante, colaborou com o Instituto de Ciências Sociais e Humanidades (ICSyH-BUAP, Puebla, 2018-2022), com a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de La Plata (La Plata, 2020) e com o Centro de Estudos Comunitários (CEC-UCLV, Santa Cara, 2016-2017). Investiga em torno de temas tais como movimentos sociais; teoria crítica; participação e subjetividade política; criminologia, delinquência juvenil e psicologia da justiça; políticas de justiça; estudos feministas; estudos utópicos.

Jonas Van Vossole é economista marxista, cientista político e sociólogo. Foi investigador da Ghent Association for the Studies of Parties And Participation (GASPAR). Os seus principais temas de investigação são teoria democrática, movimentos sociais, trabalho, marxismo e ecologia política. Atualmente, é investigador da FCT no Centro de Estudos Sociais, cocoordenador do laboratório Ecologia e Sociedade (ECOSOC) e coordenador regional da Associação Portuguesa de Economia Política.